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A tecnologia DIY (Do It Yourself – Faça Você Mesmo) para a mente animal é uma abordagem inovadora que permite aos cientistas estudar o comportamento e a cognição animal de maneira mais acessível e personalizada.

Assim, os cientistas constroem dispositivos engenhosos para estudar o comportamento animal, como o mercado de “casas” dos caranguejos-eremitas.

Com a metodologia “faça você mesmo” constroem ferramentas para estudar pássaros inteligentes como papagaios e corvos, as estrelas dos estudos sobre inteligência aviária. Produzem caixa inteligente para guaxinins. E  rastreadores oculares de aranhas saltadoras.

Veremos como são usados alguns destes dispositivos para estudar a cognição e a mente dos animais.

A criatividade no estudo do comportamento animal

Estudar a mente de outros animais apresenta um desafio que psicólogos humanos geralmente não enfrentam: os “sujeitos” não conseguem dizer o que estão pensando.

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Para descobrir por que os animais se comportam de determinadas maneiras, os cientistas precisam elaborar experimentos criativos, muitas vezes projetando e construindo equipamentos experimentais do zero.

As invenções DIY dos cientistas variam de incrivelmente simples a extremamente complexas, todas adaptadas para responder perguntas específicas sobre a vida e a mente de diferentes espécies, de insetos a elefantes.

Será que as abelhas precisam de uma boa noite de sono? O que as aranhas saltadoras acham atraente? Falcões gostam de resolver quebra-cabeças? Para questões como essas, equipamentos prontos não são suficientes.

Abelha melífera .  York University, Kathleen Dogantzis, Faculdade de Ciências

A máquina de despejo foi inspirada pela curiosidade de Laidre sobre os caranguejos. Mas, às vezes, novas perguntas surgem de dispositivos ou tecnologias intrigantes, como outro de seus inventos: a sala de fuga para caranguejos-eremitas.

Por trás da troca de conchas dos caranguejos-eremitas tem um mercado imobiliário

Na busca por entender o mercado imobiliário dos caranguejos-eremitas, o biólogo Mark Laidre, do Dartmouth College, precisou ser criativo. Esses caranguejos estão sempre em busca de conchas maiores e melhores para morar, mas um bom abrigo vem com riscos.

Às vezes, os caranguejos formam grupos para expulsar um ocupante de uma concha especialmente desejada. Quando conseguem, o maior membro do grupo reivindica a concha, deixando uma nova concha aberta para outro caranguejo ligeiramente menor, em uma cadeia de trocas até que todos tenham “melhorado de vida.”.

Para avaliar melhor o equilíbrio entre o tamanho da concha e sua defensibilidade, Laidre colaborou com um engenheiro para criar a máquina de despejo de caranguejos-eremitas.

Nomes comuns: caranguejo-eremitabernardo-eremitapagurocaranguejo-ermitão e casa-alugada

O dispositivo segura uma concha ocupada e mede a força necessária para um cientista retirar o caranguejo (sem causar danos ou deixá-lo desabrigado). Essencialmente, é uma célula de carga portátil projetada para resistir ao sol, areia e umidade do ambiente de campo.

A força necessária para despejar um caranguejo-eremita é uma métrica vital, pois manter suas casas é questão de vida ou morte para eles.

Em sua área de estudo, uma praia na Costa Rica, um caranguejo desabrigado pode rapidamente sucumbir a predadores ou ao calor: “Você literalmente está condenado.”.

A caixa de inovação para estudar a inteligência falcões

Pássaros inteligentes como papagaios e corvos são estrelas dos estudos sobre inteligência aviária. Agora, eles têm um novo rival: os falcões.

Embora não sejam conhecidos por resolver problemas criativos, a ecóloga comportamental Katie Harrington, da Universidade de Medicina Veterinária de Viena, suspeitava que os caracarás estriados das Ilhas Malvinas eram diferentes.

Para testar suas habilidades, Harrington se inspirou em uma “arena de inovação” projetada para cacatuas-de-goffin, membros da família dos papagaios famosos por resolverem problemas.

Caracara estriado na Ilha Saunders

Essa arena semicircular possui 20 caixas de plástico transparente contendo quebra-cabeças que liberam recompensas, como castanhas ou grãos de milho.

Como transportar a arena de dois metros para as Malvinas era inviável, Harrington projetou uma versão compacta, a caixa de inovação, com apenas 40 cm de largura, oito compartimentos e quebra-cabeças adaptados dos estudos com papagaios.

Os falcões adoraram. “Eles corriam a toda velocidade para participar”, conta Harrington. Os desafios incluíam derrubar pedaços de carne de carneiro balançando tábuas ou puxar galhos debaixo de plataformas. Alguns falcões resolveram quebra-cabeças que até cacatuas haviam achado difíceis.

De 15 falcões, 10 resolveram todos os quebra-cabeças, a maioria em apenas duas sessões. Harrington então criou novos desafios mais difíceis, mas alguns exigiam movimentos não naturais para os caracarás. Ela pretende continuar desenvolvendo tarefas que revelem o que esses pássaros são física e mentalmente capazes de fazer.

A caixa inteligente para guaxinins

Por que os guaxinins se adaptam tão bem à vida urbana? Uma teoria é que isso se deve à sua flexibilidade cognitiva. Para testar essa ideia, a ecóloga cognitiva Lauren Stanton, da UC Berkeley, adaptou um experimento clássico de laboratório chamado tarefa de aprendizado reverso.

Guaxinim em habitat natural

Nesse teste, um animal é recompensado ao escolher consistentemente uma das duas opções. Depois, a resposta correta é invertida, e a outra opção passa a dar a recompensa. Animais flexíveis aprendem a reagir mais rapidamente às mudanças.

Para testar guaxinins selvagens na cidade de Laramie, Wyoming, Stanton e sua equipe construíram caixas inteligentes equipadas com antenas para identificar animais previamente capturados e microchipados.

Dentro da caixa, havia dois grandes botões, adquiridos de um fornecedor de fliperamas, que os guaxinins podiam pressionar para obter uma recompensa. Um Raspberry Pi, alimentado por bateria de motocicleta, registrava os botões pressionados e alterava o botão correto após nove escolhas corretas.

Muitos guaxinins — e até alguns gambás — participaram com entusiasmo, dificultando a coleta de dados limpos.

O rastreador ocular de aranhas saltadoras

as aranhas saltadoras é seu comportamento curioso. “Elas parecem estar sempre curiosas”. Ecóloga comportamental Elizabeth Jakob

Diferente de outros aracnídeos, que passam a maior parte do tempo imóveis em suas teias, as aranhas saltadoras são ativas, caçando presas e cortejando parceiros. Jakob está interessada no que ocorre dentro de seus cérebros minúsculos, do tamanho de uma semente de gergelim. O que importa para essas pequenas aranhas?


Para buscar respostas, Jakob observa seus olhos, particularmente os dois principais, que possuem visão em cores de alta definição no centro de suas retinas em forma de bumerangue. Ela usa uma ferramenta baseada em um oftalmoscópio, modificada há mais de meio século para estudar os olhos das aranhas saltadoras.

Gerações de cientistas, incluindo Jakob e seus alunos da UMass Amherst, aprimoraram o dispositivo, transformando-o em um “mini cinema” que rastreia os movimentos dos tubos retinais por trás dos olhos principais das aranhas.

Uma aranha é posicionada diante do rastreador, enquanto um vídeo, como a silhueta de um grilo, é projetado pelas lentes diretamente em seus olhos.

Simultaneamente, um feixe de luz infravermelha é refletido nas retinas da aranha e gravado por uma câmera. A gravação dessas reflexões é sobreposta ao vídeo, revelando exatamente para onde a aranha olhava.

O rastreador ocular de Jakob também inspirou experimentos criativos de outros cientistas. O ecólogo visual Nate Morehouse, da Universidade de Cincinnati, usou o dispositivo para descobrir que as fêmeas de uma espécie de aranha saltadora não estão tão interessadas nas máscaras vermelhas brilhantes ou nas pernas verdes dos machos.

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A reprodução de matérias é livre mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space 

DESCUBRA O QUE OS ANIMAIS PENSAM COM A TECNOLOGIA “FAÇA VOCÊ MESMO”

Fonte

O que as aranhas pensam? Como a tecnologia DIY está revelando a mente animal

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