Descoberta genética revelou que neandertais apresentavam um longo isolamento genético e social antes de sua extinção. Grupos vivendo na mesma região apresentavam cerca de 50 ka de isolamento genético em sua linhagem, apesar de viverem em regiões vizinhas. Esses resultados têm implicações importantes para resolver hipóteses sobre as causas do desaparecimento dos neandertais.
Uma nova pesquisa, publicada no periódico Cell Genomics, descobriu que um indivíduo neadertal denominado Thorin pertencia a uma linhagem ou grupo de neandertais que havia sido isolado de outros grupos por cerca de 50.000 anos.
Até agora, os geneticistas pensavam que, na época da extinção, havia uma população neandertal que era geneticamente homogênea, mas o novo estudo revela que pelo menos duas populações estavam presentes na Europa Ocidental naquela época — e elas viviam surpreendentemente próximas umas das outras.
“A população de Thorin passou 50.000 anos sem trocar genes com outras populações de Neandertais”, “Temos, portanto, 50 milênios durante os quais duas populações de neandertais, vivendo a cerca de dez dias de caminhada uma da outra, coexistiram ignorando-se completamente.” Ludovic Slimak, arqueólogo da pesquisa
Slimak disse que a descoberta sugere que as comunidades neandertais eram pequenas e insulares — fatores que podem ser essenciais para entender sua extinção, porque o isolamento é geralmente considerado uma desvantagem evolutiva.

Erosão genética e pouca diversidade social fragiliza uma espécie
Menos variação genética pode dificultar a adaptação a mudanças climáticas ou doenças, enquanto menos interação social entre grupos dificulta o compartilhamento de conhecimento e tecnologia.
“Eles estavam felizes em seu vale e não precisavam se mudar, enquanto o Homo sapiens o tempo todo quer explorar, para ver o que há depois deste rio, depois desta montanha. [Nós temos] esta necessidade, esta necessidade de nos mudar, e esta necessidade de construir uma rede social”, disse Slimak.

Esse padrão de pequenas populações, isoladas cultural e geneticamente umas das outras, provavelmente foi um fator importante por trás da extinção dos neandertais, que ocorreu na mesma época em que o Homo sapiens chegou à Europa, disse ele.
O DNA de fósseis de Homo sapiens daquela época mostra que esses primeiros indivíduos cruzaram com neandertais — traços desses encontros permanecem nas populações humanas atuais. No entanto, nenhuma evidência genética correspondente desse cruzamento foi encontrada em fósseis de neandertais daquela época, incluindo os restos mortais de Thorin, observou o estudo.
Qualquer comportamento que tenha levado a essa falta de mistura genética de um lado, juntamente com populações pequenas e isoladas de neandertais, como a que Slimak e seus colegas identificaram, provavelmente contribuiu para o desaparecimento dos neandertais, disse Chris Stringer, líder de pesquisa em evolução humana no Museu de História Natural de Londres, que não estava envolvido no estudo.
“Quaisquer que sejam as razões para esse desequilíbrio, ele contribuiu para o desaparecimento dos últimos neandertais, uma vez que suas populações já pequenas estavam perdendo indivíduos em idade reprodutiva para outras espécies, sem qualquer reposição em troca”, disse Stringer.
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“Juntamente com a competição econômica dos recém-chegados por recursos, isso poderia ter sido uma receita para o colapso demográfico”, acrescentou ele.
Arqueólogos escavaram mais restos mortais de Thorin: 31 dentes, parte da mandíbula e cinco ossos dos dedos, até agora. O formato dos dentes é típico de um neandertal, mas ele tinha dois molares inferiores extras — uma característica às vezes sugestiva de uma população consanguínea, observou o estudo.

Slimak esteve envolvido na escavação de Grotte Mandrin por mais de três décadas e fez uma série de descobertas emocionantes no abrigo rochoso.
É o único sítio conhecido que foi o lar de grupos alternados, em diferentes épocas, de Homo sapiens e Neandertais, além da evidência mais antiga do uso de arco e flecha fora da África.
A partir deste sítio ficou claro aos arqueólogos que existiam não apenas uma mas pelo menos duas espécies neandertais na Europa. E que essas espécies viviam em pequenos grupos, isolado uma das outras. Contribuindo fortemente para a extinção dos grupos.
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A reprodução de matérias é livre mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
NEANDERTAIS: GRUPOS ISOLADOS CONTRIBUIU PARA A EXTINÇÃO
Cell Genomics
Long genetic and social isolation in Neanderthals before their extinction
CNN
Solução de mistério arqueológico ajuda a explicar extinção dos neandertais