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Equipe da Embrapa Florestas (PR) conseguiu clonar uma araucária (Araucaria angustifolia) de cerca de 700 anos que tombou durante um temporal no Paraná em 2023, um feito inédito na pesquisa florestal brasileira.

A árvore, com 42 metros de altura, era considerada a maior do estado da espécie, é um símbolo da paisagem local. O projeto de resgate genético resultou em mudas clonadas que foram plantadas em Cruz Machado, cidade onde a árvore original estava.

A clonagem de uma planta tão antiga apresentou grandes desafios, pois a regenerabilidade de tecidos de árvores idosas é reduzida. No entanto, o pesquisador conseguiu produzir quatro mudas de tronco, preservando o DNA da árvore original.

Antiga Arvore que tinha 700 anos quando tombou. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

Por serem originárias de tecidos adultos, as mudas clonadas irão originar árvores de porte menor mas que começam a produzir pinhão mais cedo do que uma árvore convencional, o que pode beneficiar produtores rurais interessados no uso sustentável da espécie.

O pinhão, além de ser um alimento tradicional, tem valor comercial crescente e pode representar uma fonte de renda adicional para agricultores.

No entanto, Wendling alerta que as mudas ainda são delicadas e requerem cuidados especiais nos primeiros anos de desenvolvimento, incluindo irrigação e controle de competidores naturais.

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Antiga Arvore que tinha 700 anos quando tombou. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

A clonagem difícil de uma planta antiga

A técnica usada para esta clonagem foi a enxertia, que consiste em unir um fragmento da planta original a uma muda jovem.

No caso da araucária clonada, logo que a árvore caiu foram coletados brotos, que foram então enxertados em mudas já estabelecidas, garantindo que o novo indivíduo possua o mesmo material genético da planta original.

Esse processo permite a regeneração da árvore a partir de suas próprias células, mantendo características como resistência e produtividade.

A técnica usada para esta clonagem foi a enxertia, que consiste em unir um fragmento da planta original a uma muda jovem.. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

O enxerto pode ser feito a partir de brotos do tronco ou do galho da árvore, resultando em diferentes formatos de plantas. As mudas de tronco tendem a crescer como árvores convencionais, enquanto as de galho originam as chamadas “mini araucárias”.

Os dois tipos produzem pinhões mais precocemente. Após a enxertia, as mudas passam por um período de crescimento antes do plantio definitivo em campo.

No caso de árvores idosas, a clonagem é mais difícil devido à baixa capacidade de regeneração dos tecidos mais velhos. Com o passar dos anos, as células das plantas, reduzem sua taxa de multiplicação e perdem parte de sua capacidade de originar novos indivíduos.

Vídeo do Canal Embrapa: Araucária Gigante de Cruz Machado – entrevista Ivar Wendling sobre desafio da clonagem

Além disso, árvores muito antigas possuem um sistema hormonal diferente do de plantas jovens, o que pode dificultar o crescimento dos enxertos e reduzir o sucesso da clonagem.

No caso desta araucária, com idade estimada em cerca de 700 anos, o pesquisador da Embrapa precisou realizar experimentos para identificar as condições ideais de cultivo das mudas clonadas.

O sucesso do procedimento representa um avanço na tecnologia florestal, abrindo caminho para a conservação genética de outras árvores centenárias.

Clones plantados em locais simbólicos

O plantio das mudas ocorreu em dois locais distintos. Uma delas foi levada de volta à propriedade rural de Terezinha de Jesus Wrubleski onde a araucária original estava.

O plantio das mudas ocorreu em dois locais distintos. Uma delas foi levada de volta à propriedade rural de Terezinha de Jesus Wrubleski, onde a araucária original estava. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

Segundo ela, a antiga araucária atraía visitantes interessados em sua imponência, e a nova muda representa uma continuação dessa história.

Outra muda foi plantada no Colégio Agrícola de Cruz Machado, em um evento com estudantes, professores e autoridades locais.

Vídeo no Canal Embrapa: Araucária gigante de Cruz Machado – produtora rural

A escolha do colégio agrícola como local para receber a muda reforça a importância da educação na conservação da biodiversidade. Para o diretor da instituição, Anilton César Michels, a presença da araucária servirá como ferramenta didática para os alunos.

o plantio incentivará os alunos a desenvolver o cultivo da araucária em suas propriedades, consorciado com a erva-mate, diversificando a produção e gerando renda para a agricultura familiar.

A escolha do colégio agrícola como local para receber a muda reforça a importância da educação na conservação da biodiversidade. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

Para os estudantes, a oportunidade de acompanhar o crescimento de uma árvore clonada é uma experiência única.

A professora Ana Carolina Majolo reforça que o aprendizado sobre a araucária pode mudar a percepção dos alunos sobre o uso sustentável da floresta.

A técnica de clonagem utilizada pelos cientistas permitiu a produção de mudas a partir de brotos de tronco, garantindo que a nova geração mantenha a genética da árvore original.

Diferente das mudas geradas por sementes, que podem resultar em árvores geneticamente variadas, as mudas clonadas preservam características únicas da planta mãe, como por exemplo o  formato dos pinhões época de produção.

Além do plantio das mudas, os estudantes do colégio agrícola participaram de uma palestra sobre a importância da araucária na biodiversidade e seu potencial econômico para a agricultura familiar.

A espécie, que já cobriu grandes extensões do Sul do País, hoje está ameaçada pela exploração descontrolada realizada no passado.

“Precisamos encontrar formas de preservar a araucária e, ao mesmo tempo, torná-la economicamente viável para os produtores”, ressalta Wendling. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

O prefeito de Cruz Machado, Carlos Novak, reforça o valor simbólico do projeto: “Essa árvore faz parte da história do nosso município. Hoje, aprendemos a conservá-la e a usá-la de forma sustentável”.

O projeto também prevê a doação de uma das mudas clonadas para o Governo do Estado do Paraná e a preservação de outra na coleção genética de araucária da Embrapa Florestas, garantindo a continuidade das pesquisas sobre a espécie.

Araucária de tronco X araucária de galho

“A araucária é uma espécie com uma fisiologia bastante diferenciada: é a única árvore onde é possível separar totalmente o tronco e os galhos. Entender isso nos permitiu aprimorar a técnica de clonagem via enxertia, proporcionando mudas de tronco e de galho”, revela o pesquisador.

Antiga Arvore que tinha 700 anos quando tombou. Foto: Kátia Pichelli, Embrapa Florestas

“Daqui a cerca de quatro anos, quando as árvores estiverem melhor estabelecidas, também poderemos fazer clones destes clones e, assim, replicar este material genético”, explica.

As mudas de araucária produzidas via enxertia podem ser originadas de brotos de tronco ou de galho, resultando em características distintas:

Mudas de galho: dão origem a “mini araucárias”, sem a presença de tronco, que atingem no máximo de 3 a 5 metros de altura e produzem pinhões precocemente. Os pinhões gerados por estas mini araucárias são normais e darão origem a árvores de tamanho normal.

Mudas de tronco: dão origem a árvores de morfologia “normal”, com a presença de tronco e galhos, embora possivelmente não atinjam a mesma altura da árvore original, uma vez que são coletados brotos maduros. A genética da árvore original se mantém.

Qual a idade das células de uma planta clonada?

A idade ontogenética (celular) de uma planta clonada é a mesma da planta original, do ponto onde o enxerto foi coletado, no momento da clonagem.

Ou seja, em termos de DNA e das informações contidas nele, a planta clonada “nasce” com a mesma idade da planta da qual foi retirada a célula ou o tecido para a clonagem.

“Já a idade fisiológica é zero no momento da criação, pois é uma nova planta, em um novo ciclo de vida” explica Wendling.

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A reprodução de matérias é livre mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space

CLONADA ARAUCÁRIA VIGOROSA DE 700 ANOS PARA REFLORESTAR

Bibliografia

Embrapa Floresta

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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Embrapa clona araucária de cerca de 700 anos que tombou durante temporal no Paraná

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