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Atualizado 7 de outubro de 2025 por Sergio A. Loiola

Pesquisa realizada por cientistas da USP, Brasil, sugere que o consumo regular de adoçantes artificiais de baixa ou nenhuma caloria pode acelerar o declínio cognitivo Acelerado, afetando a memória e a fluência verbal ao longo do tempo.

A Pesquisa foi publicada na Revista Científica Neurology.

Pesquisas sobre adoçantes devem continuar e uso regular precisa ser repensado – Foto: agenciasenado/Flickr

Entre os mais de 12 mil participantes do estudo, acompanhados por oito anos, quem relatou consumir as maiores quantidades de adoçante teve uma taxa 62% maior de declínio cognitivo global.

Veremos a seguir os resultados e limites desta importante pesquisa para a saúde pública, com texto, imagens e 3 vídeos auxiliares:

Vídeo 1: Adoçantes artificiais são associados ao declínio cognitivo acelerado, mostra pesquisa.

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Vídeo 2: Adoçantes artificiais podem acelerar perda de memória, aponta estudo brasileiro

Vídeo 3: Adoçantes e Declínio Cognitivo: a ciência alerta os riscos!

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Declínio mais rápido na cognição global

A pesquisa, conduzida por cientistas da USP e publicada na revista científica Neurology, acompanhou mais de 12 mil pessoas por oito anos, trazendo alguns dos resultados mais abrangentes até agora sobre os possíveis efeitos em longo prazo desses substitutos do açúcar na saúde do cérebro.

O estudo encontrou uma associação significativa entre maior consumo dos adoçantes aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol a um declínio mais rápido na cognição global, prejudicando particularmente os domínios da memória e da fluência verbal.

Novas evidências científicas reforçaram a importância da microbiota intestinal, um grupo de trilhões e trilhões de bactérias, vírus, fungos e outros agentes microscópicos, para a saúde do corpo, da mente e das emoções. Imagem gerada pela IA Gemini do Google Ver tambem: https://naturespace.com.br/ciencia-revela-relacao-entre-cerebro-intestino-e-emocoes/

Os participantes que consumiram as maiores quantidades de adoçantes em geral apresentaram uma taxa 62% maior de declínio cognitivo global em comparação àqueles com consumo mais baixo.

Quando divididos por tipo de adoçante, somente a tagatose, entre os que foram avaliados, não apresentou nenhuma ligação com o declínio cognitivo na análise geral.

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Limitações do estudo

Uma restrição da pesquisa é que ela não incluiu a sucralose, adoçante bastante usado atualmente, mas que não estava entre os mais consumidos no Brasil nos anos do estudo, que começou em 2008.

Apesar disso, outros estudos também já levantaram problemas semelhantes sobre a sucralose.

Existe uma relação muito forte entre cérebro e intestino Especialistas dizem que alimentos que contêm certos tipos de bactérias são bons para o sistema digestivo. Getty Images

Também é apresentado pelos pesquisadores como uma limitação o fato de os dados da dieta serem autorrelatados, o que, mesmo com uso de questionários validados por especialistas, pode trazer distorção.

Eles mencionam ainda a impossibilidade de descartar todos os fatores de confusão residuais, como hábitos simultâneos que afetam a saúde ou mudanças na dieta ao longo do tempo.

Mesmo assim, com seu grande número de participantes e qualidade das avaliações, o estudo representa um avanço significativo na compreensão dos possíveis efeitos em longo prazo dos adoçantes artificiais na função cognitiva.

E fortalece o alerta por mais investigações: sabemos que o consumo de açúcar em excesso está bastante relacionado a uma piora na saúde cognitiva, mas não está claro se os adoçantes artificiais são uma alternativa adequada.

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Uma pergunta antiga

Coordenadora do Laboratório de Envelhecimento na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Claudia Suemoto conta que uma das motivações da pesquisa foi pessoal.

Especialistas dizem que a variedade de alimentos, com foco em frutas e vegetais, é o melhor caminho para uma microbiota saudável. Getty Images

Ao levantar a literatura científica a respeito, os pesquisadores encontraram, além dos estudos em modelo animal, trabalhos com poucos participantes, e quiseram fazer uma análise com resultados mais significativos.

Nesta pesquisa foram usados dados do Elsa Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto).

O estudo longitudinal é um tipo de pesquisa que acompanha os mesmos indivíduos ao longo do tempo, avaliados periodicamente, para verificar mudanças em variáveis específicas.

A estratégia escolhida foi dividir os participantes – todos com mais de 35 anos – em três grupos, dos que tinham consumo mais intenso de adoçantes artificiais até os que consumiam muito pouco ou não consumiam.

Após um acompanhamento de oito anos, os participantes nos dois grupos de mais alto consumo apresentaram taxas 35% e 62% maiores de declínio cognitivo global; e 110% e 173% maiores de declínio da fluência verbal, respectivamente.

Os maiores consumidores também tiveram uma taxa de declínio de memória 32% mais alta que os demais. 

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Como explicar os resultados?

Possíveis mecanismos para a associação observada podem ser neurotoxicidade e neuroinflamação provocadas por metabólitos (produtos resultantes da degradação) dos adoçantes artificiais.

Ainda que estudos em modelo animal não gerem respostas conclusivas para seres humanos, eles trazem alguns indícios e apontam em que caminho continuar pesquisando.

Descoberta da UFRJ, molécula reverte perde cognitiva, e pode abrir novos caminhos na luta contra o Alzheimer. Ver: https://naturespace.com.br/ufrj-e-usp-descobrem-molecula-que-reverte-deficit-cognitivo/

Neste caso, estudos anteriores em roedores mostraram que o aspartame, por exemplo, pode ser metabolizado em compostos neurotóxicos, levando à neuroinflamação (mediada pela micróglia, tipo de célula nervosa que atua na imunidade) e ao declínio cognitivo.

Alguns estudos em animais também apontam para o potencial dos adoçantes de alterar a microbiota intestinal, o que pode impactar a tolerância à glicose e afetar a integridade da barreira hematoencefálica, uma estrutura que envolve e protege o sistema nervoso central de agressores, sejam moléculas ou microrganismos.

“Nossas descobertas sugerem a possibilidade de danos a longo prazo do consumo de adoçantes, particularmente adoçantes artificiais e álcoois de açúcar, para a função cognitiva”, escrevem os pesquisadores.

Para mudanças nas recomendações por parte de órgãos e associações de saúde, porém, Claudia Suemoto acredita que mais pesquisas são necessárias, principalmente ensaios clínicos – em que os participantes são avaliados em condições mais bem controladas.

Ela pede cautela também com a interpretação dos números, assim como os de qualquer pesquisa: “Qualquer risco relativo, quando eu divido um coeficiente por outro, vai resultar nesses números grandes”, pondera ao Jornal da USP.

Mesmo assim, considerando que outros estudos como esse encontraram resultados semelhantes, além do fato de os adoçantes artificiais serem ingredientes de alimentos ultraprocessados – já associados a problemas cognitivos em outras pesquisas –, ela opina que seu uso regular deve ser repensado.

Apesar de não ser considerado neste estudo, o consumo de sucralose já foi associado em outras pesquisas à diminuição do desempenho da memória e da função executiva, também possivelmente ligada a alterações do microbioma, neuroinflamação e neurotoxicidade dos metabólitos do adoçante.

Quanto à tagatose, que não apresentou associação com o declínio cognitivo no estudo, vale o mesmo raciocínio: ainda não dá para afirmar que “tudo bem, pode consumir à vontade”. 

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Aditivos cosméticos

Renata Levy também desaconselha o uso de adoçantes. A professora da FMUSP não participou deste estudo, mas tem larga produção científica em epidemiologia nutricional, em particular no tema ultraprocessados, e comentou os resultados a pedido do Jornal da USP

Intestino e cérebro estão conectados por três vias diferentes. Getty Images

Ela lembra que, segundo a classificação Nova, alimentos que contêm aditivos cosméticos são considerados ultraprocessados.

“Esses aditivos são incluídos nos alimentos não para conservação, mas para modificar atributos sensoriais do produto. Os adoçantes se enquadram nesse grupo.”

“Esses compostos contribuem para tornar os alimentos hiperestimulantes e podem interferir nos mecanismos naturais de saciedade e regulação do apetite. Muitos deles são classificados como xenobióticos, ou seja, substâncias estranhas ao metabolismo humano”, detalha. 

Mesmo os chamados “naturais” recebem a classificação de ultraprocessados.

Para a professora, o estudo atual é extremamente relevante para a saúde pública e usa uma metodologia confiável.

“O estudo de seguimento é dos delineamentos mais adequados para investigar esse tipo de associação.”

Ela comenta ainda que uma das maiores dificuldades para estudar o efeito nocivo dos edulcorantes é quantificá-los com precisão nos alimentos.

“Essa informação não está disponível nas tabelas de composição de alimentos nem nos rótulos. E a quantidade varia entre produtos e até entre marcas de um mesmo produto”, pontua, ao explicar que essa informação é crucial para que se possa gerar evidências mais robustas.

“Isso reforça a necessidade de maior transparência na rotulagem e de bases de dados mais completas”, defende.

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Domínios da cognição

Neste estudo, o desempenho nos vários aspectos foi avaliado individualmente, para depois se calcular uma pontuação de cognição global, que é o índice considerado de maior importância.

“A cognição é formada por diversos domínios, e quando você tem um problema em vários, o impacto é maior”, explica Claudia Suemoto. 

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Os testes cognitivos estimaram capacidades como:

  • Memória episódica (de recordar eventos e experiências específicas, incluindo detalhes como o que, onde e quando);
  • Fluência verbal (de gerar palavras dentro de uma categoria ou que começam com uma letra específica);
  • Função executiva (de direcionar comportamentos a objetivos, envolvendo flexibilidade mental e velocidade de processamento para tomada de decisões).

Isolando as variáveis

Todo estudo observacional como este, que busca isolar o consumo de algum item e associá-lo a um desfecho como declínio cognitivo, que tem diversos determinantes, esbarra em confundidores que o tratamento estatístico dos dados procura mitigar.

Claudia Suemoto simplifica com um exemplo.

“Digamos que eu queira saber se álcool contribui para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Se eu não fizer um controle para o fator tabagismo, vou achar uma relação errada.”

“Porque, normalmente, entre quem consome mais álcool também estão os que fumam bastante. E o tabagismo é um fator de risco conhecido para câncer de pulmão.”

Neurônio. Foto: Bioscience Image Library por Fayette Reynolds | Unsplash

Nesta pesquisa, em relação ao consumo de adoçantes, foram consideradas variáveis sociodemográficas (idade, sexo, renda, raça e educação), de estilo de vida (atividade física, tabagismo, consumo de álcool e padrão de dieta) e clínicas (índice de massa corporal, diabetes, hipertensão, doença cardiovascular e depressão).

Dietas saudáveis (por exemplo, a dieta mediterrânea, a Dash – focada em reduzir a hipertensão – ou a Mind, que é uma combinação das duas primeiras) aparecem como fator de proteção para o declínio cognitivo e demência, enquanto obesidade e diabetes são fatores de risco. Mas o diabetes é sem dúvida o maior confundidor.

Feitos os ajustes, a obesidade e o padrão da dieta não modificaram a associação entre o consumo de adoçantes e o declínio cognitivo, mas o diabetes sim:

Já para os participantes com diabetes, a ingestão de adoçantes mais alta foi associada a um declínio mais rápido, tanto na memória quanto na cognição global.

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) – instituição que representa a indústria de adoçantes no Brasil – informou que acompanha com atenção a publicação do estudo divulgado na revista Neurology. 

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ADOÇANTES ARTIFICIAIS SÃO ASSOCIADOS AO DECLÍNIO COGNITIVO

Revista Neurology

Association Between Consumption of Low- and No-Calorie Artificial Sweeteners and Cognitive Decline

Jornal da USP

Adoçantes artificiais são associados ao declínio cognitivo acelerado

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