Atualizado 17 de maio de 2025 por Sergio A. Loiola
Junção de obesidade com perda de massa e força muscular é obstáculo para o envelhecimento saudável e pode ser vencido com mudanças no estilo de vida.
A sarcobesidade ou obesidade sarcopênica é a combinação de acúmulo de gordura e sarcopenia (perda de massa muscular) e acomete principalmente idosos.
A condição está associada ao risco de desenvolvimento outras doenças, como as cardiovasculares, respiratórias, osteomusculares, psiquiátricas e câncer, e representa um desafio para a ciência e para a saúde:
Relatório da OMS prevê que o número de pessoas acima de 65 anos deve dobrar até 2050, chegando a 1,6 bilhão.
O enfrentamento da sarcobesidade, no entanto, mesmo com o envelhecimento, pode não depender de procedimentos avançados e produção em massa de medicamentos.
Resultados de um estudo recém-publicado indicam que mudanças no estilo de vida e acesso a uma rotina saudável podem prevenir e até tratar a doença.

Trata-se de uma revisão bibliográfica com os principais achados científicos sobre a doença das últimas décadas.
Os estudos evidenciam ainda falta de critérios diagnósticos e de definição da própria sarcobesidade, além da complexidade do tratamento.
Coordenadora da pesquisa, a professora Ellen Cristini de Freitas, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, ressalta o distúrbio metabólico da sarcobesidade, agravada pelo envelhecimento, para afirmar que novas abordagens terapêuticas são necessárias na redução da patologia.
Por essa razão seu time procurou pelas abordagens com potencial para o controle da doença e identificou três estratégias não farmacológicas:
1- A suplementação com taurina (aminoácido importante no bom funcionamento do organismo),
2- O manejo da microbiota intestinal e
3-A prática de atividade física.
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Prevalência em idosos

“O declínio acentuado e progressivo da massa e força muscular, caracterizado como sarcopenia, é uma condição prevalente em pessoas com 65 anos ou mais”, informa Ellen.
A doença aumenta os riscos de incapacidades físicas, quedas, fraturas e hospitalização, limitando a qualidade de vida dos idosos. Quando associada ao aumento da gordura corporal, acrescenta a professora, há uma piora do prognóstico e se transforma na sarcobesidade.
Ellen informa ainda que, apesar de ser mais comum em idosos, os jovens não estão isentos da sarcobesidade.
A população mais jovem com obesidade e sedentária ou que enfrenta alterações hormonais e metabólicas, câncer e quadro pós-cirurgia bariátrica sem cuidados nutricionais adequados também podem desenvolver a patologia.
Vídeo: Sarcopenia: O Que é e Como é Feito o Diagnóstico
Mas são os idosos o principal grupo de risco, pois perdem progressivamente massa muscular e ficam mais propensos à sarcobesidade.
Mesmo com a dificuldade diagnóstica, informa a pesquisadora, estudos utilizando o método chamado DXA (Absorciometria de Raios X de Dupla Energia – técnica que avalia massa óssea, muscular e gordura) mostraram prevalência de 15% da sarcobesidade entre pessoas de 60 a 69 anos, e 40% entre os com 80 anos ou mais.
Como a tendência é de envelhecimento, a preocupação com a sarcobesidade deve aumentar.
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Suplemento de taurina na regulação metabólica
As alterações fisiológicas próprias do envelhecimento associadas a hábitos de vida, como o sedentarismo e as mudanças alimentares, resultam “na redistribuição de gordura corporal do depósito subcutâneo para o visceral e pela redução da força e massa muscular”, informa a professora.
Esta redistribuição de gordura contribui para a diminuição da massa e força muscular, a redução do gasto energético basal e a dificuldade de realizar atividade física, favorecendo o acúmulo de gordura.
Por sua vez, o excesso de gordura corporal promove inflamação sistêmica e o acúmulo de gordura intramuscular com efeitos ruins na força e massa muscular.
Segundo Ellen, esse é o quadro que explica o risco da obesidade e da sarcopenia coexistirem no mesmo indivíduo.
Vídeo: Sarcopenia e a fragilidade da saúde do idoso
Ao falar em inflamação, a professor lembra que a sarcobesidade também representa risco para outras complicações crônicas baseadas em inflamação, como a resistência anabólica, a resistência à insulina, as doenças cardiovasculares e a diabetes.
É aí que entram alternativas como a suplementação com taurina (um aminoácido produzido pelo corpo humano e presente em alimentos de origem animal) que, afirma a professora, tem mostrado respostas importantes para controlar a sarcobesidade.
Alguns estudos vêm confirmando as principais propriedades da taurina contra problemas de saúde relacionados ao envelhecimento.
“Efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e capacidade de regular o metabolismo são algumas dessas boas respostas da taurina.”
Ellen cita uma pesquisa realizada em seu laboratório que avaliou a suplementação com 3g de taurina/dia em mulheres com obesidade obtendo aumento da produção de adiponectina – proteína que desempenha um papel importante na regulação do metabolismo e na sensibilidade à insulina.
Os resultados reforçam o papel da taurina no controle da inflamação.
Mesmo com os efeitos potenciais, a pesquisadora lembra que os benefícios da taurina devem ser mais explorados, já que “a maior parte das evidências vem de estudos com modelos animais e os efeitos da taurina em humanos, particularmente em indivíduos com sarcobesidade, ainda não estão completamente esclarecidos”.
Alimentação, envelhecimento e microbiota intestinal
Outro destaque da pesquisa para o controle da sarcobesidade é a microbiota intestinal.

Trata-se do conjunto de microrganismos que compõem o sistema digestivo, em especial o intestino, numa comunidade de bilhões de bactérias que desempenham funções cruciais no organismo, principalmente na digestão, absorção dos nutrientes e eliminação de resíduos.
“Vários estudos já demonstraram que tanto a obesidade quanto o envelhecimento alteram a composição da microbiota intestinal, acarretando mudanças no tipo de bactérias que colonizam o nosso intestino”, destaca a professora
Lembrando que esses fatores estabelecem uma maior proporção de bactérias potencialmente inflamatórias (bactérias patobiontes) em detrimento das potencialmente benéficas (bactérias simbiontes).
Assim, Ellen afirma que vale a pena prestar mais atenção à alimentação.
“Padrões alimentares ocidentalizados, pautados no consumo de ultraprocessados (ricos em açúcares e gordura saturada e pobres nutricionalmente), são um dos protagonistas de mudanças na microbiota intestinal, cenário que fica ainda mais grave quando se concentra na realidade de uma população idosa.”
Atividade física, ganho de massa muscular e perda de gordura
A prática de exercícios físicos é tratada como uma estratégia importante para a prevenção e o tratamento da obesidade sarcopênica, principalmente em pessoas acima de 65 anos.
A recomendação do American College of Sports Medicine para esse grupo é a da prática de atividades físicas diversas que desenvolvam múltiplas capacidades corporais como o equilíbrio, a flexibilidade e a força.
Segundo os especialistas, a atividade física é um grande fator no combate da sarcobesidade devido à sua capacidade de recompor massa muscular e perder gordura, combatendo as duas condições clínicas que caracterizam a sarcobesidade.
Na mesma linha, adiantam que os exercícios físicos também são fundamentais para um envelhecimento saudável não apenas na ótica da obesidade sarcopênica, pois trazem benefícios quanto à mobilidade, reduzindo o número de quedas e melhorando a capacidade neural.
Investimento em qualidade de vida
Para Ellen, além do avanço nas formas de prevenção e tratamento é preciso um suporte adequado das autoridades de saúde na divulgação de informações de qualidade e no combate à má alimentação e ao sedentarismo.
Desta forma, afirma que o investimento no combate a essa doença não depende necessariamente de grandes infraestruturas ou da produção em massa de medicamentos, mas do acesso a uma rotina envolvendo comportamentos alimentares saudáveis e atividades físicas de qualidade.
“É preciso desenvolver projetos capazes de abranger o diagnóstico correto e precoce da sarcopenia, o tratamento amplificado da obesidade no contexto de saúde pública e aumentar o acesso a alimentos in natura e saudáveis”, finaliza.
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SARCOBESIDADE: O DESAFIO DA PERDA DE MASSA E FORÇA MUSCULAR
Revista USP
Sarcobesidade desafia a saúde global com envelhecimento da população
Mais informações: ellenfreitas@usp.br com a professora Ellen Cristini de Freitas