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Dados do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) sugerem que a energia escura, responsável pela expansão acelerada do Universo, pode estar variando ao longo do tempo, diferentemente do que se pensava. Se confirmado, esse fato mudará drasticamente a visão acerca das constantes cosmológica e do Universo.

Estudos recentes sugerem que a energia escura, responsável pela expansão acelerada do Universo, pode não ser constante, mas sim variar ao longo do tempo. 

Essa possibilidade desafia a atual compreensão do cosmos e pode ter implicações significativas para as teorias cosmológicas. 

Os dados mostram que nossa visão do Universo precisa mudar

Os dados mostram que nossa visão do Universo precisa mudar. [Imagem: KPNO/NOIRLab/NSF/AURA/R.T. Sparks]

Quando ouvimos que 25% do cosmos é composto de matéria escura, 75% de energia escura, e apenas 5% da matéria comum, de que são feitas as estrelas e planetas e tudo o mais, estamos falando do Modelo Padrão da Cosmologia, uma teoria científica chamada modelo Lambda-CDM (Λ-CDM).

No ano passado, os primeiros dados do Instrumento Espectroscópico de Energia Escura (DESI) indicaram que o a energia escura está “evoluindo” ao longo do tempo, em vez de permanecer constante

O DESI é instrumento constituído por 5 mil fibras ópticas, cada uma delas funcionando como um telescópio controlado roboticamente, que ficam escaneando galáxias em alta velocidade.

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Agora, a equipe do DESI liberou dados muito mais representativos, resultantes de três anos de observações – são 10 vezes mais dados e cobrindo sete vezes a área do céu em relação aos dados anteriores.

Esta fatia dos dados DESI mapeia objetos celestes da Terra (centro) a bilhões de anos-luz de distância. Entre os objetos estão galáxias brilhantes próximas (amarelo), galáxias vermelhas luminosas (laranja), galáxias de linha de emissão (azul) e quasares (verde). A estrutura em larga escala do Universo é visível na imagem inserida, que mostra a região de pesquisa mais densa e representa menos de 0,1% do volume total do levantamento. [Imagem: Claire Lamman/DESI Collaboration]

Se a Energia escura muda no tempo o Modelo de Constantes Cosmológicas precisa ser modificado

Segundo o modelo padrão, a energia escura, representada pela constante cosmológica Λ, seria a responsável pela aceleração da expansão do Universo, mantendo uma densidade de energia constante ao longo do tempo.

Mesmo antes dos resultados do DESI, a tensão de Hubble já havia criado uma crise na cosmologia. [Imagem: NASA/ESA/Adam G. Riess et al. (2022)]

Embora vários cientistas já defendam abertamente que a energia escura não existe, a maioria da comunidade científica esperava que um volume maior de dados anulasse aquela conclusão inicial do DESI, que poderia ser algum viés de um pequeno conjunto de observações.

Ocorre, contudo, que o efeito ficou mais forte, atingindo uma significância de 4,2 sigmas. É necessário atingir 5 sigmas para que um resultado seja considerado uma “descoberta”.

A expectativa é que os 5 sigmas sejam atingidos com mais dois anos de observações do DESI. Mas a significância atual equivale a dizer que há 0,001334% de probabilidade de o resultado ser devido ao acaso, tornando muito remota a possibilidade de uma reversão do resultado.

Nova Compreensão do Universo começa a surgir

Supondo que a conclusão se mantenha, então o Universo pode ser muito diferente da imagem que atualmente temos dele.

Se a energia escura continuar se tornando mais fraca, o efeito da aceleração da expansão do Universo pode desaparecer com o tempo, viabilizando cenários como o “Big Crunch”, o oposto do Big Bang, quando o cosmos começará a se contrair até eventualmente colapsar sobre si mesmo.

O DESI fez o maior mapa 3D do nosso Universo até hoje. A Terra está no centro desta fina fatia do mapa completo. Na seção ampliada, é fácil ver a estrutura subjacente da matéria em nosso Universo. [Imagem: Claire Lamman/DESI]

Expansão em ritmo decrescente, ou variável para o Universo

Os primeiros resultados de um dos maiores esforços para tentar compreender a expansão do Universo trouxe resultados surpreendentes, mostrando que o  motor dessa expansão, conhecido como energia escura, pode não se comportar exatamente como os cientistas pensavam.

Ilustração da luz de quasares passando por nuvens intergalácticas de gás hidrogênio. A análise dessa luz traz informações sobre a estrutura cósmica. [Imagem: NOIRLab/NSF/AURA/P. Marenfeld/DESI]

O instrumento está coletando luz das partes mais distantes do Universo, o que permite mapear o cosmos tal como era na sua juventude e traçar a sua evolução até ao que é observado hoje.

A compreensão de como o Universo evoluiu está ligada à forma como ele poderá “acabar”. Mas o interesse mais imediato se volta agora para um dos maiores mistérios da física:

A novidade é que, ao contrário do que propõe o modelo do Universo mais aceito hoje pelos cientistas, a energia escura pode variar no tempo: Os dados sugerem que a energia escura pode estar perdendo força, o que significa dizer que a expansão do Universo pode estar desacelerando.

A conclusão tem uma significância que os físicos chamam de 3 sigmas, sendo que é necessário chegar a 5 sigmas para que um resultado seja taxado como uma “descoberta”.

Novos Modelos do Universos Cosmológicos para o Universo Surgem

O modelo do Universo mais aceito hoje é conhecido como Lambda-CDM, que inclui a matéria comum, um tipo de matéria desconhecido e que parece não interagir com nada, por isso chamada matéria escura fria (CDM: Cold Dark Matter), e a energia escura, conhecida como lambda.

Tanto a matéria escura como a energia escura moldam a forma como o Universo se expande, mas de maneiras opostas: através da atração gravitacional, a matéria e a matéria escura retardam a expansão, enquanto a energia escura a acelera. A quantidade de cada uma influencia como o Universo evolui.

Mais recentemente, outros modelos têm ganho atenção devido à sua crescente capacidade de explicar os dados observacionais. Essas novas explicações incluem a teoria MOND, uma sigla em inglês para Dinâmica Newtoniana Modificada, e uma Teoria da Relatividade Modificada.

Desaceleração do Universo

Quando os dados coletados pelo DESI durante este primeiro ano de funcionamento foram combinados com dados de outros observatórios, o que se vê são diferenças importantes em relação ao que o modelo Lambda-CDM prevê.

Nesse modelo, o comportamento da energia escura é descrito por uma “equação de estado”, que descreve como a “pressão da energia escura” – sua força oposta à da gravidade – se relaciona com a sua densidade. E o modelo assume que essa equação de estado é constante ao longo do tempo. Os dados do DESI contestam isto, mostrando que a densidade da energia escura pode variar ao longo do tempo.

À medida que a luz de um quasar distante passa através do gás no espaço (imagem anterior), certos comprimentos de onda de luz são absorvidos. O traçado das linhas de absorção revela a “floresta Lyman-alfa” (enfatizada em marrom e verde) e fornece informações sobre as nuvens de gás entre nós e o quasar. [Imagem: David Kirkby/DESI]

Mais dados também melhorarão outros resultados iniciais do DESI, que avaliam a massa de partículas chamadas neutrinos e a constante de Hubble, uma medida da rapidez com que o Universo está se expandindo hoje, e que é alvo de um debate acalorado porque essa “constante” tem valores diferente dependendo do modo como é medida – esse debate hoje é conhecido como tensão de Hubble”.

“Seja qual for a natureza da energia escura, ela moldará o futuro do nosso universo. É notável que possamos olhar para o céu com nossos telescópios e tentar responder a uma das maiores perguntas que a humanidade já fez.”

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É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space  

ENERGIA ESCURA PODE SER VARIÁVEL NO TEMPO

Observatório Nacional – Brasil

Observatório DESI

The Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI)

Site Inovação Tecnológica

Expansão do Universo pode estar desacelerando

Energia escura não é o que pensamos, o que muda nossa visão do Universo

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