Atualizado 13 de setembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Cientistas brasileiros da UFRG usam proteína da placenta em composto inédito para devolver parte dos movimentos de lesão na medula.
Um medicamento desenvolvido no Brasil se mostrou capaz de devolver movimento a pacientes que sofreram lesões na medula espinhal e ficaram paraplégicos ou tetraplégicos.

A polilaminina é produzida pelo laboratório Cristália em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e representa uma esperança para restauração de lesões medulares recém ocorridas.
A Pesquisa constatou que, quando reintroduzida no corpo, a polilaminina pode ajudar a parte mais longa do neurônio a abrir um novo caminho no local da lesão até o próximo neurônio, voltando a gerar o impulso elétrico necessário para realização de um movimento.
Veremos a seguir os longos caminhos e o quão promissora é essa pesquisa.
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Proteína é capaz de promover a regeneração do sistema nervoso
Pesquisa conduzida por 25 anos pela professora Tatiana Coelho de Sampaio, chefe do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, do Instituto de Ciências Biomédicas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), baseia-se no estudo de uma proteína, extraída da placenta, capaz de modular o comportamento das células e a organização tecidual durante o desenvolvimento e a regeneração do sistema nervoso, a laminina.

Durante a fase experimental, pacientes lesionados que receberam o medicamento inédito, chamado de polilaminina, recuperaram os movimentos, total ou parcialmente.
Traumatismos na medula interrompem a comunicação entre o cérebro e o corpo, trazendo limitações severas como paraplegia (perda dos membros inferiores) ou tetraplegia (comprometimento dos movimentos do pescoço para baixo).
Essas lesões são frequentemente causadas por acidentes de trânsito, quedas ou mergulhos.
Em estudos experimentais, cerca de 10 pacientes conseguiram recuperar os movimentos com o uso de polilaminina, entre eles um jovem de 31 anos que sofreu trauma por acidente de trânsito, uma mulher de 27 anos, que sofreu uma queda, e um homem de 33 anos, que sofreu lesão por arma de fogo.
O bancário Bruno Drummond de Freitas sofreu um acidente de carro em 2018 que causou uma lesão cervical grave, com esmagamento completo de uma parte da medula espinhal.
“Acordei pós-cirurgia sem lembrar de nada e sem fazer movimento. Braço, aqui, eu conseguia fazer esse movimento. Dedos da mão, pés, perna, quadril, abdômen, nada mexia”, conta Bruno.
O que o Bruno ainda não sabia era que aquele pequeno movimento, tão banal para ele, foi o primeiro grande resultado prático, em um ser humano, de uma pesquisa iniciada lá em 1999 nos laboratórios do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Pesquisa é liderada pela pesquisadora brasileira Tatiana Sampaio, professora doutora da UFRJ.
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Caminho longo de uma pesquisa de 25 anos
Observando a laminina: uma proteína do corpo humano que forma uma grande malha e impulsiona a troca de informação entre os neurônios na fase embrionária da vida.
Depois, fica mais rara no corpo. A bióloga descobriu que era possível recriar em laboratório essa grande malha, chamada de polilaminina, extraindo as proteínas de placentas.

Pesquisadores, médicos, fisioterapeutas e alunos da UFRJ se juntaram ao estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, a Faperj.
Juntos, constataram que, quando reintroduzida no corpo, a polilaminina pode ajudar a parte mais longa do neurônio a abrir um novo caminho no local da lesão até o próximo neurônio, voltando a gerar o impulso elétrico necessário para realização de um movimento.
“Para a gente mexer o dedão do pé, a gente só precisa de dois neurônios. Um que está aqui no cérebro e que vai se comunicar com o segundo neurônio que está na medula espinhal, que está dentro da coluna. E de um segundo neurônio que vai sair então da coluna e vai até o dedão do pé, para levar informação para que ele se mexa.
O que acontece em uma lesão é que a comunicação entre esses dois neurônios – esse que está aqui e o outro que está dentro da coluna – é interrompida. O que a gente descobriu aqui foi uma maneira de fazer com que essa conexão se restabeleça”, explica Tatiana Coelho de Sampaio.
O neurocirurgião Marco Aurélio de Lima, com mais de 30 anos de experiência em cirurgias de coluna, participou dos estudos iniciados sete anos atrás em oito pacientes com lesão completa da medula espinhal.
Cada paciente recebeu uma única injeção de polilaminina diretamente no ponto lesionado, em até 72 horas depois do acidente.
“Isso é uma coisa inédita. Porque nenhum estudo tinha demonstrado isso até o momento. No mundo. Se a gente buscar hoje, a gente não vai encontrar nenhum estudo no mundo com medicação atuando em regeneração medular que conseguiu isso”, afirma o neurocirurgião de coluna Marco Aurélio Brás de Lima.
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Como o medicamento funciona?
A polilaminina é uma proteína capaz de regenerar as células da medula, devolvendo parcial ou totalmente a mobilidade após uma lesão.

A substância é produzida naturalmente pelo corpo no desenvolvimento do sistema nervoso e, segundo descoberta dos pesquisadores da UFRJ, pode ser obtida através da placenta humana.
“É uma alternativa mais acessível e segura do que as células-tronco. Nossos estudos estão em estágio mais avançado, pois as células-tronco possuem imprevisibilidade após a aplicação”, afirma Tatiana Coelho Sampaio, bióloga do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e líder do estudo.
Os efeitos da polilaminina são mais expressivos quando a aplicação ocorre em até 24 horas após o trauma, mas há benefícios também em lesões mais antigas. O tratamento exige apenas uma dose, seguida de fisioterapia para reabilitação.
“Demonstramos, por meio de evidências robustas, que o produto cumpre os requisitos para ser considerado medicamento e oferecer uma alternativa viável para quem não possui outras opções de tratamento. Fornecemos ainda o produto fabricado para a continuidade dos estudos em novas aplicações”, afirma Rogério Almeida, vice-presidente de P&D do Cristália.
A próxima fase do estudo contará com a parceria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) para as cirurgias e da AACD para o tratamento da reabilitação.
O laboratório Cristália aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fase 1 dos estudos, que envolverá mais cinco pacientes, para atestar a eficácia e segurança do tratamento.
A etapa é fundamental para que o medicamento fique disponível em hospitais brasileiros.
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CIENTISTAS DA UFRJ USAM PROTEÍNA QUE REVERTE LESÃO DA MEDULA
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Artigo
G1