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Atualizado 3 de maio de 2025 por Sergio A. Loiola

Gobekli Tepe é um sítio arqueológico enigmático de construção megalítica, encontrado na atual Turquia, feito há 11,5 mil anos por Sociedades de caçadores-coletores nômades ou seminômades, antes de surgimento da agricultura.

O sítio arqueológico de Gobekli Tepe, com 11,5 mil anos, demonstra que as sociedades no período Neolítico estavam bastante sofisticadas e organizadas, antes que agricultura favorecesse os assentamentos humanos em cidades.

Os numeros e a imponência das construções impressionam mais quando foi descoberto que não havia agricultura na época.

Após a descoberta do sítio arqueologico de Gobekli Tepe vários outros sitios associados aos povos de Gobekli Tepe foram descobertos na mesma região da Turquia. O que indica uma rede de Vilas, comércio de longa distância, rede trocas, e organização social antes da agricultura.

1- Os Pilares são retangulares esculpidos em pedra, de 5 a 20 toneladas;

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2- As construções têm com formato circular, Diâmetro de 10 a 30 metros.

3- Existem 16 formações circulares abaixo do nível do solo. Uma sobreposta a outra. Construídas e enterradas no mesmo local após algumas décadas;

4- Os pilares foram decorados com relevos esculpidos de animais e figuras abstratas.

Esses objetos eram chamados de ‘base de pilar portátil’ na época devido à semelhança observada entre esses objetos e os dois pedestais do chamado ‘templo de pedra’, uma estrutura escavada na rocha natural, agora numerada como recinto E (Schmidt 2006. Fig. 35). Os pedestais têm um orifício oval em forma de banheira no meio do objeto. Já no primeiro ano de investigações, 1995, foi dada uma explicação para eles, que agora foi confirmada: eles foram identificados como as bases dos pilares centrais (agora perdidos) do templo de pedra. A função dos furos foi reconstruída de forma que a parte inferior dos pilares fosse encaixada e fixada ali. Sua função era obviamente a de uma pedra de vigia; não está claro apenas se a pedra foi colocada verticalmente na parede do recinto ou horizontalmente no meio do telhado — se é que um telhado existiu, esta é uma questão sem resposta. foto Klaus Schmidt

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GOBEKLI TEPE: A ANTIGA CONSTRUÇÃO QUE TERIA ‘INVERTIDO’ A HISTÓRIA

Gobekli Tepe. Localização; Turquia.

Quando o arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a escavar no topo de umacolina turca ele se deparou com algo surpreendente, as construções que descobriu eram fora do comum, até mesmo únicas.

No topo de um planalto de calcário perto de Urfa chamado Göbekli Tepe, que em turco significa “monte com barriga”, Schmidt encontrou mais de 20 cercados circulares de pedra.

O maior tinha 20 m de diâmetro, um círculo de pedra com dois pilares de 5,5 m de altura esculpidos primorosamente no centro.

As colunas de pedra, figuras humanas estilizadas com as mãos juntas, um tanto sinistras, e cintos de pele de raposa, pesavam até 10 toneladas.

 Gobekli Tepe. Foi encontrada nos recintos C e D, que estão em escavação há mais de dez anos. Um piso de granilite foi previsto, já que tal piso havia sido escavado no recinto B. Mas em ambos os recintos o piso era de rocha natural, cuidadosamente alisada. Como no recinto E – o chamado ‘Felsentempel’ localizado fora do monte no planalto ocidental – dois pedestais, onde um par central de pilares em forma de T foi erguido, foram cortados da rocha no centro de ambos os recintos C e D. Mas, ao contrário do recinto E, onde nenhum pilar ou parede sobreviveu aos milênios, ou do recinto C, onde os pilares centrais foram destruídos na antiguidade, ambos os pilares centrais no recinto D sobreviveram sem danos e com uma altura de tirar o fôlego de 5,5 m, tendo permanecido no local por mais de 11.000 anos. foto Klaus Schmidt

As construções tinham 11,5 mil anos ou mais, fazendo delas as mais antigas estruturas monumentais de pedra conhecidas da humanidade, erguidas para servir de abrigo, ou para algum outro propósito.

Após uma década de trabalho, Schmidt chegou a uma conclusão surpreendente.

As ferramentas de pedra e outras evidências que Schmidt e sua equipe encontraram no local revelaram que os cercados circulares haviam sido construídos por caçadores-coletores.

Dezenas de milhares de ossos de animais que foram descobertos eram de espécies selvagens e não havia evidências de grãos ou outras plantas cultivadas na prospecção inical. Mas isso seria alterado com novos achados.

Schmidt achou que esses caçadores-coletores haviam se reunido 11,5 mil anos atrás para esculpir os pilares em forma de T de Göbekli Tepe com ferramentas de pedra, usando a rocha calcária da colina sob seus pés como uma pedreira.

Esculpir e transportar as colunas teria sido uma tarefa hercúlea, mas talvez não tão difícil quanto parece à primeira vista.

Gobekli Tepe. Recinto D visto do oeste no outono de 2009 durante os trabalhos de preparação para a consolidação da verticalidade dos pilares centrais (foto Klaus Schmidt, DAI).

O calcário é macio o suficiente para ser trabalhado com uma pedra ou até mesmo com as ferramentas de madeira disponíveis na época, com treino e paciência.

E como as formações de calcário da colina eram camadas horizontais com entre 0,6 m e 1,5 m de espessura, os arqueólogos que trabalham no sítio arqueológico acreditam que os antigos construtores tiveram que cortar o excesso das laterais, mais do que da parte de baixo.

Schmidt imaginava que pequenos bandos nômades de toda a região eram motivados por suas crenças a unir forças no topo da colina para projetos de construção periódicos, realizar grandes festas e depois se dispersar novamente.

A interpretação inical acerca da construção de Gobekli Tepe por Schmidt, é que poderia ter sido um centro de rituais, talvez algum tipo de cemitério ou complexo de culto à morte, em vez de um assentamento.

Contudo, após inumeras descobertas no próprio sítio, e na região, as interpretações foram aperfeiçoadas e mudaram.

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A teoria clássica sobre a evolução de sociedades até a civilização foi desconstruída

Gébekli Tepe — Construção megalítica feita por caçadores coletores da Idade da Pedra. Novos resultados de escavações em andamento, com foco especial em esculturas e altos-relevos. foto Klaus Schmidt

Os arqueólogos há muito tempo pensavam que rituais complexos e religiões organizadas eram luxos que as sociedades desenvolveram apenas quando começaram a domesticar animais e cultivar plantações, uma transição conhecida como período Neolítico.

A ideia seguia a teoria clássica sobre a evolução de sociedades até a civilização: uma vez que tivessem um excedente de comida, eles poderiam dedicar seus recursos extras a rituais e monumentos.

E Schmidt achava que ninguém morava lá em tempo integral. Ele chamava o local de “catedral em uma colina”. Novas descobertas arqueologicas indicam que Gobekli Tepe seria mais do que um templo ritual.

No entanto, é possivel que rituais complexos e a organização social teriam vindo, na verdade, antes dos assentamentos e da agricultura.

Ao longo de 1 mil anos, a necessidade de reunir grupos nômades em um único lugar para esculpir e mover enormes pilares em T e construir cercados circulares, teria levado as pessoas a dar o próximo passo.

Gobekli Tepe. A forma em T dos pilares pode ser facilmente interpretada como antropomórfica, já que alguns dos pilares parecem ter braços e mãos, indubitavelmente pela cruz nos pilares, um símbolo, correspondendo ao ser humano natural; são, em outras palavras, estátuas de pedra de seres semelhantes a humanos (Schmidt 2006.Fig. 43a). A cabeça é representada por uma interpretação apoiada por um pilar de Nevali Cori, onde uma seção facial mais longa e uma parte posterior da cabeça mais curta são observadas. foto Klaus Schmidt

Por essa interpretação, os rituais e a religião, ao que parecia, teriam lançado a Revolução Neolítica.

As estruturas circulares de Göbekli Tepe mudaram a forma como os arqueólogos olham para os primórdios da civilização. Schmidt, ao publicar seus relatórios, deixou mundo dos especialistas em arqueologia do Neolítico em alvoroço.

As teorias de Schmidt sobre os impressionantes pilares em T e as enormes estruturas especiais circulares do sítio arqueológico fascinaram seus colegas e jornalistas, quando foram publicadas pela primeira vez em meados dos anos 2000.

Reportagens de tirar o fôlego chamavam o sítio arqueológico de local de nascimento da religião; a revista alemã Der Spiegel comparou as pastagens férteis ao redor com o “Jardim do Éden”.

Logo, pessoas de todo o mundo estavam se aglomerando para ver Göbekli Tepe pessoalmente. Em uma década, o topo da colina foi totalmente transformado.

Até a guerra civil na vizinha Síria que interrompeu o turismo na região em 2011, o trabalho no sítio arqueológico muitas vezes entrava em marcha lenta, à medida que ônibus lotados de turistas curiosos se aglomeravam em torno das escavações para ver o que alguns chamavam de “o primeiro templo do mundo”, tornando impossível manobrar os carrinhos de mão pelas vielas estreitas.

Em 2017, os galpões de aço corrugado foram substituídos por galpões de tela e aço de última geração, cobrindo as construções monumentais centrais.

E uma replica de Gobekli Tepe foi construída no Museu de Arqueologia e Mosaico de Şanlıurfa de Urfa, um dos maiores museus da Turquia.

Uma réplica em tamanho real do maior cercado do sítio arqueológico e seus imponentes pilares em T, permitindo que os visitantes tenham uma ideia das colunas monumentais e examinem suas esculturas de perto.

Em 2018, Göbekli Tepe foi adicionado à lista de Patrimônio Mundial da Unesco, e as autoridades de turismo turcas declararam 2019 como o “Ano de Göbekli Tepe”, fazendo do antigo sítio arqueológico o rosto de sua campanha de promoção global.

Mudanças nas escavações, turismo e na interpretação dos significados de Gobekli Tepe

Schmidt, que faleceu em 2014, não viveu para ver a transformação do sítio arqueológico, que de uma escavação empoeirada no topo da montanha virou uma grande atração turística.

Mas suas descobertas despertaram o interesse global pela transição Neolítica, e nos últimos anos, novas descobertas em Göbekli Tepe e análises mais detalhadas dos resultados de escavações anteriores começaram a alterar as interpretações iniciais de Schmidt sobre o sítio arqueológico.

Fragmento de um pilar decorado encontrado nos escombros do recinto D, ao norte do pilar 18 (foto Klaus Schmidt, DAI). Gébekli Tepe — os Santuários da Idade da Pedra. Novos resultados de escavações em andamento, com foco especial em esculturas e altos-relevos. foto Klaus Schmidt

As obras para erguer as fundações necessárias para dar suporte à nova cobertura do sítio arqueológico exigiu que os arqueólogos cavassem mais fundo do que Schmidt já havia feito.

Sob a direção de Lee Clare, sucessor de Schmidt, uma equipe do Instituto Arqueológico Alemão cavou uma série de buracos até o alicerce rochoso do sítio arqueológico, vários metros abaixo do piso das enormes construções.

Esses objetos eram chamados de ‘base de pilar portátil’ na época devido à semelhança observada entre esses objetos e os dois pedestais do chamado ‘templo de pedra’, uma estrutura escavada na rocha natural, agora numerada como recinto E (Schmidt 2006. Fig. 35). Os pedestais têm um orifício oval em forma de banheira no meio do objeto. Já no primeiro ano de investigações, 1995, foi dada uma explicação para eles, que agora foi confirmada: eles foram identificados como as bases dos pilares centrais (agora perdidos) do templo de pedra. A função dos furos foi reconstruída de forma que a parte inferior dos pilares fosse encaixada e fixada ali. Durante as escavações do recinto C em 2008 e do recinto D em 2009, ambos os pares de pilares centrais foram encontrados ainda in situ. Suas bases estão colocadas exatamente no mesmo lugar que os pedestals de rocha, como suposto em 1995 no caso do recinto E (Fig. 22). descobertas em ambas as camadas II e III, embora nenhuma situação tenha sido encontrada confirmando a sugestão de que os pés dos pilares eram fixados por tais armações de pedra portáteis. Uma pedra de tamanho médio deste grupo, por exemplo, foi encontrada no centro do recinto B, imediatamente em frente aos pilares centrais (Schmidt 20006.Fig. 34) (Figs. 20 e 22). Sua função era obviamente a de uma pedra de vigia; não está claro apenas se a pedra foi colocada verticalmente na parede do recinto ou horizontalmente no meio do telhado — se é que um telhado existiu, esta é uma questão sem resposta. foto Klaus Schmidt

Gobekli Tepe na realidade pertencia a uma rede de vilas e casas

As escavações revelaram evidências de casas e assentamentos, sugerindo que Göbekli Tepe não era um templo isolado visitado em ocasiões especiais, mas uma vila próspera com grandes construções especiais em seu centro.

A equipe também identificou uma grande cisterna e canais para coletar água da chuva, fundamentais para oferecer suporte a um assentamento no topo seco da montanha, e milhares de ferramentas de moagem para processar grãos para preparar mingau e fazer cerveja.

Desta foarma, as novas descobertas feitas nos últimos anos podem reescrever a pré-história mais uma vez. Pois Gobekli tepe se revelou ser um assentamento de ocupação permanenete, e não apenas um templo ritual como imaginava Schmidt,.

Gobekli Tepe, mapa esquemático da principal área de escavação na encosta sul e no topo da colina oeste. A posição estratigráfica das estruturas mapeadas em azul (“camada I/II”) não está definitivamente determinada. A camada mais jovem de Gébekli Tepe foi datada do 9º milênio cal. a.C. Foi demonstrado que algumas plantas e animais domesticados já estavam em uso durante este milênio, e que assentamentos elaborados foram construídos, como Nevali Cori, que fica 50 quilômetros ao norte, um local agora submerso pela inundação do lago da barragem de Atatiirk em 1992 (Hauptmann 1991/1992, 1993). A escavação causou sensação na década de 1980, pois abriu pela primeira vez uma nova janela para um mundo até então inesperado da cultura da Idade da Pedra. O tipo de habitação escavada em Nevali Cori, com um espaço de convivência na frente e uma área retangular atrás para armazenamento de provisões, pode ser considerado o proto- A idade da camada III e dos recintos monumentais é impressionante: eles podem ser datados do 10º milênio a.C., uma época em que pessoas em todo o mundo ainda viviam como caçadores-coletores, exceto na região do Crescente Fértil do Oriente Próximo, onde as pessoas começaram a se estabelecer permanentemente e iniciar atividades que levaram à dominação de plantas e animais. E não há dúvida de que o sítio de Gébekli Tepe não era um assentamento mundano do período, mas um sítio pertencente à esfera religiosa, uma área sagrada, uma vez que a escavação não revelou edifícios residenciais. Gdbekli Tepe parece ter sido um centro regional onde as comunidades se reuniam para se envolver em ritos complexos.

Enquanto isso, os arqueólogos turcos que trabalham na zona rural acidentada ao redor de Urfa identificaram pelo menos uma dúzia de outros lugares no topo da colina com pilares em T semelhantes, embora menores, que datam aproximadamente do mesmo período.

O ministro da Cultura e Turismo da Turquia, Mehmet Nuri Ersoy, foi mais longe ao dizer que esta área poderia ser chamada de “pirâmides do sudeste da Turquia”., em anaologia ao siginificado das piramides do Egito, e a maior antiguidade da imponência histórica de Gogekli Tepe.

Novas interperações sugerem que caçadores coletores em Gobekli Tepe tentavam se opor a mudanças

Em vez de um projeto de construção de séculos que inspirou a transição para a agricultura, Clare e outros especialistas agora sugerem que Göbekli Tepe foi uma tentativa de caçadores-coletores se agarrarem a um estilo de vida que desaparecia à medida que o mundo mudava ao seu redor.

Essa mudança era justamante o inicio das experencias com domesticação de animais e plantas.

Gobekli Tepe Os cercados datam do período de transição entre o período huno e o período de transição entre o período huno e o período huno. Fig. 6. Gobekli Tepe 2006, pilar 18 no cercado D (foto Berthold Steinhilber).

Clare argumenta que as esculturas em pedra do sítio arqueológico são uma pista importante.

Esculturas elaboradas de raposas, leopardos, serpentes e abutres cobrindo os pilares e as paredes de Gobekli Tepe “não são animais que você vê todos os dias”, diz ele.

“São mais do que apenas imagens, são narrativas, que são muito importantes para manter os grupos unidos e criar uma identidade compartilhada.”

Göbekli Tepe foi construída 6 mil anos antes de Stonehenge e 7 mil anos antes das grandes Pirâmides do Egito, e o significado exato de suas esculturas, assim como o mundo que as pessoas ali habitavam, é complexo, está sendo desvendado aos poucos.

Cada nova descoberta promete mudar o que sabemos agora sobre o sítio arqueológico e a história da civilização humana.

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É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space  

GOBEKLI TEPE: A INCRÍVEL CONSTRUÇÃO FEITA HÁ 11,5 MIL ANOS

Bibliografia

Klaus Schmidt Gobekli Tepe

Klaus Schmidt Gobekli Tepe

BBC

O mistério da construção mais antiga da história que mudou ideias sobre origem das civilizações

​Sítio Arqueológico de Gobekli Tepe ​

​Sítio Arqueológico de Gobekli Tepe ​

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