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Atualizado 7 de junho de 2025 por Sergio A. Loiola

Novas evidências científicas reforçaram a importância da microbiota intestinal, um grupo de trilhões e trilhões de bactérias, vírus, fungos e outros agentes microscópicos, para a saúde do corpo, da mente e das emoções.

Intestino e cérebro estão conectados por três vias diferentes. Getty Images

Isso mostra como o intestino e o cérebro estão conectados e se influenciam mutuamente.

Mas como essa conexão entre órgãos tão diferentes funciona na prática? E será que é possível fortalecer essa ligação para uma vida mais saudável e feliz?

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Conexões intestino-cérebro

Esses dois órgãos estão conectados de três maneiras diferentes, explica a gastroenterologista Saliha Mahmood Ahmed, embaixadora da Bowel Research UK, uma organização britânica que faz pesquisas e campanhas sobre o sistema digestivo.

1- A primeira delas é o nervo vago, uma estrutura muito importante do sistema nervoso que liga diretamente o cérebro a vários órgãos, como o coração e os intestinos.

2- Em segundo lugar, o cérebro e o intestino se comunicam com a ajuda de hormônios. Essas substâncias, como a grelina e o GLP-1, são produzidas por glândulas e enviam sinais por todo o corpo.

3- O terceiro mecanismo envolve o sistema imunológico.

Novas evidências científicas reforçaram a importância da microbiota intestinal, um grupo de trilhões e trilhões de bactérias, vírus, fungos e outros agentes microscópicos, para a saúde do corpo, da mente e das emoções. Imagem gerada pela IA Gemini do Google

O neurogastroenterologista Pankaj Pasricha, da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, destaca que essa conexão especial ocorre porque o cérebro precisa de muita energia para funcionar — e o intestino é a nossa usina de energia.

Ele ressalta que o cérebro representa apenas 2% do nosso peso corporal, mas consome 20% da energia produzida no corpo.

O papel do intestino é justamente “quebrar” os alimentos em moléculas simples e absorvê-las para fornecer o “combustível” para o funcionamento de todo o organismo.

Mas essa é uma relação mútua. Em outras palavras, o cérebro influencia o intestino — mas o intestino também influencia o cérebro.

Vídeo: Intestino é o lugar onde neurônios e macrófagos se falam!

E podemos pensar em vários exemplos disso em nossa vida cotidiana.

Nessas situações, podemos experimentar náuseas, cólicas ou até diarreia.

Além disso, quando estamos apaixonados, sentimos o típico “frio na barriga”, ou aquela sensação emocional relacionada à excitação de estar perto de alguém de quem gostamos muito.

Por outro lado, se você estiver constipado e não for ao banheiro por vários dias, isso pode causar irritação e estresse — algo que em português descrevemos como “enfezado”, cujo significado literal é “cheio de fezes”.

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Um mundo inteiro dentro da sua barriga

Nosso intestino abriga entre 10 e 100 trilhões de células de outros organismos, o que inclui bactérias, vírus, fungos, protozoários e outros agentes microscópicos.

Esse número supera a quantidade de células “próprias” que uma pessoa possui.

Especialistas explicam que essa comunidade abundante tem uma relação simbiótica conosco.

Elas obtêm nutrientes dos alimentos que ingerimos, mas também nos ajudam a digerir alguns ingredientes que não somos capazes de processar sozinhos.

Nas últimas duas décadas, o conhecimento sobre a microbiota e a influência dela em nossa saúde cresceu consideravelmente.

Vídeo: Intestino: o segundo cérebro

Ahmed explica que novas ferramentas e testes desenvolvidos por cientistas ajudaram a mensurar os microrganismos que habitam o intestino e também a entender como eles influenciam o desenvolvimento de certas doenças.

Em 2011, o neurogastroenterologista liderou um estudo pioneiro com cobaias. No trabalho, ele observou que a irritação gástrica nos primeiros dias de vida “pode ​​induzir um aumento duradouro da depressão e de comportamentos ansiosos”.

Outras pesquisas mostraram que a disbiose — ou uma microbiota intestinal desequilibrada — está associada à obesidade, às doenças cardiovasculares e até mesmo ao câncer.

No entanto, Pasricha ressalta que não temos evidências suficientes para estabelecer uma relação clara de causa e efeito, ou se problemas encontrados na microbiota intestinal são de fato a origem de diversas doenças.

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A receita para uma boa microbiota

Dadas as recentes descobertas sobre a microbiota e a conexão intestino-cérebro, será que é possível alcançar um equilíbrio perfeito dos agentes microscópicos que vivem na nossa barriga?

Ahmed explica que não há uma “receita de bolo” aqui, pois cada pessoa tem uma composição diferente de bactérias, vírus e outros agentes.

Especialistas dizem que alimentos que contêm certos tipos de bactérias são bons para o sistema digestivo. Getty Images

Mas os especialistas afirmam que existem algumas intervenções gerais que são consideradas benéficas para a saúde intestinal.

Ter uma dieta variada e equilibrada, por exemplo, é um bom começo.

Probióticos — ou alimentos que contêm certos tipos de bactérias benéficas para o sistema digestivo, como iogurtes naturais, kefir e kombucha — e prebióticos — ou seja, ingredientes ricos em fibras que nutrem a microbiota, como frutas e vegetais — também devem ser protagonistas das refeições.

A gastroenterologista recomenda que todos reflitam sobre a quantidade de frutas, verduras, grãos integrais, leguminosas, nozes, sementes e especiarias incluídos em cada refeição.

Ahmed destaca estudos que mostram um microbioma saudável em pessoas que comem, em média, 30 alimentos de origem vegetal por semana.

Mas será que uma mudança na dieta pode influenciar as emoções e até mesmo ajudar a combater doenças como a depressão?

Um estudo conduzido na Universidade de Oxford, no Reino Unido, traz algumas pistas sobre isso.

Os especialistas reuniram 71 voluntários com depressão e os dividiram em dois grupos. O primeiro recebeu probióticos por 4 semanas, enquanto a segunda turma tomou placebo (uma substância sem qualquer efeito terapêutico).

O estudo foi randomizado e duplo-cego, o que significa que os cientistas e os participantes não sabiam quem tomou o quê.

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Indicadores do humor, ansiedade, sono e cortisol

Durante o experimento, os especialistas realizaram diversos testes para medir indicadores como humor, ansiedade, sono e cortisol (um hormônio relacionado ao estresse).

Especialistas dizem que a variedade de alimentos, com foco em frutas e vegetais, é o melhor caminho para uma microbiota saudável. Getty Images

A psicóloga clínica Rita Baião, que liderou o estudo, explica que pessoas com depressão tendem a focar mais em sentimentos e expressões faciais negativas em relação a estímulos considerados neutros ou positivos.

Baião acredita que os probióticos podem ajudar a aliviar alguns sintomas depressivos — mas mais pesquisas são necessárias para confirmar esse achado inicial.

Pasricha entende que alterar a composição da microbiota pode levar décadas para surtir qualquer alteração em termos de saúde.

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CIÊNCIA REVELA RELAÇÃO ENTRE CÉREBRO, INTESTINO E EMOÇÕES  

Bibliografia

Canal USP

Intestino é o lugar onde neurônios e macrófagos se falam!

BBC

A incrível conexão entre intestino e cérebro que influencia a saúde e as emoções

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