Nature & SpaceNature & Space

Atualizado 27 de novembro de 2025 por Sergio A. Loiola

Arqueólogos e antropólogos desvendaram a complexa teia multi causa que levou ao colapso ecológico e social na Ilha de Pascoa, em que ratos inseridos não intencionalmente e mudanças climáticas tiveram forte impacto.

As pesquisas foram publicadas no Journal of Archaeological Science e na Communications Earth & Environment.

A descoberta resultou de um estudo minucioso de anos, e desfaz a hipótese popular de que a sociedade entrou em colapso no Ilha de Páscoa por que as pessoas teriam derrubado todas as árvores para transportar cabeças de pedra gigantes pela paisagem, devastando ambiente.

A seguir veremos os detalhes dessa descoberta e o que ela muda sobre o que pensávamos sobre a história da Ilha de Páscoa. Em texto, imagens e vídeos.

Qual a influência da ação humana e dos ratos sobre o meio ecológico na Ilha de Pascoa? O que pode ser feito para restaurar os sistemas ecológico na ilha de pascoa? Deixe seu comentário no final!

Nature & SpaceNature & Space

Vídeo 1: Como a civilização da Ilha de Páscoa colapsou, ou se de fato ocorreu um colapso

Vídeo 2: A descoberta dos tabletes de escrita da Ilha de Páscoa

🔔 Inscreva-se na Nature & Space no YouTube, Explore Nossas Coleções Temáticas!

LEIA MAIS

Descoberta do Maior Centro Científico e Ritual Maia Com 3 mil anos Muda História

Teyuna: A Cidade Perdida de 650 anos na Colômbia, Anterior a Machu Picchu

A Pesquisa desconstrói as narrativas populares sobre as estatuas de pedra em Rapa Nui, a Ilha de Páscoa

Pesquisas sobre Rapa Nui – como a ilha é chamada em sua língua indígena – revelam um passado diferente das narrativas até aqui construídas.

A população humana só entrou em colapso com a chegada dos europeus no século XVIII. A perda da floresta da ilha afetou pessoas, mas também milhões de ratos famintos.

Esses ratos não faziam parte do ecossistema nativo da ilha. Eles vieram sem ser percebidos, como intrusos, nos barcos dos antigos polinésios que povoaram a ilha inicialmente.

A relação entre a sociedade agraria da ilha, o ecossistema nativo, os ratos, os invasores europeus e suas novas espécies trazidas do continente europeu formam uma trama com narrativa de historia ambiental complexa.

É importante embarcar nesta trama ecológica, politica e social para compreender todo o processo, e notar que o ambiente também constrói narrativas junto com os humanos.

Nem sempre é somente a ação humana que promove colapsos ecológicos. O ambiente não é passivo e tem suas colaborações. Apreender essa trama é um aprendizado que serve para ampliar a nossa visão sobre a historiografia em geral.

🔔 Inscreva-se na Nature & Space no YouTube, Explore Nossas Coleções Temáticas!

Vídeo 1: Como a civilização da Ilha de Páscoa colapsou, ou se de fato ocorreu um colapso

LEIA MAIS

Decifrado Calendário Maia: 20 Períodos de 819 Dias, 45 Anos

Caral e Peñico: Civilização Megalítica de 5 Mil Anos no Peru

As palmeiras da Ilha de Páscoa: Rapa Nui era coberta por grandes palmeiras, uma espécie agora extinta

O arqueólogo Carl Lipo, da Universidade de Binghamton, e o antropólogo Terry L. Hunt, da Universidade do Arizona, passaram anos estudando Rapa Nui.

Seu estudo recente investiga o que realmente aconteceu com a floresta de palmeiras da ilha.

Muito antes da chegada dos humanos, Rapa Nui era coberta por grandes palmeiras, uma espécie agora extinta, aparentada com a palmeira chilena, Jubaea chilensis.

Essas palmeiras podiam viver até 500 anos e levavam cerca de 70 anos apenas para atingir a maturidade e dar frutos. Quando os europeus chegaram à ilha em 1722, restavam apenas algumas palmeiras.

Os coqueiros, aqueles que muitas pessoas imaginam em praias tropicais, só chegaram na década de 1950.

LEIA MAIS

A Mais Antiga Civilização: Mega Arquitetura Há 11 Mil Anos

Antigos Milharais na Bolívia Ajudaram a Domesticar o Pato

Não há evidências robustas de um colapso demográfico anterior à chegada dos europeus: O povo da ilha havia se adaptado

Outra pesquisa temem desafia a narrativa tradicional sobre o declínio da civilização da Ilha de Páscoa (Rapa Nui).

A pesquisa, liderada por Redmond Stein do Observatório da Terra Lamont-Doherty, revela que uma seca prolongada que durou séculos – e não um “ecocídio” causado por gestão ambiental inadequada – teria sido o fator crucial para transformar a sociedade local a partir de aproximadamente 1550.

Mapa de elevação de Rapa Nui com as fontes de água doce destacadas. Modelo digital de elevação de Rapa Nui (27,15°S, 109,4°W), do Centro Nacional de Informações Ambientais da NOAA. Lagos permanentes e zonas úmidas, incluindo Rano Kao, Rano Raraku e Rano Aroi, estão marcados com estrelas e legendas. Outras fontes de água doce, incluindo nascentes, lagoas, cavernas com infiltração de água subterrânea, puna e descarga de água subterrânea costeira, estão marcadas com círculos azul-marinho. Esses locais foram identificados e mapeados por DiNapoli et al.  no setor leste da ilha, delimitado por linhas pretas contínuas. A localização das plataformas 
Ahu dentro desta área de estudo está marcada com cruzes vermelhas. Fonte: Communications Earth & Environment. https://www.nature.com/articles/s43247-025-02801-4

Os pesquisadores analisaram sedimentos de duas fontes de água doce da ilha – Rano Aroi e Rano Kao – reconstruindo um registro de 800 anos de padrões de chuva através da composição isotópica de ceras foliares preservadas.

Os dados mostram uma redução significativa na precipitação anual, que se manteve baixa por mais de um século.

A pesquisa questiona a visão tradicional que atribui o declínio da civilização exclusivamente ao desmatamento e gestão ambiental inadequada.

Isótopos de hidrogênio da cera foliar em sedimentos de Rano Aroi e Rano Kao. Valores de isótopos de hidrogênio da cera foliar ( ácido n -alcanóico) ao longo do tempo em Rano Aroi e Rano Kao. Fonte: Communications Earth & Environment. https://www.nature.com/articles/s43247-025-02801-4

Diferente de métodos anteriores que podiam ser influenciados por múltiplas variáveis, a análise isotópica das ceras foliares fornece um indicador direto das condições de aridez.

LEIA MAIS

Decifrado Enigma da Arte Rupestre na Amazônia da Era Glacial

A Enigmática Dispersão das Castanheiras na Amazônia

A inserção não intencional do rato polinésio é uma peça chave no colapso do ecossistema da ilha

Quando os navegadores polinésios partiram pelo Pacífico, levaram consigo um completo “kit de sobrevivência”, incluindo cultivos como taro, batata-doce, banana e inhame.

Também levaram cães, galinhas e porcos.

Um passageiro menor também veio neste pacote: o rato polinésio. Este animal é pequeno e arborícola, passando grande parte do tempo em árvores.

🔔 Inscreva-se na Nature & Space no YouTube, Explore Nossas Coleções Temáticas!

Vídeo 2: A descoberta dos tabletes de escrita da Ilha de Páscoa

LEIA MAIS

Calendário Lunar Gravado em Osso de 10 Cm, Há 34 Mil Anos

Pão Antecedeu a Agricultura: Há 14 Mil anos Era Multi Grãos

Os ratos prosperam em um ambiente favorável de clima, alimento e falta de predadores

Ainda se debate exatamente como esses ratos entraram nas canoas polinésias. Eles podem ter embarcado sorrateiramente ou as pessoas podem tê-los levado de propósito como fonte de alimento reserva.

Um naturalista europeu que trabalhava após o contato com os Estados Unidos viu certa vez um homem local caminhando com ratos nas mãos. O homem disse que eram para o almoço.

Ossos de ratos aparecem em antigos depósitos de lixo, ou sambaquis, em muitas ilhas do Pacífico.

Quando os polinésios chegaram a Rapa Nui por volta de 1200 d.C., os ratos encontraram um lugar sem predadores e com um suprimento infinito de nozes de palmeira.

LEIA MAIS

O Sofisticado Sepultamento, Há 28 Mil Anos, Sungir, Rússia

Descoberta Indica: Cometa Causou Era do Gelo Há 12 Mil Anos

Interações sinérgicas entre ratos e humanos impulsionaram o desmatamento em cinco séculos

Juntamente com plantas e animais, os colonizadores polinésios trouxeram métodos agrícolas que haviam funcionado em outras ilhas.

Uma dessas práticas era a agricultura de corte e queima. Os agricultores desmatavam e queimavam áreas da floresta, e as cinzas aumentavam temporariamente os nutrientes do solo.

Invasão de ratos e o declínio das palmeiras nativas . Journal of Archaeological Science. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305440325002377?via%3Dihub

Em ilhas vulcânicas mais antigas, como Rapa Nui, a chuva pode lavar os nutrientes do solo, e esse tipo de estímulo ajudava no crescimento das plantações.

Com os ratos comendo a maior parte das sementes, o ciclo normal de abandono dos campos e retorno gradual das florestas não pôde ocorrer.

O povo da ilha se adaptou, mesmo sem as palmeiras, mudaram a produção de alimentos com a técnica de “cobertura morta com pedras”

Como as palmeiras não voltaram a crescer, as pessoas mudaram de estratégia. Criaram campos cobertos com pedras, uma técnica chamada cobertura morta com pedras.

As rochas ajudavam a reter a umidade, proteger o solo do vento e adicionar partículas de material mineral à medida que se decompunham – tudo isso beneficiava culturas como a batata-doce.

Esculturas Moais da Ilha de Páscoa podem ter sido construídas em colaboração (Foto: Easter Island Ahu/Wikimedia Commons)

Com o desaparecimento das florestas de palmeiras, a produção de alimentos passou a ser feita em terrenos desmatados e jardins cuidadosamente cultivados.

As palmeiras em si não eram árvores de madeira dura; eram mais parecidas com gramíneas gigantes e não podiam fornecer madeira resistente para canoas, casas ou lenha.

LEIA MAIS

Alteração do Campo Magnético Mudou o Clima Há 42 Mil Anos

Povos Antigos Abandonavam Áreas de Clima Hostil no Brasil

A criação de ovelhas inserida pela invasor europeu causou um nova onda de impactos que extinguiu as palmeiras da Ilha de Páscoa

É provável que algumas palmeiras tenham sobrevivido até os primeiros anos da ocupação europeia. Uma nova onda de mudanças ocorreu no século XIX com a criação de ovelhas.

Os animais que pastavam teriam comido quaisquer mudas jovens de palmeiras que tentassem crescer novamente, silenciando a última chance de recuperação das árvores.

Moais da Ilha de Páscoa teriam sido usados como estratégia para melhorar a fertilidade do solo (Foto: Pixabay)

Os ratos polinésios originais, outrora tão numerosos, também acabaram em apuros.

Em muitas ilhas, foram expulsos pelo rato-norueguês, maior, que chegou com os navios europeus, ou foram devorados por predadores recém-introduzidos, como os gaviões.

Os habitantes das ilhas da região ainda falam de anos em que a população de roedores explode e depois cai repentinamente, um padrão de expansão e declínio que se repete constantemente.

Por trás das famosas estátuas e das colinas áridas, a história de Rapa Nui é sobre consequências não intencionais e adaptação constante em uma das ilhas habitadas mais remotas do mundo, onde os vizinhos mais próximos estão a 1.200 milhas de distância.

🔔 Inscreva-se na Nature & Space no YouTube, Explore Nossas Coleções Temáticas!

Bibliografia

Journal of Archaeological Science

Reassessing the role of Polynesian rats (Rattus exulans) in Rapa Nui (Easter Island) deforestation: Faunal evidence and ecological modeling

doi.org/10.1016/j.jas.2025.106388

Communications Earth & Environment

Prolonged drought in Rapa Nui during the decline of megalithic monument construction.

DOI: 10.1038/s43247-025-02801-4

Earth

What transformed Easter Island? The answer isn’t what we thought.

Política de Uso  

Fique à Vontade para Compartilhar. Pedimos que Adicione o Link Anexo nas Fontes. Ajude às Pessoas Encontrar o Site. Grato por Valorizar Nosso Trabalho. Volte Sempre! 

Descobertas Explicam o Colapso Social e Ecológico na Ilha de Pascoa

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here