Atualizado 14 de setembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Em uma ilha no Japão cervos e macacos estabeleceram uma interação benéfica consciente cultural na busca por árvores de frutas, ou uma relação co-cultural.
O pesquisadores afirmam que é um exemplo de co-cultura, um tipo de interação entre espécies que traz benefícios mútuos. Mas que é passada de geração em geração, como uma aprendizado.

A Pesquisa foi publicada na Revista Primates.
Veremos a seguir essa surpreendente descoberta e seus significados.
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Cooperação: Cevos oferecem carona, em troca os macacos colhem os frutos.
No Japão, mais especificamente na ilha de Yakushima, duas espécies de animais completamente diferentes estabeleceram um relacionamento incomum e curioso, que aparentemente trouxe benefícios para ambos.
Enquanto os macacos-japoneses (Macaca fuscata) ganharam carona para circular pelo terreno, montados nas costas dos cervos sika (Cervus nippon), esses ruminantes começaram a se alimentar das frutas coletadas por seus colegas primatas nas copas das árvores.

Os macacos derrubam frutas das árvores, que os cervos aproveitam como alimento, enquanto os macacos obtêm carona nas costas dos cervos para alcançar locais mais altos ou se locomover.
Essa relação, observada em algumas regiões como no Japão, é surpreendente e demonstra que as espécies podem aprender e se adaptar para obter vantagens conjuntas, inclusive sinalizando uma para a outra para iniciar a interação.
Ao que tudo indica, isso está longe de ser uma mera coincidência.
Tanto é que uma equipe formada por pesquisadores internacionais descobriu que as duas espécies sinalizam ativamente uma à outra para iniciar o comportamento.
Suas observações foram detalhadas em um artigo publicado na revista Primates em dezembro de 2024.
Vídeo: CASO DE COCULTURA ENTRE MACACOS E CERVOS NO JAPÃO
“Eu acho que eles realmente tentam interagir e adquirir benefícios juntos”, afirma Cedric Sueur, coautor do projeto, ao site BBC Science Focus. “Para mim, eles realmente entendem um ao outro”.
Os adultos se envolveram em monta por períodos mais longos do que os juvenis, sugerindo potenciais diferenças relacionadas à idade nos papéis sociais e reprodutivos.
Essas descobertas aumentam nossa compreensão das interações interespecíficas ao focar nos comportamentos dos macacos e enfatizam a necessidade de estudos longitudinais para esclarecer as implicações ecológicas e sociais dessas interações.
Vídeo: MACACO E CERVO TEM INTERAÇÃO CULTURAL PARA COLHER FRUTOS
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Co-cultura entre os animais
É relativamente comum que os animais adotem comportamentos de membros de sua própria espécie.
Estudos mostraram, por exemplo, que as baleias que vivem em um grupo específico desenvolvem inflexões únicas em suas canções, como “dialetos” ou “sotaques”.

Pesquisadores se referem a esse tipo de aprendizado social como algo similar à uma “cultura”, haja visto que cria certas tendências de comportamento.
Sueur e seus colegas, no entanto, acreditam que aquilo que se observa em relação aos cervos e os macacos se trata de algo ainda mais complexo, uma “cocultura”.
Para os especialistas, estudar essas interações complexas oferece uma nova lente através da qual explorar as complexidades do comportamento animal.
Como a cultura pode servir como um tipo de segunda herança – como os genes, é uma maneira de passar informações de geração para geração – a colaboração entre espécies provavelmente ajuda os comportamentos a evoluir mais rápido.
“Muitas espécies demonstram uma cocultura, só nunca tínhamos pensado essa relação nesses termos”, aponta Sueur.
No Parque de Yellowstone, por exemplo, é comum que, durante o inverno, os corvos sigam os lobos-cinzentos para encontrar carcaças na floresta para eles comerem.
Da mesma forma, nas florestas tropicais da Costa Rica, diferentes espécies de morcegos compartilham poleiros, forrageiam juntos e se unem para defender seus ninhos de predadores.
Vídeo: Interação co-cultural entre o Cervo e o macaco
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Pesquisar cultura em animais era “Tema tabu”
“A ideia de que animais não humanos poderiam ter cultura foi tabu por muito tempo, e agora os exemplos estão por toda parte”, afirma Jean-Baptiste Leca, etólogo do Canadá, que colaborou com a iniciativa, também ao Science Focus. “
Faz todo o sentido que espécies diferentes influenciem umas às outras, na forma como vivem e como respondem ao mundo”.

Leca já havia estudado anteriormente como macacos de cauda longa aprenderam a negociar com turistas na Indonésia.
Em Bali, os pequenos atrevidos costumam roubar objetos valiosos de seres humanos, como óculos de sol, chapéus e smartphones, e os guardam até que possam obter comida em troca.
Mesmo diante dessas descobertas, os pesquisadores responsáveis admitem que ainda há muito trabalho a ser feito para descobrir exatamente como a cocultura surge.
Por mais que a ideia de co-cultura pareça uma extensão natural do que sabemos sobre aprendizado social em animais, em termos práticos, isso não é tão fácil de demonstrar.
Quão sofisticada e avançada a cocultura em animais pode se tornar?
Essa é uma pergunta muito difícil de responder, pois identificar o aprendizado social dentro de uma única espécie já é difícil o suficiente. Adicionar esse novo paradigma à forma como se pensa o reino animal pode abrir mundos totalmente novos.
Vídeo: MACACO-PREGO SÓ FALTA FALAR
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MACACO E CERVO TEM INTERAÇÃO CULTURAL PARA COLHER FRUTOS
Bibliografia
Revista Primates
Revista Galileu
Por que macacos montam em cervos nesta ilha do Japão? Novo estudo investigou
BBC Science Focus
This deer-riding monkey could rewrite the story of evolution. Here’s why