Atualizado 29 de agosto de 2025 por Sergio A. Loiola
Brasil avança na corrida espacial com novo foguete, grupo para desenvolver “GPS” nacional e criação da Alada, Empresa de desenvolvimento aeroespacial.
Embora mais lento do que os demais países do Brics no programa Espacial, o Brasil tem dado passos firmes no desenvolvimento aeroespacial. Seja com pesquisa e desenvolvimento, seja com parcerias internacionais.

Aqui veremos três passos recentes decisivos para consolidar o programa espacial:
1 – O desenvolvimento do Veiculo MicroLançador Brasileiro (MLBR).
2- O Desenvolvimento do GPS nacional
3 – A Criação de uma Empresa de Pesquisa e Desenvolvimento AeroEspacial, a Alada.
LEIA MAIS
BRASIL ATRAI R$ 2 TRI EM DATA CENTER E IA COM ENERGIA VERDE
BARCO SOLAR FEITO POR INDÍGENAS É SILENCIOSO E SEM DIESEL
Brasil avança na corrida espacial com novo Veículo Lançador Espacial
Após aprovação em rigorosa revisão técnica, o MicroLançador Brasileiro (MLBR) avança para os testes finais antes do lançamento, previsto para 2026.

O projeto do Microlançador Brasileiro (MLBR) atingiu, nos dias 29 e 30 de maio de 2025, um marco crucial em sua trajetória: a conclusão bem-sucedida da Critical Design Review (CDR), ou Revisão Crítica de Projeto.
Essa etapa representa a validação formal de todo o escopo de engenharia do foguete, autorizando oficialmente o início da construção dos sistemas e dos testes de solo.
A CDR é uma etapa obrigatória em programas espaciais de alta complexidade e segue rigorosos padrões internacionais. Nela, especialistas avaliam se o projeto atende a todos os requisitos técnicos, de segurança e de viabilidade da missão.
O foguete brasileiro terá 12 metros de altura, 1,1 metro de diâmetro e capacidade para transportar até 30 kg de carga útil para órbita baixa.
Movido por três motores de propelente sólido, o lançamento está programado para acontecer em 2026.
Desde a etapa anterior, chamada Preliminary Design Review (PDR), o projeto passou por melhorias, incluindo ajustes que aumentaram sua estabilidade e controle durante o voo, além de um leve aumento na massa, que possibilita mais combustível e, consequentemente, melhor desempenho na colocação em órbita.
Vídeo: O Primeiro Foguete Brasileiro – MLBR
LEIA MAIS
UNICAMP: DRONE COM SAR ENXENGA DETALHE 100 M ABAIXO DA TERRA
MOTOR A AR SUBSTITUI MOTOR DIESEL EM NAVIO COM SUCESSO
Destaques técnicos da revisão do MLBR
Durante a CDR, alguns sistemas superaram as expectativas, como o de telemetria, responsável pela comunicação do foguete com a estação em solo, e o Sistema de Navegação Inercial (SNI).
Ambos já estão em configuração final e prontos para voo, com seus modelos de qualificação construídos e testados com sucesso.

Entre os testes realizados, um dos mais relevantes foi o de vibração no SNI-GNSS, que simulou as intensas cargas mecânicas previstas durante momentos críticos, como a ignição, aceleração máxima e separação de estágios.
As simulações usaram dados reais de missões anteriores, garantindo que os testes refletissem as condições reais de voo.
Outro avanço foi a confirmação da integração do SNI-GNSS com o Computador de Missão (CDM) – o cérebro do foguete.
Esse sistema é o responsável por processar dados dos sensores e tomar decisões em tempo real, garantindo que o veículo mantenha sua trajetória com precisão e segurança ao longo de toda a missão.
A aprovação na CDR não é apenas um marco técnico, mas também um reflexo da maturidade do projeto e da competência das empresas brasileiras envolvidas.
“O MLBR é um divisor de águas para o setor espacial nacional. Estamos desenvolvendo tecnologia de ponta e formando competências que fortalecem toda a indústria aeroespacial do país”, ressalta Ralph Corrêa.
Vídeo: O Foguete Brasileiro – Vamos ao Espaço?
LEIA MAIS
MARITACA: IA CRIADA NA UNICAMP, BRASIL, TEM ALTO DESEMPENHO
NO BRASIL: CRIADA BATERIA 20 VEZES MAIS LEVE, FLEXIVEL E RESISTENTE A TEMPERATURAS EXTREMAS
O que vem pela frente
O próximo grande desafio será a Systems Qualification Review (SQR), onde serão testados e qualificados todos os sistemas principais, incluindo os motores, estruturas, sistemas elétricos e até a plataforma de lançamento.

Na área de propulsão, os testes mais importantes serão os chamados “tiros em banco”, onde os motores são acionados de forma controlada em solo.
Esses ensaios permitem verificar se o empuxo gerado corresponde ao que foi projetado, além de testar a resistência dos componentes ao calor e às forças geradas durante a queima.
Os sistemas eletrônicos embarcados também passarão por testes ambientais extremos, que simulam as condições severas do lançamento e do espaço, como variações bruscas de temperatura, vibração intensa e choques mecânicos.
Também estão previstos ensaios de Compatibilidade Eletromagnética (EMC), fundamentais para garantir que os sistemas eletrônicos do foguete não sofram interferências nem causem falhas durante o voo.
LEIA MAIS
BRASIL PROJETA MICRORREATOR NUCLEAR PARA SUBSTITUIR DIESEL
ENTENDA A TV 3.0: REVOLUCIONÁRIA FUSÃO DA INTERNET COM A TV
Sobre o projeto MLBR
O MLBR é um projeto estratégico para o Brasil, que busca desenvolver veículos lançadores capazes de colocar satélites de pequeno porte em órbita, atendendo tanto a demandas científicas quanto comerciais.

A iniciativa é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Finep, com apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB).
O desenvolvimento é liderado por um consórcio de empresas brasileiras de alta tecnologia, incluindo Cenic Engenharia, ETSYS, Concert Space, Delsis e Plasmahub, além de parcerias com outras companhias especializadas, como Bizu Space, Fibraforte, Almeida’s e Horuseye Tech.
O projeto representa um passo decisivo na busca pela soberania nacional no acesso ao espaço, posicionando o Brasil como um competidor relevante no mercado global de lançamentos de satélites.
Vídeo: Projeto MLBR: Divulgado o Sistema de Navegação Selecionado para Microlançador Brasileiro
LEIA MAIS
USINA SOLAR ESPACIAL DE 22 GW SUPRIRÁ 50 MILHÕES DE CARROS
FORNO DE ENERGIA SOLAR TÉRMICA PARA FORNOS DE FUNDIÇÃO DE AÇO E COZINHAR CIMENTO
Brasil criou grupo para desenvolver “GPS” nacional
Um grupo de especialistas vai estudar a viabilidade de o Brasil desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite, um empreendimento de altíssima complexidade e custo.

Formado por representantes de ministérios, da Aeronáutica, de agências e institutos federais e da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil, o grupo técnico deve diagnosticar as eventuais consequências do país depender de sistemas de posicionamento, navegação e tempo controlados por outras nações.
O Grupo de trabalho tem os propósitos de:
- Elaborar estudos e apresentar ações necessárias para propor uma estratégia de desenvolvimento tecnológico com vistas à implantação de um sistema brasileiro de posição, navegação e tempo (PNT);
- Diagnosticar vulnerabilidades decorrentes da dependência de sistemas estrangeiros;
- Elaborar estudos sobre possíveis rotas e desafios tecnológicos, capacidades laboratoriais e industriais instaladas e necessárias para um sistema próprio;
- Elaborar estudos sobre possíveis opções de fomento para a obtenção de um sistema brasileiro.
Devem participar do grupo quatro ministérios: Ciência e Tecnologia, Defesa, Comunicações e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Vídeo: Brasil Anuncia o “GPS Brasileiro” e Deixa o Mundo de Queixo Caído!
GNSS
Segundo Leonardi, a maioria das pessoas erra ao usar a sigla GPS como sinônimo de GNSS, do inglês Sistema Global de Navegação por Satélite, termo correto para se referir a qualquer conjunto (ou constelação) de satélites usado para fornecer serviços de posicionamento, navegação e temporização global.

“O GPS é o sistema de propriedade dos EUA, mas há outros, globais, como o Glonass [russo]; o Galileo [União Europeia] e o BeiDou [ou BDS], da China.
Estes têm cobertura global e podem ser utilizados, inclusive, no e pelo Brasil. E há também algumas nações que possuem sistemas regionais, como a Índia [NavlC] e o Japão [Qzss]”, apontou Leonardi.
“Com isso em mente, é lógico cogitar que, em tese, os EUA poderiam degradar ou até mesmo restringir o sinal de seu GPS para determinadas regiões, mas esta seria uma medida tão drástica que, a meu ver, só se justificaria se a segurança nacional dos EUA estivesse sendo ameaçada”, ponderou o diretor da AEB.
“Primeiro porque as empresas estadunidenses que operam no Brasil, como aplicativos de transporte e de entrega, seriam afetadas.
Outras nações também seriam prejudicadas, já que não há como limitar o sinal para todo um território sem afetar países fronteiriços. Fora que isso poderia causar acidentes, por exemplo, na aviação civil, custando vidas, inclusive as de norte-americanos.
Para não falar das repercussões comerciais, já que outros países se perguntariam se deveriam continuar confiando no sistema norte-americano ou migrar para outros”, apontou Leonardi.
LEIA MAIS
REFRIGERAÇÃO PASSIVA ENVIA CALOR AO ESPAÇO SEM GASTAR ENERGIA
EVAPORAÇÃO PELA LUZ É MAIS EFICIENTE DO QUE EVAPORAÇÃO POR CALOR
Multiconstelação
Professor da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena o Laboratório de Automação e Robótica (Lara), Geovany Araújo Borges, concorda com a avaliação de que, tecnicamente, os EUA poderiam interromper o sinal do GPS ou mesmo tornar o sistema menos eficaz para uma determinada região, mas não crê que isso venha a ocorrer.

“Se fizessem isso sem aviso prévio, os norte-americanos assumiriam o risco de contrariar seus próprios interesses em território brasileiro”, endossou Borges, acrescentando que boa parte dos sistemas e equipamentos eletrônicos modernos são capazes de receber o sinal de mais de um sistema de geolocalização.
De maneira geral, os sinais enviados pelos satélites que integram os diferentes sistemas em operação são captados por receptores embutidos em veículos, aeronaves, espaçonaves, navios, munições guiadas de precisão, aplicativos e telefones celulares, além de equipamentos de monitoramento de uso industrial, civil e militar.
“A maioria dos aparelhos celulares, por exemplo, já é multiconstelação, ou seja, é capaz de receber, automaticamente, o sinal de diferentes sistemas. De forma que, em termos de localização, nossos celulares seguiriam funcionando normalmente se deixássemos de receber o sinal do GPS.
A mesma lógica vale para muitos outros sistemas [dependente de serviços de posicionamento, navegação e temporização global]: se o sistema de sincronização for redundante, o impacto será limitado”, disse Borges, defendendo a importância de um país dispor de tecnologias próprias neste setor.
Ele lembra que, independentemente das intenções norte-americanas ou de haver alternativas ao GPS, hoje o Brasil depende de outras nações neste que é um campo estratégico.
“Várias áreas perdem com isso. Não só porque um país independente tem que ter um setor de defesa aeroespacial forte, como porque o desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais beneficia outros segmentos, como, por exemplo, a medicina, a indústria e a agropecuária”, comentou o professor, assegurando que o Brasil dispõe de mão de obra qualificada e capacidade de desenvolver, a longo prazo, seu próprio sistema.
“Nosso problema não é RH [recursos humanos]. É dinheiro. Temos pessoal capacitado. A questão é se temos condições de bancar um projeto desta envergadura.
Principalmente porque, qualquer coisa neste sentido que comecemos hoje, demorará a vingar. Até mesmo porque alguns países não aceitarão exportar certos componentes essenciais.
Então, teremos que, paralelamente, desenvolver nossa indústria de microeletrônica, investir mais em educação básica e assegurar que este projeto seja uma política de Estado. Neste sentido, ainda que tardia, é positiva a criação de um grupo de especialistas para debater o tema”, finalizou Borges.
LEIA MAIS
NAVE QUE TRANSPIRA PROMETE SALTO NA REUTILIZAÇÃO EM SÉRIE
INCRÍVEIS ROTAS GRAVITACIONAIS NO SISTEMA SOLAR PODE ACELERAR VIAGENS ESPACIAIS
Conheça a Alada: A nova estatal aeroespacial brasileira de desenvolvimento
Criada pelo governo federal, a Alada é uma empresa focada em pesquisa, desenvolvimento e comercialização de tecnologias aeroespaciais.

A companhia tem o objetivo de promover a indústria nacional e aproveitar a vantagem competitiva do Brasil no setor aeroespacial — ligada a ativos como o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão —, segundo o governo. O país desenvolve um programa espacial desde a primeira metade do século 20. Os investimentos, no entanto, não são considerados suficientes, e os resultados poderiam ser maiores.
Neste texto, o Nexo explica o que é a Alada, como ela se insere no Programa Espacial Brasileiro e quais são as expectativas em torno da nova estatal. Mostra também qual o histórico do programa, quais são seus resultados concretos e quais foram os problemas identificados em suas iniciativas ao longo dos anos.
O que é a Alada?
A Alada foi criada com o objetivo de explorar economicamente a infraestrutura e a navegação aeroespaciais, de acordo com o texto da lei nº 15.083, publicada no Diário Oficial da União no dia 3 de janeiro. A empresa será subsidiária da NAV Brasil, estatal vinculada ao Ministério da Defesa criada em 2020.

Estão previstas entre suas funções:
a) desenvolver e comercializar tecnologias para navegação aérea espacial
b) pesquisar e certificar equipamentos aeroespaciais
c) proteger e gerir a propriedade intelectual de inovações na área
d) apoiar o Comando da Aeronáutica em projetos para melhorar o controle do espaço aéreo
f) gerir e operar redes de satélites
A estatal tentará fortalecer a atuação do Brasil no setor aeroespacial, permitindo que o país participe de maneira mais ativa no mercado global de satélites e lançamentos espaciais, segundo a Agência Senado.
A criação da empresa foi proposta em projeto de lei do Poder Executivo. O texto foi aprovado pelo plenário do Senado em dezembro de 2024, após parecer favorável do senador Esperidião Amin (PP-SC).
A empresa poderá contratar técnicos e funcionários administrativos de forma temporária para garantir seu funcionamento nos primeiros quatro anos de operação, segundo a lei sancionada.
O texto também permite que servidores públicos e militares sejam cedidos para trabalhar na nova empresa. Caso isso aconteça, ela terá que reembolsar os órgãos de origem desses profissionais.
Quando o projeto tramitou no Senado, o senador e ex-ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes (PL-SP) elogiou a criação da empresa.
Ele disse que participou da concepção da estatal como ministro entre 2019 e 2022. Também afirmou que ela será importante para o desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro.
Como ela se insere no Programa Espacial Brasileiro
A Alada é a iniciativa mais recente do Programa Espacial Brasileiro, nome dado ao conjunto de políticas e instituições dedicadas à exploração espacial no país.
O primeiro marco do programa é de 1941, quando o governo de Getúlio Vargas criou o Ministério da Aeronáutica. Outros momentos importantes do setor incluem:
a) a criação do atual Centro Técnico Aeroespacial em 1946
b) o começo do funcionamento do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em 1950
c) a criação da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) em 1969
d) a criação do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em 1971
e) a instituição da Missão Espacial Completa Brasileira em 1979
f) a inauguração do Centro de Lançamento de Alcântara em 1983
g) a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia em 1985
h) a criação da Agência Espacial Brasileira em 1994
LEIA MAIS
DESCOBERTO TERCEIRO CAMPO QUE ENVOLVE A TERRA: O CAMPO ELÉTRICO AMBIPOLAR
PRIMEIRO TRADUTOR DE LIBRAS SIMULTÂNEO COM IA, BRASIL
A política espacial é considerada estratégica para o Brasil
De acordo com informações no site da Agência Espacial Brasileira, o setor espacial, por ser de alta intensidade tecnológica, pode gerar retornos crescentes para a economia.
A tecnologia espacial também é transversal — ou seja, inclui várias atividades, como telecomunicações, meteorologia e vigilância de fronteiras e costas marítimas.
A indústria espacial se desenvolveu no contexto da Guerra Fria (1945-1991), quando diversos países investiram em sua capacidade espacial como parte de suas estratégias de segurança e domínio bélico.
Terminado esse período, novos atores (países e empresas) entraram na corrida e ampliaram-se os usos e aplicações da tecnologia espacial. Hoje, há tanto motivações estratégicas quanto comerciais no desenvolvimento do setor.
A Agência Espacial Brasileira coordena o programa espacial nacional desde 1994. O órgão está ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Hoje, em oposição ao pensamento geopolítico que predominou na Era Vargas (1930-1945) e na ditadura militar (1964-1985), o Programa Espacial Brasileiro adota uma vertente autodeclarada pacífica e neoliberal, como define um artigo publicado em 2021 pela pesquisadora Patrícia de Oliveira Matos na Revista Brasileira de Estudos Estratégicos.
Política de Uso
É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
NOVO LANÇADOR ESPACIAL DO BRASIL, GPS NACIONAL E A ALADA
Bibliografia
Agência Brasil
Governo avalia viabilidade de o Brasil criar seu próprio GPS
Ultimo segundo
Brasil avança na corrida espacial com novo foguete
Nexo
Quais são os planos para a nova estatal aeroespacial brasileira
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2025/01/17/alada-estatal-aeoespacial-o-que-e
Wikipedia
Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil

