Atualizado 6 de maio de 2025 por Sergio A. Loiola
Pesquisa publicada na Revista Nature apresenta fortes evidências da presença de hominídeos na Eurasia há 1,95 milhões de anos atrás, especificamente em um sítio arqueologico na atual Romênia. Recuando em 200 mil anos o tempo de ocupação anterior datado.
O estudo, baseia-se na identificação de vários ossos que indicam ter sido cortados e marcados por hominídeos primitivos usando ferramentas de pedra no sítio de Grăunceanu, Romênia.
Os hominídeos são ancestrais intimamente relacionados aos humanos, que migraram da África para o mundo todo.
Até agora, evidências sugeriam que eles haviam se aventurado na Europa há 1,8 milhão de anos, mas pesquisadores agora conseguiram provar que eles estavam presentes na Europa cerca de 200 mil anos antes, após examinarem ossos fósseis encontrados na Romênia.
A equipe de pesquisadores foi liderado pelos co-pesquisadores principais Sabrina Curran, professora associada da Universidade de Ohio; Alexandru Petculescu do Instituto de Espeleologia “Emil Racoviţă” da Academia Romena; Claire E. Terhune, professora associada da Universidade de Arkansas; e Briana Pobiner do Instituto Smithsonian.
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Os ossos fósseis usados na pesquisa foram econtrados no sítio de Grăunceanu, um sítio arqueológico na Romênia que foi originalmente escavado na década de 1960.
Mais de 5.000 ossos de Grăunceanu e sítios vizinhos foram examinados meticulosamente.
Embora nenhum osso fóssil de hominídeo tenha sido encontrado, os pesquisadores encontraram evidências de marcas de corte em uma seleção de ossos fossilizados, feitas com ferramentas de pedra usadas para remover a carne de animais.
A equipe identificou pelo menos 20 ossos que, segundo eles, apresentam sinais de abate humano, evidenciando a presença de ancestrais humanos primitivos na área.

Datadas de aproximadamente 1,95 milhão de anos atrás, as marcas representam algumas das primeiras evidências do uso de ferramentas e processamento de carne na Eurásia.
A equipe de pesquisa utilizou a datação por urânio-chumbo para determinar a idade dos fósseis, obtendo uma estimativa média de 1,95 milhão de anos, mas com alguns ossos com idade de até 2,01 milhões de anos.
Isso torna Grăunceanu o sítio arqueológico bem datado mais antigo da Europa com evidências de atividade humana.
“As marcas de corte aparecem em posições anatômicas consistentes com a remoção deliberada de carne dos ossos. Sem a presença de fósseis humanos no sítio, não podemos determinar qual espécie de humano primitivo fez essas marcas. É possível que tenham sido feitas pelo Homo erectus, ou mesmo por membros anteriores do nosso gênero.” Dr. Vasile Ersek, especialista em mudanças climáticas passadas e interações homem-ambiente , coautor do artigo
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Antes desta descoberta, acreditava-se que o sítio de Dmanisi, na Geórgia, continha a evidência mais antiga de atividade hominídea fora da África, datada de aproximadamente 1,77 a 1,85 milhão de anos atrás.
A confirmação da idade das marcas estabelece a presença de hominídeas na Eurásia muito antes do que se pensava, fornecendo algumas das primeiras evidências de atividade hominídea nesta área.

Significado da pesquisa para a evolução humana e paleoecologia
Utilizando dentes fósseis de cavalo também encontrados no sítio, o Dr. Ersek conseguiu reconstruir o clima durante esse período no Laboratório de Isótopos Estáveis da Universidade de Northumbria. Ele disse:
“A análise isotópica mostrou que, embora os invernos fossem amenos o suficiente para sustentar animais adaptados ao calor, como pangolins e macacos, o clima era nitidamente mais sazonal do que na África. Isso demonstra que esses primeiros humanos se adaptaram a viver em um clima com invernos chuvosos e verões secos distintos.”
Análises de fauna conduzidas por outros membros da equipe internacional também mostram que eles teriam encontrado uma variedade de nova fauna, incluindo rinocerontes lanudos, tigres dentes-de-sabre, pangolins e mamutes.

Devido à alta concentração de fósseis, mais de 5 mil, os arqueólogos apelidaram o local de “ninho de ossos”.
Se alguém estivesse por lá há 2 milhões de anos, encontraria uma paisagem até familiar: um rio serpenteando entre florestas e pradarias, margens que transbordavam em épocas de cheia e alimentavam solos férteis.
A fauna, porém, revelava um mundo diferente, com avestruzes, pangolins, girafas, tigres-dentes-de-sabre e hienas vagando por uma Europa muito distinta da atual.
O Dr. Ersek acrescentou: “As descobertas têm implicações que vão além da revisão de datas históricas e nos dizem que os primeiros humanos eram notavelmente adaptáveis e capazes de sobreviver em ambientes sazonais europeus muito antes do que se acreditava anteriormente.
A combinação de evidências claras de atividades de açougue e reconstrução climática detalhada fornece uma visão fascinante sobre a vida desses antigos pioneiros.
“Entre a publicação desse estudo, há 15 anos, e hoje, houve uma enorme melhoria nos padrões que aplicamos a esse tipo de pergunta”, disse Pante. “Especialmente em situações como esta, em que é realmente preciso demonstrar, por meio de inúmeras evidências, que se trata de marcas de corte e não apenas de algum outro tipo de arranhão no osso.” Michael Pante. Professor de Antropologia da CSU
Ancestrais humanos na eurasia faziam parte de um grupo espécies altamente adaptável a climas adversos
As descobertas são corroboradas por dados bioestratigráficos e técnicas de datação U-Pb de alta resolução, que estabeleceram a idade do sítio com notável precisão.
Além disso, a equipe utilizou análise isotópica para reconstruir os ambientes que esses hominídeos teriam vivenciado naquela área na época.

Esses resultados indicam que a região teria experimentado flutuações sazonais de temperatura, muito semelhantes às atuais, mas talvez com níveis de precipitação mais elevados.
Reconstruções ambientais baseadas em análises isotópicas da dentição de cavalos sugerem que o lugar do sítio de Grăunceanu teria sido relativamente temperado e sazonal, demonstrando uma ampla tolerância ao habitat mesmo nos primeiros hominídeos na Eurásia.
Os resultados apresentados juntamente com várias outras evidências apontam para uma presença generalizada, embora talvez intermitente, de hominídeos na Eurásia por pelo menos 2,0 milhões de anos.
Isso sugere uma espécie de hominídio que provavelmente migrava sazonalmente, observou Pante.
Era uma espécie capaz de viver nesse tipo de ambiente, possivelmente com a capacidade de controlar o fogo ou criar um tipo de vestimenta para se proteger dos elementos.
“É apenas uma hipótese, mas é provável que eles tivessem tecnologias que desconhecemos, porque não podem ser preservadas no registro arqueológico”, disse ele. “
Mas isso realmente demonstra a adaptabilidade dos nossos ancestrais, que é uma característica importante que todos os humanos compartilham hoje.”
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É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
SÍTIO RECUA OCUPAÇÃO HOMO NA EURÁSIA HÁ 2 MILHÕES DE ANOS
Bibliografia
Nature Comunications
Hominin presence in Eurasia by at least 1.95 million years ago
Colarado State University
Universidade de Northumbria
Citizens discover evidence but antigas of primitive human activity in Europe
Aventuras na História
Ocupação humana na Eurásia ocorreu há 2 quase milhões de anos, sugere estudo