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Vacina de dose única do Butantan contra dengue com tecnologia nacional e produzida pelo Instituto Butantan se mostrou eficaz e segura contra os sorotipos da dengue DENV-1 e DENV-2. A última etapa dos testes clínicos mostrou segurança e alta eficácia entre pessoas de 2 a 60 anos.

Os dados do ensaio clínico de fase 3, realizado com 16.235 participantes em 16 centros de pesquisa espalhados pelo Brasil, foram divulgados no artigo publicado no The New England Journal of Medicine.

Por idade, a eficácia foi de 80,1% entre os participantes de 2 a 6 anos de idade, 77,8% entre aqueles de 7 a 17 anos de idade e 90,0% entre aqueles de 18 a 59 anos. Já a eficácia contra DENV-1 foi de 89,5% e contra DENV-2 foi de 69,6%. DENV-3 e DENV-4 não foram detectados durante o período de acompanhamento.

A Butantan-DV é uma vacina tetravalente, projetada para proteger contra os quatro sorotipos do vírus da dengue– Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Governo do Estado de São Paulo/Flickr e Reprodução/Freepik

Busca para vacina única eficaz para quatro tipo de dengue

Durante o período de estudo, os sorotipos DENV-3 e DENV-4 não foram detectados. Mesmo assim, o diretor do Instituto Butantan afirma que os pesquisadores estão atentos. “A vacina funcionou muito bem contra os tipos um e dois. Estamos acumulando mais informações contra os tipos 3 e 4, incluindo a indução de anticorpos contra a dengue.”

De acordo com Esper Kallás, a vacina produzida pelo Butantan apresenta vantagens em relação às demais. “A distribuição de idade que pode ser vacinada é mais elástica. Começa em crianças a partir de dois anos de idade”, explica. (Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Incidência cumulativa de dengue confirmada no seguimento de dois anos dos participantes – Crédito: adaptado do artigo publicado na The New England Journal of Medicine.

“Em termos gerais, depois de dois anos [esse resultado de] 80% é excelente para esses dois tipos. Existem pequenas variações da faixa etária, mas o que é importante é que a gente tenha tido esse resultado”, relata Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da FMUSP. 

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A Tecnologia de vacinas no Butantan, no Brasil

A Butantan-DV começou a ser desenvolvida por um virologista do National Institute of Health (NIH) nos Estados Unidos. À época, Steve Whitehead buscou maneiras de enfraquecer os diferentes tipos de vírus existentes em seu laboratório.

Deste processo, foram gerados 80 deles até chegar à combinação ideal dos quatro que fariam parte da vacina. “Nessas fases iniciais, os estudos estavam restritos aos Estados Unidos, onde eram feitos testes de cada um dos componentes isolados.

 Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, médico infectologista e professor do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias e do Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USPs – Foto: Reprodução. Jornal da Usp

O então diretor do Instituto Butantan Isaías Raw se interessou pela vacina e assinou um acordo com o NIH para adquirir a fórmula do imunizante no Brasil. Na ocasião, financiamentos da Fapesp foram essenciais para realizar as fases iniciais de transferência de tecnologia, ou seja, trazer o conhecimento da produção da vacina para o Instituto Butantan.

Para transformá-la em um imunizante viável, já que o NIH utilizava um preparado da vacina suspenso em líquido que deveria ser armazenado a uma temperatura de -70ºC, os pesquisadores do Butantan fizeram a liofilização da fórmula.

Logo depois, um grupo de pesquisa escreveu um projeto para iniciar os ensaios clínicos de fase 1 (primeira etapa de testes, em um grupo pequeno de seres humanos, de uma medicação cuja eficácia foi comprovada na fase pré-clínica) no Brasil.

Quando submeteram o projeto, a Anvisa permitiu iniciar os estudos já na fase 2, pois a primeira parte já tinha sido feita nos Estados Unidos. O desafio dos pesquisadores, além de verificar a segurança e a eficácia da vacina em um número pequeno de participantes (300), foi comparar a vacina líquida, produzida nos Estados Unidos, com a vacina em pó, produzida pelo Instituto Butantan.

Até aquele momento, ainda não se sabia quantas doses seriam necessárias para garantir a imunização e se a vacina funcionaria para quem já havia tido dengue.

Durante a pesquisa a equipe documentou algo que nenhum outro estudo tinha mostrado: a vacina do Butantan também tinha capacidade de instruir células do nosso sistema de defesa a combater o vírus, a chamada de imunidade celular.

Isso deu muito ânimo, junto com as boas taxas de produção de anticorpos que começamos a ver, a procurar a Anvisa novamente e dizer que já tínhamos instrumentos suficientes para iniciar a fase 3, que seria o estudo definitivo. A Anvisa aprovou e o projeto passou por vários comitês de ética até ser lançado no primeiro semestre de 2016.

Aumento de casos e a Necessidade de vacinas para a Dengue

Dados do Ministério da Saúde mostram que, nas primeiras semanas de 2024, o Brasil registrou um acumulado de 217.841 casos prováveis de dengue. São 15 mortes confirmadas e 149 estão em investigação.

A vacina contra a dengue do Butantan é um dos poucos produtos desenvolvidos no País que estão tendo sua tecnologia transferida para a multinacional Merck Sharp & Dohme.

Em 2018, a companhia fechou um acordo com o Butantan, concordando em pagar 100 milhões de dólares para ter acesso à tecnologia e poder explorá-la comercialmente fora do Brasil.

Como os testes da vacina estão sendo finalizados, a expectativa é que ela seja enviada em breve para aprovação da Anvisa. 

Política de Uso 

A reprodução de matérias é livre mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space

BUTANTAN: VACINA BRASILEIRA CONTRA DENGUE TEM ALTA EFICÁCIA

Fonte

Jornal da USP

Vacina de dose única do Butantan contra dengue é eficaz e seguirá para aprovação da Anvisa

Instituto Butantan produzirá a primeira vacina de dose única contra a dengue do mundo

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