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Atualizado 27 de julho de 2025 por Sergio A. Loiola

Pesquisadores da Alemanha descobriram que Lêmures, que vivem na Ilha de Madagascar usam a substância encontrada em um artrópode como repelente contra parasitas com efeitos alucinógenos nessas espécies.

 A pesquisa foi publicada no periódico Primates.

Lêmure-da-face-vermelha utiliza piolhos-de-cobra para lutar contra as parasitas, de acordo com nova pesquisa. Foto de Louise Peckre

Com a pesquisa foi possível analisar o comportamento dos lêmures que mascavam o bicho ou então massageavam o piolho-de-cobra, um conhecido artrópode, contra o próprio corpo para se proteger.

Alguns animais chegam a se queimar com a substância que é altamente tóxica para espécies silvestres.

 

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lêmure-marrom-de-frente-vermelha (Eulemur rufifrons) é um aespécie “quase ameaçada” na lista da UICN. Já o lêmure-vermelho (Eulemur rufus), outra espécie criada pela nova classificação, está em uma categoria de ameaça um pouco mais inquietante e é listado como “vulnerável” pela UICN, principalmente devido à caça ilegal.

Lemures usam gongolos como ‘repelente de predadores’ — Foto: Frank Augstein/AP

Ambas as espécies (Eulemur rufus e Eulemur rufifrons) são encontradas na costa oeste de Madagascar e o Rio Tsiribihina é considerado como a fronteira entre as duas: rufus habitando a área ao norte do largo rio e rufifrons ao sul. 

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Os piolho-de-cobra ou gongolo (Diplopoda) usados como repelentes e alucinógenos pelos Lêmures Não são da família das lacraias

A substância que os artropodes piolho-de-cobra ou gongolo (Diplopoda) liberam no corpo dos Lêmures é a ‘benzoquinona’ que tem propriedades antibacterianas gera reações químicas em alguns animais silvestres. Com efeitos alucinôgenos sobres os Lemures.

Piolhos-de-cobra produzem compostos tóxicos, como a benzoquinona, que normalmente os torna intragáveis para os predadores. Foto de Louise Peckre

Os Lêmures conhecem essas artrodes e sabem usar para varios fins.

Esfregam no corpo para usar como repelentes de parasitas, e tambem fazem pequenas mordidas no artrópode para que liberem mais substâncias, para obter deliberadamente o efeito alucinógeno.

É curioso observar que os Lêmures nem sempre matam o artrópode. Após usar o animal, em alguns casos eles o liberam no chão da floresta.  

Assim, alem de mecanismo de defesa a substancia contida no artropode é tambem para uso recreativo. Embora possam parecer estranhos à primeira vista, os lêmures têm uma maneira peculiar de lidar com essas criaturas venenosas.

Vídeo: LÊMURES USAM ALUCINOGENOS E REPELENTE

Principalmente usam como um repelente natural contra mosquitos, em especial aqueles transmissores da malária. No entanto, o uso desses artropodes tem consequência inusitada para os lêmures.

As toxinas presentes no veneno funcionam também como um poderoso psicodélico, afetando seu sistema nervoso, deixando-os letárgicos e podem apresentar comportamento alterado de consciência, como se estivessem drogados.

Os piolho-de-cobra ou gongolo (Diplopoda) embora sejam comparados com lacraias, as espécies não possuem semelhança.

Lacraia é venenosa, e não pertence a família dos gongolos — Foto: Reprodução

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Lêmures podem estar utilizando o piolho-de-cobra como medicamento


Lêmures-da-face-vermelha entram na crescente lista de animais que utilizam plantas e outros animais para o tratamento de doenças.

Em novembro de 2016, a especialista em comportamento animal Louise Peckre presenciou um lêmure-da-face-vermelha fêmea pegar um piolho-de-cobra gigante na Floresta de Kirindy em Madagascar.

Lêmure-da-face-vermelha rói piolho-de-cobra gigante com sua cauda ainda molhada de saliva e toxinas laranjas que os piolhos-de-cobra expelem.
Foto de Japan Monkey Centre and Springer Japan KKpart of Springer Nature 2018

Enquanto Peckre observava, esse lêmure encontrou mais dois piolhos-de-cobra e repetiu tudo. Quando terminou, seus membros inferiores estavam visivelmente encharcados com uma mistura espumante de saliva e secreções laranjas elétricas do artrópode.

No final desse mesmo dia, ela observou cinco outros lêmures de grupos distintos agindo da mesma forma. Os animais nunca haviam sido vistos comendo e esfregando esses bichos por seus corpos.

Mas o que isso significa?

Vídeo: A “viagem” psicodélica dos lêmures

Em um artigo publicado no periódico Primates, ela e seus coautores argumentam categoricamente que os lêmures-da-face-vermelha podem estar utilizando as secreções do piolho-de-cobra para automedicação contra parasitas intestinais.

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Toxinas e assaduras: Por que eles esfregam as toxinas em suas genitais?

Para entender porque os lêmures-da-face-vermelha esfregam as toxinas em suas genitais, primeiro é preciso entender que essa espécie possui uma variedade de parasitas gastrointestinais maior do que qualquer outra espécie.

Além disso, alguns desses nematoides podem causar assaduras que coçam a traseira dos lêmures quando minhocas adultas saem pelo ânus e colocam seus ovos na pele circundante.

Um lêmure-marrom descansa sobre um galho na reserva Analamazaotra em Andasibe (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Ao mesmo tempo que a benzoquinona é provavelmente utilizada pelos piolhos-de-cobra para que não sejam comidos, os lêmures aprenderam como extrair a química para o próprio uso.

Derek Hennen, entomologista que estuda piolhos-de-cobra na Virginia Tech, afirma que esfrega-los com força é uma tática inteligente dos lêmures.

O próximo passo, afirma Peckre, será testar de forma experimental se a benzoquinona mata ou impede que parasitas específicos se aproximem de lêmures-da-face-vermelha.

Hennen também desconhecia qualquer caso de animais que comem piolho-de-cobra para fins medicinais.

Melhor remédio? Doses de piolho-de-cobra podem ajudar a evitar infestações parasitárias futuras

Não sendo os piolhos-de-cobra uma fonte alimentícia benéfica para os lêmures-da-face-vermelha, Peckre e seus coautores apresentam a hipótese de que os animais podem estar comendo-os por outros motivos.

Especificamente, os cientistas acreditam que algumas doses de piolho-de-cobra podem ajudar a evitar infestações parasitárias futuras.

Não está claro como os animais conseguem tolerar os artrópodes venenosos, mas o comportamento de esfregá-los pode ajudar a desintoxicar os piolhos-de-cobra.

Um casal de lêmures-marrons-de-frente-vermelha (Eulemur rufifrons) na Floresta Kirindy; o macho está à direita (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Um comportamento similar foi observado em pássaros que esfregam ácido fórmico expelido pelas formigas em suas penas, possivelmente como uma forma de deixar essas formigas com um gosto melhor.

Estranhamente, a análise fecal mostrou que lêmures-da-face-vermelha apresentam um pico de parasitas no início da estação chuvosa, é exatamente nessa época do ano que os piolhos-de-cobra começam a emergir da terra.

É como se a farmácia dos lêmures ficasse disponível exatamente quando eles mais precisam.

Huffman, que estudou amplamente a automedicação dos animais, continua não acreditando que os animais estão pensando no futuro.

Mas ainda não há provas se os animais fazem isso intencionalmente.

Peckre afirma que existem muitos mistérios sobre os lêmures que estimulam maiores esforços para a conservação dos ecossistemas em que habitam.

Cerca de 95% das espécies de lêmures estão em risco de extinção, de acordo com um encontro recente realizado com os principais cientistas dos primatas.

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Automedicação: Outros tipos de lêmures, chimpanzés, ursos-pardos e ouriços tambem se auto medicam

Os lêmures-da-face-vermelha não são os primeiros animais observados se automedicando.

Uma fêmea de um lêmure-vermelho, com um filhote agarrado na barriga, caminha sobre o galho de uma árvore na floresta do Parque Nacional Tsingy de Bemaraha (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)

Por exemplo, foi descoberto recentemente que os orangotangos mascam folhas com propriedades anti-inflamatórias e posteriormente aplicam-nas em sua pele.

Outros tipos de lêmures, chimpanzés, ursos-pardos e ouriços estão entre os animais que têm um comportamento chamado de autounção.

“Alguns utilizam plantas, outros formigas e piolho-de-cobra”, afirma Michael Huffman, do Instituto de Pesquisa de Primatas da Universidade de Quioto.

É curioso, de acordo com Huffman que essa é a primeira vez que foi documentada a ingestão de piolho-de-cobra para um possível uso medicinal. Normalmente os animais aplicam os piolhos-de-cobra superficialmente.

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É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space   

LÊMURES DE MADAGASCAR USAM ALUCINÓGENO E REPELENTE

Bibliografia

National Geographic Brasil

Lêmures podem estar utilizando o piolho-de-cobra como medicamento

Periódico Primates

Potential self-medication using millipede secretions in red-fronted lemurs: combining anointment and ingestion for a joint action against gastrointestinal parasites?

G1

Piolho-de-cobra: de ‘falso hematoma’ a efeito alucinógeno; entenda

Época

Lêmures-marrons habituados aos seres humanos brincam com visitantes em Madagascar

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