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Atualizado 21 de junho de 2025 por Sergio A. Loiola

O estudo da linhagem Caimaninae, os “Jacarés Gigantes”, indica que a evolução de seu tamanho foi resultado de condições ambientais combinadas no Mioceno.

Cerca de 23 milhões de anos atrás o calor e clima estável ajudaram no surgimento desses gigantes na Amazônia pré-histórica.

O Mioceno corresponde à época geológica que teve início aproximadamente 23 milhões de anos atrás. Estendendo-se por mais de 17 milhões de anos, ela marca uma fase de grande desenvolvimento e diversificação de espécies de animais e plantas.

Estudos de fósseis e projeções climáticas da época do Mioceno indicam a relação entre o ambiente de altas temperaturas e o desenvolvimento evolutivo de grandes crocodilianos.

Algumas espécies conhecidas entre os jacarés gigantes do Mioceno são o Purussaurus brasiliensis (à direita) e o Mourasuchus amazonensis (à esquerda) – Arte: André Martins, Jornal da USP
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“Tem uma variação de tamanho muito grande em caimanines extintos. Possivelmente, as maiores espécies crocodilomorfas estão no grupo, assim como espécies menores. Há espécies bem pequenas, [medindo] alguns centímetros os animais adultos”, explica Pedro Godoy, professor no Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP e coorientador no doutorado de Ana Paiva.

O jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) é uma espécie de caimanine muito comum no sudeste da América do Sul. Recebe esse nome por ter a região abaixo da mandíbula amarelada – Foto: Adriana Araujo Costa/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0

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Distribuição Geográfica e Condições ambientais

Algumas pesquisas já relacionavam o tamanho de jacarés gigantes com fatores ambientais do Mioceno amazônico, mas foi pela análise evolutiva específica de caimanines e a utilização de modelos climáticos concedidos por pesquisadores da Universidade de Bristol que se obteve um maior nível de precisão em comparação a estudos anteriores.

Além disso, o trabalho também investigou a árvore filogenética Caimaninae, de modo a visualizar a evolução de tamanho no grupo como um todo.

Estimativas de tamanho de caimanines extintos e modelagens de variáveis climáticas do passado indicaram que, enquanto jacarés pequenos eram encontrados em diferentes ambientes, animais gigantes ficavam restritos a regiões quentes e de pouca variação sazonal de temperatura.

Distribuição do tamanho corporal (valores transformados em cm) e da temperatura (em °C) de caimanines no Cretáceo Superior ao Eoceno (A e C) e durante o Mioceno (C e D) – Foto: retirada do artigo

Ana Paiva destaca que o surgimento desses répteis coincide com um período de pico de altas temperaturas.

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O clima favoreceu a fisiologia e a base alimentar

Entre alguns fatores que os pesquisadores apontam sobre a influência da temperatura no gigantismo de jacarés do Mioceno está a ectotermia desses seres vivos: a dependência do ambiente externo para a regulação da temperatura corpórea, fazendo com que os jacarés estejam sujeitos, em grande parte, a uma baixa variação sazonal de temperatura para se desenvolverem. 

Purussaurus brasiliensis viveu no norte do Brasil por volta de 5 a 7 milhões de anos atrás. Seu nome científico significa “réptil brasileiro do Rio Purus” por seu primeiro fóssil ter sido encontrado neste rio da Amazônia e em território brasileiro – Imagem: Megaraptor-The-Allo/Wikimedia Commons/CC0 1.0

Porém, Ana Paula Paiva e Pedro Godoy ressaltam as condições ambientais como uma das principais responsáveis pela evolução e manutenção das espécies gigantes.

O clima amazônico formado por altas temperaturas permitia “um ambiente rico, com muitos nutrientes e alimento disponível em abundância para esses animais gigantescos viverem”. Essas condições favoráveis contribuíram não apenas para a evolução dos tamanhos corpóreos, mas também para a diversidade de espécies crocodilianas.

A importância da Pesquisas e a ameaça da degradação ambiental atual

De acordo com Ana Paiva, estudar esses seres do passado pode ajudar a conhecer melhor os jacarés atuais. Godoy complementa a ideia e diz ser importante entender como esse grupo respondeu às mudanças climáticas do Mioceno para compreender as possíveis ameaças atuais ao ambiente em que esses seres vivem.

Vídeo curto sobre o jacaré Açu da Amazônia, jacaré-negro (Melanosuchus niger)

Ambos os pesquisadores comentam que a ação do ser humano é um difícil fator que deve ser colocado em consideração a partir de agora.

Em artigo publicado na revista científica Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, pesquisadores da USP relacionaram as condições climáticas de altas e estáveis temperaturas do passado com o surgimento de jacarés gigantes na região ocidental da Amazônia.

O estudo da linhagem Caimaninae indica que a evolução de seu tamanho foi resultado de condições ambientais combinadas do período.

O artigo surgiu de sua atual pesquisa de doutorado, que busca investigar proporções corpóreas mais abrangentes em diferentes crocodilomorfos. Esse grupo engloba os répteis das três famílias de (jacarés, crocodilos e gaviais) atuais e seus parentes extintos. 

Ana Paiva já havia trabalhado com espécies gigantes de jacarés em seu mestrado, estimando o tamanho desses animais com base em estudos de fósseis cranianos.

A partir disso, veio a ideia de entender como os répteis atingiram tamanhos tão imensos e se fatores ambientais tinham alguma influência no processo evolutivo.

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JACARÉ GIGANTES DE 10 M HABITAVAM A AMAZONIA HÁ 20 MILHOES DE ANOS

Fonte

Jornal USP

Texto: Fernanda Zibordi

Na Amazônia pré-histórica, calor e clima estável ajudaram no surgimento de jacarés gigantes

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