Atualizado 28 de junho de 2025 por Sergio A. Loiola
Emma Watts e colegas de várias universidades descobriram o mecanismo por trás da rachadura da crosta no Quênia: Ondas rítmicas pulsam no manto, parecidas com a pulsar do coração.
A pesquisa foi publicada na Revista Nature Geoscience
Há anos os geólogos sabem que uma fenda está literalmente rachando a África, podendo criar um novo oceano e uma enorme ilha na região de Afar, estendendo-se da Etiópia até Uganda e talvez mais ao sul.

Batizado Vale do Rift, mas também chamado de Grande Vale da Fenda, o local é considerado uma das estruturas geológicas mais impressionantes da Terra.
Existem várias hipóteses acerca das ressurgências do manto que impulsionam o vulcanismo de superfície em larga escala e facilitam a ruptura continental e a formação de bacias oceânicas.
Agora, Emma Watts e colegas podem ter desvendado o principal mecanismo por trás das rachaduras na Africa, em especial no Quênia.

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Pluma do manto quente pulsa para cima como um coração batendo
Os resultados revelam que a região de Afar é sustentada por uma pluma de manto quente, que pulsa para cima como um coração batendo, fazendo rochas derretidas do manto subiram das profundezas da Terra até a superfície.

O fluxo ascendente de material quente do manto profundo é fortemente influenciado pelas placas tectônicas – as enormes placas sólidas da crosta terrestre – que se encontram acima dele.
Ao longo de milhões de anos, à medida que as placas tectônicas se afastam em zonas de fenda – como Afar – elas se esticam e afinam até se romperem, criando uma estrutura geológica conhecida como rifte.
Na África, essa ruptura marca o nascimento de uma nova bacia oceânica, com parte da Etiópia tendendo a tornar-se uma ilha.
“Nós descobrimos que o manto abaixo de Afar não é uniforme nem estacionário – ele pulsa, e esses pulsos carregam assinaturas químicas distintas. Esses pulsos ascendentes do manto parcialmente derretido são canalizados pelas placas em rifte acima.
Isso é importante para a forma como pensamos a interação entre o interior da Terra e sua superfície,” disse Watts.
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Entendendo a pulsação do manto
A região de Afar é um lugar raro na Terra onde três fendas tectônicas convergem:
o Rifte Etíope Principal,
o Rifte do Mar Vermelho
e o Rifte do Golfo de Aden.
Os geólogos suspeitam há tempos que uma ressurgência quente do manto, chamada de pluma, se encontra abaixo da região, ajudando a impulsionar a expansão da crosta e o nascimento de uma futura bacia oceânica.
Mas, até agora, pouco se sabia sobre a estrutura dessa ressurgência, ou como ela se comporta sob as placas em rifte.
Afar, na África Oriental, é uma junção tripla clássica que compreende três fendas em vários estágios de evolução, que se acredita estarem subjacentes a uma ressurgência ou pluma do manto, permitindo o exame dos controles da ressurgência do manto.
A equipe coletou mais de 130 amostras de rochas vulcânicas da região de Afar e do Rifte Etíope Principal.
Eles juntaram essas novas informações aos dados anteriormente coletados e fizeram uma modelagem estatística avançada, mostrando que, sob a região de Afar, há uma pluma única e assimétrica, com faixas químicas distintas que se repetem por todo o sistema de fendas, como códigos de barras geológicos.

5. Observe que as profundidades de características distintas, incluindo o limite litosfera-astenosfera (LAB), não são mostradas em escala. Imagem do artigo
Esses padrões variam em espaçamento dependendo das condições tectônicas em cada braço de cada fenda.
A equipe sugere que Afar é alimentado por uma ressurgência espacial e quimicamente heterogênea, que controla a composição e a abundância relativa de material fundido em todos os três braços do rifte.
“As listras químicas sugerem que a pluma está pulsando, como um batimento cardíaco. Esses pulsos parecem se comportar de forma diferente dependendo da espessura da placa e da velocidade com que ela se separa.
Em fendas de expansão mais rápida, como o Mar Vermelho, os pulsos viajam com mais eficiência e regularidade, como um pulso através de uma artéria estreita,” detalhou o professor Tom Gernon, da Universidade de Southampton.
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Perigos atuais causados pela fenda africana
Injeções rápidas de magma podem empurrar a superfície para cima, quebrar rodovias e abalar cidades com terremotos.
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“Além disso, esses eventos repentinos de grande escala em terra representam um risco muito mais sério para as populações que vivem perto da fenda do que vários eventos menores”, disse Cindy Ebinger, professora de ciências da terra e ambientais na Universidade de Rochester .
Outra ameaça espreita na Depressão de Afar, partes da qual já se encontram abaixo do nível do mar.

Apenas uma crista de 20 metros de altura na Eritreia bloqueia o Mar Vermelho.
Se essa barreira falhar, a água do mar avançará para o interior muito antes que o leito marinho se expanda completamente.
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Laboratório oceânico acima do solo
A região de Afar e a Islândia são os únicos lugares do planeta onde um sistema de dorsal meso-oceânica se ergue acima da água.
“O objetivo deste estudo é descobrir se o que está acontecendo na Etiópia é semelhante ao que está acontecendo no fundo do oceano, onde é quase impossível para nós irmos”, disse Ebinger.

Pesquisadores conseguiram estabelecer essa relação, e a Etiópia se tornou um laboratório único e soberbo de dorsais oceânicas para nós. Graças à colaboração transfronteiriça sem precedentes por trás dessa pesquisa, agora a resposta é sim, é análoga.
Instrumentos agora cobrem o deserto, registrando cada movimento do solo e cada sussurro de magma. Os dados refinarão as previsões para futuras rupturas continentais e ajudarão os geólogos a entender como os oceanos de hoje se abriram.
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Impacto global do Sistema de Rift Africano

As mudanças geológicas ocorrem em um ritmo tão lento que fazem a construção de arranha-céus parecer passageira, mas a soma dos pequenos movimentos anuais se acumula.
Elas causam perigos que podem ser sentidos e vistos durante nossas vidas, ao mesmo tempo em que redesenham mapas.
Raramente é possivel ver processos geológicos em ação, como neste caso.
Da fissura repentina de 2005 à atual deriva constante de uma polegada por ano, o Sistema de Rift Africano oferece um raro lugar na primeira fila para ver a ruptura continental em ação.
Não importa se essa ruptura continental irá parar, acelerar ou continuar inalterada, um fato permanece:
o solo sob a África Oriental está inquieto, e cada ano de observação cuidadosa deixa os cientistas um passo mais perto de explicar como oceanos inteiros nascem.
Política de Uso
É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
PLUMA QUENTE PULSA FEITO CORAÇÃO E RACHA CROSTA NO ÁFRICA
Bibliografia
Nature Geoscience
Mantle upwelling at Afar triple junction shaped by overriding plate dynamics
Autores: Emma J. Watts, Rhiannon Rees, Philip Jonathan, Derek Keir, Rex N. Taylor, Melanie Siegburg, Emma L. Chambers, Carolina Pagli, Matthew J. Cooper, Agnes Michalik, J. Andrew Milton, Thea K. Hincks, Ermias F. Gebru, Atalay Ayele, Bekele Abebe, Thomas M. Gernon
Revista: Nature Geoscience
DOI: 10.1038/s41561-025-01717-0
Crust-mantle decoupling beneath Afar revealed by Rayleigh-wave tomography
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Terra está pulsando sob a África como um coração batendo
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