Atualizado 9 de setembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Jovens para sempre: conheça o conceito de imortalidade biológica e os animais que driblam o processo de envelhecimento. A água viva e a hidra são exemplos.
Um espécie de água viva retrocede seu ciclo de desenvolvimento e a hidra regenera suas células a cada 20 dias.

A expectativa é que exemplos da natureza contribuam para o surgimento de novas rotas na medicina.
Vamos conhecer esses fascinantes seres que podem ser “jovens para sempre“.
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O conceito de imortalidade biológica e os animais que driblam o processo de envelhecimento
Todo ser vivo nasce, cresce, se reproduz e morre. Esse é o curso natural, e esperado, da vida – exceto para alguns pouquíssimos animais que têm a incrível capacidade de driblar o envelhecimento e, consequentemente, a própria morte.

Entre as detentoras da receita da imortalidade, duas espécies têm despertado a atenção dos cientistas:
a Hydra vulgaris, um pequeno invertebrado que vive em águas doces e limpas, e
a Turritopsis dohrnii, uma espécie de água-viva originária da região do Meditarrâneo.
A diferença desses animais para o restante dos mortais está no fato de eles conseguirem evitar a senescência: processo biológico que ocorre nas células, caracterizado pela perda gradual da habilidade de se dividir e se renovar.
“Em resumo, significa que se esses bichos não forem predados e nem passarem por nenhum tipo de catástrofe ambiental, eles podem, sim, viver por um período infindável, caracterizando o que a ciência chama de imortalidade biológica”, explica a pesquisadora científica do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan (LETA) Mônica Lopes-Ferreira.
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Segredo da longevidade
O envelhecimento celular, um processo intrínseco à vida humana, foi elucidado pelo médico norte-americano Leonard Hayflick (1928-2024) na década de 1960.
Suas pesquisas demonstraram que as células humanas possuem um “relógio biológico” que limita o número de vezes que elas podem se dividir – algo entre 40 e 60 vezes.

Ao atingir esse limite, as células entram em um estado de senescência, desencadeando uma cascata de eventos que culminam no envelhecimento do organismo e no desenvolvimento de doenças relacionadas à idade.
Escapar da morte, o destino inevitável de todos os seres vivos, só seria então possível caso houvesse uma tecnologia de reparo interno capaz de restaurar as células do organismo ao seu estado mais jovem – algo que ainda não foi realizado em laboratório, mas que já foi registrado na natureza.
Conhecida na comunidade científica como “mestre da imortalidade”, a Hydra vulgaris, um invertebrado milimétrico do grupo dos cnidários, faz exatamente isso ao renovar todas as suas células a cada 20 dias – inclusive as células-tronco, que têm como principal função regenerar e substituir células lesionadas ou perdidas.
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Por que a Hydra não envelhece?
Diferentemente da maioria dos seres vivos, a hidra possui células-tronco espalhadas por todo o organismo; e, devido ao ciclo constante de renovação celular, tais estruturas estão sempre em estágio inicial de desenvolvimento, fase em que podem se transformar em qualquer outro tipo de célula.

Stefan Siebert/Juliano Lab. Fonte: https://biology.ucdavis.edu/news/hydra-and-quest-understand-immortality
Para efeito de comparação, os humanos possuem células-tronco apenas em determinadas partes do corpo (como no sangue do cordão umbilical ao nascer, na medula óssea, no cérebro e na pele), e, à medida que “envelhecem”, elas perdem sua adaptabilidade e só conseguem se transformar em células específicas.
Além de impedir o acúmulo de danos associados ao envelhecimento, a H. vulgaris pode sobreviver à desmembração, regenerando as partes perdidas ou lesionadas do corpo.
Não à toa seu nome tem inspiração na Hidra de Lerna: na mitologia grega, o personagem era uma serpente aquática gigantesca com múltiplas cabeças que, quando cortadas, nasciam novamente.
“É fascinante porque, à primeira vista, estamos falando de um animal totalmente subestimado, mas que pode esconder uma riqueza enorme”, observa Mônica Lopes-Ferreira.
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Agua viva: A “Viajante do Tempo”
Outro organismo incrível que desafia a compreensão dos limites da vida é a Turritopsis dohrnii, uma espécie de água viva conhecida como “viajante do tempo”.

No melhor estilo Benjamin Button – personagem do cinema conhecido por “envelhecer ao contrário”, nascendo velho e morrendo bebê –, essa espécie tem um ciclo de vida único: ao invés de seguir o caminho tradicional de envelhecimento e morte, ela consegue retroceder ao seu estágio primário (pólipo) como resposta a condições ambientais adversas ou em caso de lesões.
“É como se um sapo voltasse à fase de girino ou uma borboleta à de lagarta”, compara a pesquisadora científica do Butantan. O pólipo dará origem a novos indivíduos geneticamente idênticos, recomeçando assim o ciclo de vida, em um processo que pode se repetir indefinidamente.
A capacidade de rejuvenescimento dessa água-viva ainda é um mistério para os cientistas, mas algumas hipóteses tentam explicar o fenômeno.
Assim como no caso da hidra, uma das principais abordagens relaciona as características únicas da T. dohrnii à grande quantidade de células-tronco espalhadas pelo seu organismo, o que favorece a regeneração.
“Também já foi constatado que a espécie possui genes duplicados, contribuindo para o desenvolvimento de um ‘mecanismo de reparo’ do DNA único, muito mais eficiente e que pode estar ligado à questão da longevidade”, afirma a especialista do LETA.
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O tubarão-da-groenlândia é o vertebrado de maior longevidade do mundo
As pistas da imortalidade animal também estão presentes em outras espécies.
Com mais de sete metros de comprimento, o tubarão-da-groenlândia (Somniosus microcephalus) é o vertebrado de maior longevidade do mundo.

Vivendo nas águas profundas da região do Ártico, onde as condições de adaptação são pouco favoráveis, a espécie possui uma expectativa de vida de cerca de 400 anos – há relatos de indivíduos que superaram a marca de 500.
De acordo com Mônica Lopes-Ferreira, o segredo do animal está no metabolismo extremamente lento. Para se ter uma ideia, são necessários 150 anos para que ele atinja a maturidade sexual.
Já na escala milimétrica, a planária – pequeno verme de forma achatada – é um dos organismos mais conhecidos quando o assunto é regeneração: se cortada em diversos pedaços, cada um deles dará origem a um novo espécime.
Mais uma vez, a capacidade de renovação de células-tronco do bicho desempenha papel fundamental para sua “imortalidade”.
Possíveis aplicações na medicina
A busca pela longevidade é uma constante na história da humanidade.
A esperança de um dia superar os limites da vida humana reside no desenvolvimento de tecnologias capazes de reparar os danos celulares causados pelo envelhecimento.

A expectativa é que os exemplos encontrados na natureza contribuam para o surgimento de novas rotas e possibilidades na ciência.
“Acredito que as particularidades dessas espécies possam culminar no desenvolvimento de novos fármacos, por exemplo, mas ainda é algo que vai levar bastante tempo”, diz a pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira.
Segundo ela, um dos passos principais será o mapeamento genético completo das espécies, elucidando assim pontos de convergência entre os “imortais” e os seres humanos.
Além do desenvolvimento de terapias relacionadas ao processo de envelhecimento e o tratamento de lesões, tanto o estudo da Hydra vulgaris como da Turritopsis dohrnii apresentam grande potencial para contribuir com novas abordagens para o tratamento de doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, e também em relação ao uso de células-tronco contra o desenvolvimento e no combate ao câncer.
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O QUE É A IMORTALIDADE BIOLÓGICA E O QUE ISSO SIGNIFICA
Bibliografia
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
O que são células-tronco e qual sua importância para a ciência?
UNIVERSITY OF CALIFORNIA
Hydra and the Quest to Understand Immortality
Instituto Butantan
Natural History Museum