Pesquisa revela que o óvulo escolhe o espermatozoide, ao contrário do que se imaginava. Os óvulos humanos liberam substâncias químicas que atraem alguns espermatozoides mais do que outros.
A Pesquisa foi Publicada na The Royal Society, Inglaterra.
Os óvulos de uma pessoa podem influenciar a probabilidade de ela engravidar de um parceiro específico ao liberar substâncias químicas que atraem mais espermatozoides de alguns indivíduos do que de outros.
Apenas uma pequena fração dos espermatozoides chega ao óvulo após a relação sexual Alexey Kotelnikov / Alamy
“Esta é a primeira vez que isso foi descrito em humanos ou em qualquer outra espécie com fertilização interna”, diz John Fitzpatrick, da Universidade de Estocolmo, na Suécia.
Nossa visão precisa mudar. O esquema que apresentava o espermatozoide como agente ativo em oposição ao óvulo, cujo papel é tido como passivo, não reflete corretamente como esse evento se desenrola.
Descoberta inesperada mudou a visão sobre a passividade do óvulo
John Fitzpatrick e seus colegas estudaram amostras de espermatozoides e fluido folicular – o fluido rico em nutrientes que envolve o óvulo durante seu desenvolvimento e liberação – coletadas de 16 casais em tratamento de fertilidade.
Escolha microscópica do parceiro. Uma visão geral do delineamento experimental usado para avaliar a variação nas respostas de acumulação de espermatozoides ao fluido folicular de diferentes fêmeas. ( a ) Cada bloco experimental consistiu em amostras de fluido folicular e espermatozoides que foram obtidas de dois casais — casal 1, compreendendo fêmea 1 (F1) e macho 1 (M1), e casal 2, compreendendo fêmea 2 (F2) e macho 2 (M2) — submetidos a tratamento clínico de reprodução assistida. Quadro do Artigo
Os espermatozoides nadam pelo fluido folicular a caminho de um óvulo não fertilizado.
Os pesquisadores descobriram que o fluido folicular de cada mulher atraía mais espermatozoides de alguns homens do que de outros.
Não havia um padrão óbvio que explicasse qual espermatozoide masculino seria atraído pelo fluido folicular de uma mulher.
Vídeo: O óvulo libera substâncias químicas que atraem os espermatozóides “escolhidos”
Parecia ser aleatório e não necessariamente correlacionado com o parceiro escolhido pela mulher. “Foi uma verdadeira surpresa”, diz Fitzpatrick.
O óvulo libera uma trilha com ‘migalhas’ químicas que os espermatozoides seguem para encontrar óvulos
Os pesquisadores mediram o número de espermatozoides que conseguiram se mover para cada amostra de fluido folicular.
Descobriram que a diferença média na contagem de espermatozoides entre o fluido que atraiu mais e o que atraiu menos espermatozoides foi de aproximadamente 18%.
Fecundação de um óvuloImagem: iStock
“Óvulos atraindo cerca de 18 por cento mais espermatozoides de machos específicos provavelmente seriam muito importantes durante fertilizações dentro do trato reprodutivo feminino”, já que apenas uma pequena fração dos espermatozoides chega ao óvulo após o sexo, diz Fitzpatrick.
O resulytado da pesquisa sugere que os óvulos humanos liberam substâncias químicas chamadas quimioatraentes, que deixam uma espécie de trilha com ‘migalhas’ químicas que os espermatozoides seguem para encontrar óvulos não fertilizados.
“O que não sabíamos até este estudo é que essas ‘migalhas’ agem de maneira diferente nos espermatozoides de homens diferentes, na verdade, escolhendo qual esperma será bem-sucedido”, explicou Fitzpatrick.
“O que isso sugere é que esses fluidos dão às mulheres uma chance extra — muito tempo depois da escolha do parceiro — de influenciar o número de espermatozoides que virão em direção aos óvulos”, afirma o pesquisador.
Vídeo: Um jeito divertido de entender a fecundação
Genética diferente do parceiro facilita a fecundação
E, ainda mais surpreendente, é a conclusão de que o óvulo de uma mulher nem sempre concorda com sua escolha de parceiro.
“Esperávamos ver algum tipo de efeito do parceiro (escolhido), mas na metade dos casos, os óvulos estavam atraindo mais esperma de um homem aleatório”, disse Fitzpatrick.
A explicação mais provável para isso é que esses sinais químicos permitem que as fêmeas escolham machos que são mais geneticamente compatíveis.
Há quem aponte que o orgasmo feminino, ao provocar contrações, pode ajudar na movimentação dos espermatozoides
Um dos fatores determinantes para que o parceiro escolhido seja compatível é um conjunto complexo de genes chamado “complexo principal de histocompatibilidade”, diz o cientista.
“Basicamente, são genes que tratam de combater infecções, combater doenças e ajudar nosso sistema imunológico a se sair muito bem”, disse ele.
“Quanto mais diversos são esses genes, mais diversos são os tipos de infecções que você pode combater. E se o seu parceiro tiver uma combinação desses genes um pouco diferente da sua, então você produzirá descendentes que podem combater uma variedade ainda maior de patógenos e doenças”.
Como os mamíferos, inclusive os humanos, são programados para dar aos filhotes a melhor chance de sobrevivência, nosso corpo desenvolveu todo tipo de método para recompensar o parceiro mais forte, mais diversificado e compatível possível.
Até o aparelho reprodutor feminino é uma pista de obstáculos projetada para eliminar pretendentes mais fracos e menos aceitáveis.
Além de tudo isso, apenas cerca de 10% dos 250 espermatozoides são capazes de fertilizar a qualquer momento — eles meio que ligam e desligam em sua capacidade de fertilizar óvulos, acrescentou. Desses 250, é algo como 20 ou 30 células que podem realmente fertilizar um ovo a qualquer momento.
O óvulo pode afetar qual esperma vence a corrida com as substâncias químicas que libera no fluido folicular que o circunda. Essa é a parte que contém as “migalhas” deixadas para atrair e orientar os espermatozoides até seu objetivo.
D. Phillips/SCIENCE PHOTO LIBRARY
E é apenas nos últimos dois centímetros finais de distância entre um espermatozoide e o óvulo que esses sinais químicos fazem diferença, já que é a fase final dessa longa jornada em que as fêmeas continuam eliminando espermatozoides menos aceitáveis”, disse Fitzpatrick
A evolução biológica opera na direção da diversidade
Assim, é possível que os óvulos sejam mais atraídos por espermatozoides geneticamente direntes da mulher e compatíveis, o que pode aumentar a chance de serem fertilizados.
As interações químicas entre óvulos e espermatozoides após a relação sexual também podem contribuir para a dificuldade de algumas pessoas em engravidar. Em cerca de um em cada três casais com problemas de fertilidade, não há uma causa clara, diz Fitzpatrick.
Este estudo pode sugerir um papel até então desconhecido para a atração de espermatozoides por óvulos em mamíferos, afirma Michael Eisenbach, do Instituto de Ciências Weizmann em Rehovot.
Estudos futuros devem testar se esses resultados também se aplicam a substâncias químicas produzidas por óvulos maduros, liberadas após a ovulação, visto que o fluido folicular contém substâncias químicas produzidas antes da maturação completa do óvulo.
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