Atualizado 10 de agosto de 2025 por Sergio A. Loiola
O mistério do canto das baleias Jubarte desvendado. Cientistas descobriram como algumas das maiores baleias do oceano produzem cantos assustadores e complexos.
As baleias jubarte e outras baleias com barbatanas desenvolveram uma “caixa vocal” especializada, que permite cantar debaixo d’água.
“Eles estão entre os maiores e mais inteligentes, e são altamente sociáveis.”. professor Coen Elemans

A descoberta, publicada na Revista Nature, também revelou porque os ruídos que navios e embarcações fazem são tão perturbadores para estes gigantes oceânicos.
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As Jubarte estão entre os seres mais inteligentes e sociáveis: cantar é crucial para a espécie.
As baleias de barbatanas são um grupo de 14 espécies, incluindo a baleia azul, a jubarte, a franca, a baleia-de-minke e a baleia-cinzenta.

Em vez de dentes, esses animais têm placas chamadas barbatanas ou cerdas, através das quais peneiram enormes quantidades de criaturas minúsculas que vivem na água.
A forma exata como eles produzem sons complexos — e muitas vezes assustadores — foi um mistério até agora.
O professor Elemans disse que descobrir o mecanismo exato por trás dos cantos foi “superemocionante”.
“O som é absolutamente crucial para a sobrevivência delas, porque é a única forma de elas se encontrarem para acasalar no oceano”, explica o professor Coen Elemans, da Universidade do Sul da Dinamarca, que liderou o estudo. Estes são alguns] dos animais mais enigmáticos que já viveram no planeta”.
Vídeo: O Mistério do Canto das Baleias Finalmente Desvendado
O canto das baleias está restrito a uma frequência específica, que se sobrepõe ao ruído produzido pelos navios.
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Experimento reproduziu o aparelho fonador das baleias para estudo
Junto de colegas, Elemans realizou experimentos usando laringes, ou “caixas vocais”, que foram cuidadosamente removidas de três carcaças de baleias que encalharam em praias — uma baleia-de-minke, uma jubarte e uma baleia-sei.

Após a retirada, eles sopraram ar através das estruturas maciças, com o objetivo de produzir um som.
Em seres humanos, a voz vem de vibrações que acontecem quando o ar passa por estruturas chamadas pregas vocais, que ficam na garganta.
As baleias de barbatanas, por outro lado, possuem uma grande estrutura em forma de U, com uma almofada de gordura, no topo da laringe.
Essa anatomia vocal permite que os animais cantem ao “reciclarem” o ar. Isso evita que a água seja inalada.

Os pesquisadores produziram modelos computadorizados dos sons e mostraram que o canto das baleias está restrito a uma frequência bem específica, que se sobrepõe ao ruído produzido pelos navios.
“Elas não podem simplesmente escolher cantar mais alto para evitar o barulho que fazemos no oceano”, diz Elemans.
O novo estudo demonstrou como o ruído produzido pela atividade humana no oceano poderia impedir as baleias de se comunicarem por longas distâncias.

Esse conhecimento pode ser vital para a conservação das baleias jubarte, das baleias azuis e de outros gigantes do mar que estão ameaçados de extinção.
A pesquisa também fornece mais detalhes sobre perguntas que os cientistas fazem há décadas sobre estas canções misteriosas — que alguns marinheiros costumavam atribuir a fantasmas ou criaturas marinhas míticas.
Vídeo: Desvendando o canto das baleias
Kate Stafford, especialista em comunicação de baleias da Universidade do Estado do Oregan, nos EUA, classificou o estudo recente como “inovador”.
“A produção e a recepção do som é o sentido mais importante para os mamíferos marinhos, por isso qualquer estudo que elucide como eles emitem sons tem o potencial de avançar o conhecimento”, disse
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A pesquisa também traçou um quadro evolutivo da espécie
A pesquisa também traça um quadro evolutivo — de como os ancestrais das baleias retornaram da terra aos oceanos e as adaptações que tornaram possível a comunicação debaixo d’água.

O diagrama ilustra a evolução dos mamíferos, com os cetáceos (como a jubarte) sendo um grupo que se adaptou à vida aquática, mas que ainda tem laços evolutivos claros com mamíferos terrestres.
Delfim (Golfinho): A jubarte é mais intimamente relacionada ao golfinho, pois eles compartilham um ancestral comum mais recente.
Cachalote (Baleia Cachalote): A baleia cachalote é a próxima parente mais próxima, compartilhando um ancestral com a jubarte e o golfinho um pouco antes.
Hipopótamo: Em seguida, o hipopótamo é o parente terrestre mais próximo, indicando que a linhagem dos cetáceos (baleias e golfinhos) e a dos hipopótamos divergiram de um ancestral comum.
Porco e Vaca: Mais distantes, a linhagem se conecta a mamíferos como o porco e a vaca, mostrando a origem evolutiva comum de todos esses animais.
A forma como as chamadas baleias com cerdas produzem som é melhor compreendida, porque os animais são mais fáceis de estudar.
Esse grupo de mamíferos marinhos, que também inclui os golfinhos, as orcas, as cachalotes e os botos, sopram o ar através de uma estrutura especial nas cavidades nasais.
Ellen Garland, da Unidade de Pesquisa de Mamíferos Marinhos da Universidade de St Andrews, na Escócia, conta que sempre se perguntou como as baleias de barbatanas — especialmente as jubartes — realmente produzem uma grande variedade de sons.
“Estudar baleias grandes é extremamente desafiador, na melhor das hipóteses, mas tentar descobrir como elas produzem som quando você nem consegue vê-las debaixo d’água enquanto vocalizam é um nível adicional de dificuldade. Por isso, os pesquisadores precisam ser muito criativos.”
Stafford acrescentou que a capacidade dos mamíferos de emitir sinais vocais tão complexos é “notável” e destacou “quão especiais estes animais são”.
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É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
BALEIA JUBARTE: A CANTORA DO OCEANO TEM O CANTO DESVENDADO
Bibliografia
Revista Nature
Evolutionary novelties underlie sound production in baleen whales
BBC