Atualizado 21 de setembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Cientistas investigam o pássaro-indicador-do-mel (Honeyguide), o qual tem uma habilidade incrível: ele consegue guiar tribos africanas até colmeias selvagens, usando um sistema de assobios para “conversar” com as pessoas.
A Pesquisa foi Publicada na Revista Science.

Cientistas há muito tempo se intrigam com essa relação cooperativa incomum entre humanos e um animal selvagem. Esta espécie de ave, a meliácea-grande, não é domesticada e ninguém a treina.
Veremos a seguir as descobertas dessa intrigante interação de co-evolução cultural.
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Comunicação interespecífica culturalmente determinada entre humanos e guias de mel
Um pássaro selvagem africano que costuma levar as pessoas até árvores cheias de favos de mel parece, de alguma forma, aprender os assobios e chamados distintos dos humanos que vivem perto deles.

Na realidade é o próprio pássaro que encontra a colmeia, e decide por si alertar o humanos, por interesses posteriores, em alimento, mas não no mel. Mas nas lavas, cera e os restos da colmeia abertas pelas pessoas da tribo.
1- O pássaro emite sons específicos para chamar a atenção dos caçadores.
2- Os humanos respondem com assobios, mostrando que estão interessados.
3- Então, o Honeyguide voa de árvore em árvore, conduzindo-os até a colmeia cheia de mel.

Os pássaros de cada lugar são mais receptivos aos sons produzidos pela cultura local, de acordo com um novo estudo publicado na revista Science.
Na Tanzânia, por exemplo, os forrageadores hadza podem usar um apito especial para atrair esse pássaro, que então voa para baixo e começa a tagarelar para levá-los até o mel.
Já em Moçambique, os caçadores de mel da comunidade Yao atraem essas aves com um som vibrante seguido de um grunhido baixo, que soa como brrr-humph.
Os pesquisadores descobriram que os pássaros tinham muito mais probabilidade de aparecer e levar uma pessoa ao mel quando ouviam gravações do tipo de chamado feito por seus parceiros humanos habituais, em comparação aos sons feitos por caçadores de mel de um país diferente.
“Este é um resultado muito forte que apoia a ideia de que há um processo de aprendizagem envolvido”, diz Brian Wood, antropólogo da UCLA que realizou este novo trabalho em colaboração com Claire Spottiswoode, da Universidade de Cambridge e da Universidade da Cidade do Cabo.
De acordo com os pesquisadores, os humanos que buscam mel aprendem a se comunicar com essas aves com os mais velhos, e esses humanos dizem que seguem os chamados tradicionais de suas comunidades porque é a maneira de obter mais mel.
Vídeo: A RELAÇÃO FASCINANTE entre a TRIBO YAO e O GRANDE INDICADOR!
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Como os pássaros aprendem ainda não está claro
O que está claro é que essa comunicação entre humanos e animais parece beneficiar ambas as partes, e pode remontar a milhares de anos.
É um exemplo raro de colaboração entre humanos e animais selvagens, com outro exemplo sendo golfinhos e pessoas pescando juntos no Brasil.
Na África, as aves-guia têm muito mais informações sobre o que as abelhas estão fazendo do que os humanos jamais poderiam. As aves agem como olhos no céu, rastreando árvores que escondem colmeias.

Então, quando um forrageador os chamar, um guia-do-mel voará até eles e, cantando alto, guiará o caminho.
“O pássaro é muito chamativo. Sabe, ele voa até os hadzas com seu chilrear”, diz Wood, acrescentando que o pássaro basicamente parece estar dizendo: “Ei, estou aqui e sei onde tem mel, então me siga”.
Assim que o pássaro chega a uma árvore com mel dentro, ele pousa perto da colmeia e fica em silêncio.
“Esse é o sinal para os hadza começarem a procurar de verdade”, diz Wood.
Logo, os forrageadores localizam a colmeia e abrem o tronco da árvore.
Quando o favo de mel sai, os pássaros pegam um pouco da cera de abelha descartada, que eles adoram comer.
E os humanos, que buscam alimentos, obtêm o mel — um alimento extremamente importante para os hadza. Wood calculou que os hadza obtêm cerca de 10% das calorias de sua dieta anual com a ajuda de guias de mel.
“E assim temos essa bela parceria em que os pássaros compartilham seu conhecimento sobre a localização dessas árvores de abelhas, e os caçadores de mel compartilham suas habilidades, bravura e talentos excepcionais para conseguir acessar o mel dentro delas”, diz Wood. “O pássaro realmente fornece uma assistência importante a eles.”
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Ele diz que um relatório sobre a relação entre humanos e guias de mel, publicado décadas atrás, descreveu como o povo Boran, do Quênia, usava conchas ocas para fazer assobios estridentes que atraíam os pássaros.
Mas ele e Spottiswoode perceberam independentemente que as comunidades com as quais trabalhavam na Tanzânia e em Moçambique usavam diferentes tipos de sinais.

“Nós dois pensamos que seria ótimo colaborar em um projeto para investigar se os guias de mel em nossos respectivos locais de campo aprenderam a identificar e responder de forma diferenciada a esses sinais culturalmente variáveis”, diz ele. “Foi incrivelmente divertido fazer essa pesquisa.”
Ele e Spottiswoode usaram equipamentos de gravação para coletar exemplos dos sinais usados pelos caçadores de mel.
No ano seguinte, eles retornaram a cada um dos seus locais de pesquisa com um conjunto padrão de gravações:
Os assobios da Tanzânia, os trinados de Moçambique e também gravações de pessoas apenas dizendo seus nomes, como um som de controle que simplesmente alertaria os pássaros sobre a presença de uma pessoa.
Em cada local, eles realizaram um experimento que envolvia um caçador de mel simplesmente caminhando pela paisagem.
Um pesquisador o seguia de perto, segurando um alto-falante calibrado para transmitir as amostras de áudio em um volume específico (medido em decibéis). Sempre que uma ave-guia-do-mel aparecia, o pesquisador a registrava.
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O que eles descobriram é que os pássaros tinham mais probabilidade de aparecer quando o sinal familiar usado pelos moradores locais estava sendo transmitido.
Na Tanzânia, os indicadores apareceram 82% das vezes em que os apitos hadza foram tocados. Mas os pássaros apareceram apenas 24% das vezes quando os pesquisadores tocaram os tipos de trinados tradicionalmente usados em Moçambique.

Claire Spottiswoode
O oposto ocorreu com as aves que vivem em Moçambique. Elas responderam a trinados 73% das vezes, mas apenas 26% das vezes quando assobios da Tanzânia foram transmitidos.
Isso deixa claro que os pássaros devem ter aprendido o que seus vizinhos humanos fazem quando querem formar parcerias e ir caçar mel.
O fato de que essas aves podem responder a sinais culturalmente específicos é fascinante, diz Steve Nowicki, pesquisador de comunicação de aves na Universidade Duke, que coescreveu um comentário que acompanhou o relatório dos pesquisadores sobre suas descobertas.
Ele ressalta que essas aves vêm de um grupo que não é conhecido por aprendizagem vocal, ao contrário de papagaios ou pássaros canoros.
“É por isso que acho notável que os indicadores estejam percebendo essas diferenças culturais específicas da população”, diz Nowicki.
Os pássaros não podem ter aprendido a fazer isso com seus pais, porque os indicadores depositam seus ovos nos ninhos de outras espécies, que então criam os filhotes.
Mas Wood observa que quando os forrageadores abrem uma árvore e expõem o favo de mel, normalmente mais de um guia-do-mel voa para aproveitar a guloseima.
“Frequentemente, há vários pássaros-guia, até meia dúzia ou mais”, diz Wood.
Isso significa que é possível que os pássaros mais jovens observem como os mais velhos interagem com as pessoas e comecem a copiar esse comportamento.
Se for esse o caso, então as aves-guia aprenderiam sobre esses chamados especiais com seus antepassados, assim como seus parceiros humanos.
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PÁSSARO SELVAGEM ALERTA HUMANOS E OS GUIA ATÉ A COLMEIA
Bibliografia
Revista Science
Culturally determined interspecies communication between humans and honeyguides
Site NPR
Looking for honey? This African bird will answer your call and lead you there.
Wikipédia