Três pesquisas distintas revelaram aspectos surpreendentes do rosto de uma mulher, um homem e da estrutura da família Neandertal. O Rosto de uma Mulher neandertal de 40 anos, que viveu há 75 mil anos atrás no atual Curdistão Iraquiano.
O rosto de um homem adulto de 60 anos, que viveu cerca de 50 mil anos atrás, no sudoeste da França. E a terceira pesquisa apresentou evidências da estrutura familiar dos Neandertais através do DNA, achados em uma caverna na Sibéria, Rússia.
Pesquisas recentes tem revelado surpresas acerca dos neandertais. Sabemos agora que na Europa não vivia apenas um a espécie de neandertal apenas, mais duas, ou mais, espécies de neandertais.
Alem disso, esses grupos, apesar de viverem relativamente pertos na mesma região por dezenas de milhares de anos, mantiveram isolados uns dos outros em termos genéticos. Vivendo em pequenos grupos isolados um do outro.
Cada vez mais sofisticadas, as pesquisas tem usado variadas fontes de dados da genética, paleoecologia, arqueologia, paleoclimatologia, neurociência e antropologia em conjunto com recurso computacionais para realizar não somente datações e resgate de cultura material.
As novas pesquisas tentam fazer um “retrato em família” ao resgatar as fisionomia das pessoas desse passado distante, o comportamento social, saberes, habilidades, técnicas, movimentação no terreno, hábitos alimentares e a interação com grupos.
A seguir veremos o retrato em família da reconstituição de um rosto feminino, um rosto masculino e da estrutura familiar de grupos neandertais que viveram em diferentes lugares na Ásia e na Europa.

Reconstrução do rosto de uma mulher neandertal
Uma equipe liderada pela Universidade de Cambridge divulgou o resultado da reconstrução de um rosto de uma mulher neandertal, chamada Shanidar Z, cujo crânio foi descoberto na Caverna Shanidar, no Curdistão Iraquiano, em 2018.
Os arqueólogos e conservadores uniram centenas de fragmentos ósseos para recriar sua face, revelando detalhes sobre essa antiga espécie.
A mulher neandertal tinha cerca de 40 anos quando morreu, viveu há 75 mil anos atrás. Sua idade e sexo foram determinados através de análises dentárias e de proteínas do esmalte dentário.

A reconstrução facial sugere que as diferenças entre os neandertais e os humanos modernos podem não ter sido tão marcantes como se pensava, sugerindo um possível cruzamento entre as espécies.
A descoberta também revela informações sobre as práticas de sepultamento dos neandertais, indicando que eles talvez tenham pensado sobre a morte de maneiras semelhantes aos humanos modernos.
A reconstrução do crânio foi um processo delicado, com mais de 200 fragmentos sendo unidos manualmente pela conservadora-chefe do laboratório de Cambridge. O crânio remontado foi digitalizado em 3D e usado como base para a criação de uma cabeça reconstruída pelos paleoartistas Adrie e Alfons Kennis.
A descoberta foi apresentada no documentário “Os Segredos dos Neandertais”, que estreou globalmente na Netflix. Durante as filmagens do documentário em 2022, a equipe também encontrou restos adicionais de neandertais na mesma área de sepultamento.
Reconstrução do rosto de um homem neandertal
A reconstituição do rosto de um homem neandertal trouxe surpresas similares as características reveladas pela reconstituição do rosto feminino. Diferente do que se imaginava, o rosto masculino também aprestou similaridade com os rostos do homo sapiens.

Apesar da estrutura crânio facial dos neandertais ser significativamente diferentes do sapiens, a feição dos rostos se aproximam dos traços de hominídeos modernos.
Em relação as imagens do rosto, os pesquisadores geraram dois grupos renderização: 1) Um com os elementos mais objetivos, sem pelos e cabelos e em escala de cinza 2) Um artístico, com as imagens coloridas, com pigmentação da pele, pelos e cabelos.
A reconstrução facial realizada foi extensa e detalhada no publicação dos resultados. Os autores relatam os principais cuidados na metodologia e resultados da reconstrução.

A reconstrução facial forense é uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói de forma aproximada a face a partir do seu crânio e é utilizada quando há escassa informação para a identificação de uma pessoa.
O trabalho utilizou abordagens com a reconstrução do crânio na cena 3D, e o acabamento com o detalhamento da face, configuração dos cabelos e geração das imagens.
Um achado extraordinário permitiu a reconstrução facial
Em 3 de agosto de 1908, os irmãos Bouyssonie encontraram os restos de um esqueleto de Neandertal na caverna Chapelle-aux-Saints, no sudoeste da França, em uma cova escavada no substrato de calcário, com 1,45 m de comprimento, 0,85 m de largura e 0,39 m de profundidade (doravante denominada LCS1).
Este era um adulto com mais de 60 anos de idade na morte, do sexo masculino, que viveu aproximadamente 56.000-47.000 anos atrás.
O esqueleto, descrito pelo paleontólogo M. Boule estava quase completo e em bom estado de preservação. Ele estava em decúbito dorsal, com o crânio voltado para o oeste, o membro superior direito dobrado e o esquerdo estendido, e os membros inferiores dobrados sobre o lado direito.
Perto do crânio havia ossos de animais, muitos dos quais apresentavam sinais de queimadura. Entre as principais patologias encontradas neste antigo indivíduo, está a brucelose, cuja presença permitiu levantar a hipótese de que poderia ser um dos primeiros casos documentados de disseminação de doenças infecciosas zoonóticas.
Por fim, no plano da arqueologia funerária, a teoria segundo a qual essa deposição é de natureza intencional ou não ainda é debatida entre os estudiosos.
Estrutura Familiar dos Neandertais é Revelada através do DNA
Uma caverna na Sibéria, Rússia, revelou a primeira família Neandertal já encontrada na história. A caverna de Chagyrskaya, nas montanhas Altai.
Os indivíduos encontrados mostram altos sinais de endogamia, mas o fator mais interessante é que o grupo mostrou ser patrilocal, ou seja, os pais permaneciam no lugar onde nasceram e as mães vinham de outras populações.

Embora não se pode afirmar a prática patrilocal era comum aos neandertais ou apenas ao grupo em questão, que estava nos limites do alcance geográfico da espécie.
Da caverna de Chagyrskaya, foram sequenciados 11 genomas, além de dois da caverna de Okladnikov, o que aumentou a quantidade de DNA já analisado por nós em 72%:
do primeiro local, foi possível identificar diversas relações familiares, incluindo um pai e uma filha adolescente. Um provável primo de primeiro grau foi identificado, além de um par de prováveis primos ou avó e neto.

Também foi identificada a heteroplasmia, uma duplicação rara do DNA mitocôndrico que tende a desaparecer dentro de algumas gerações e que ajudou a entender que o grupo viveu junto e provavelmente morreram juntos, talvez em uma forte tempestade, segundo especialistas.
O local fica a apenas alguns dias de caminhada da caverna de Denisova, onde o homem denisovano foi identificado pela primeira vez, mas os espécimes não tinham relação direta com seus parentes ancestrais. Embora talvez fosse possível, dado que um dos denisovanos encontrados tinha mãe neandertal e pai denisovano.
O parentesco dos indivíduos de Chagyrskaya é mais próximo dos neandertais europeus, sugerindo que os neandertais de Altai se extinguiram e foram substituídos por migrantes de outras partes do continente.
Eles habitaram a caverna em algum momento entre 59.000 e 51.000 anos atrás:
nessa época, o mundo havia acabado de sair de uma parte especialmente fria da última Era do Gelo, que impeliu os neandertais à expansão, mesmo estando em um período muito mais frio do que o atual.
Embora pequena, a caverna Chagyrskaya fica acima de um vale por onde bisões, íbex e cavalos migravam, oferecendo muita comida aos neandertais, sendo um lugar convidativo.
Na caverna, foram encontradas ferramentas de pedra e ossos de animais em números sem precedentes.
Endogamia e variedade genética do Grupo indica pouco intercambio entre grupos
Ao comparar o DNA mitocondrial das mães com os cromossomos Y do neandertal macho, os cientistas encontraram muito mais diversidade: embora exista uma pequena possibilidade de que os machos pudessem ter dominado os aspectos reprodutivos da espécie, o mais provável é que houvessem sido patrilocais.
Na maioria dos grupos humanos antigos e seus parentes ancestrais, como os gorilas, a mudança das mulheres entre comunidades era comum.
Quando um dos sexos muda de local, isso ajuda na diversidade genética, mas parece que os neandertais de Chagyrskaya não fizeram isso o suficiente, já que o nível de endogamia, pouca variedade genética que pode levar ao incesto e é produto dele, similar ao de gorilas sob risco de extinção.
Pesquisas recentes apresentaram indícios de que o isolamento pode ter forte contribuição para a extinção dos H. neanderthalensis devido erosão genética.
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