Atualizado 2 de julho de 2025 por Sergio A. Loiola
Mais de 30 sítios arqueológicos no sudeste da Turquia revelam a sofisticada cultura Taş Tepeler, de 11 mil anos, ainda pouco conhecida, com arquitetura monumental, esculturas e possível escrita.
A civilização, denominada cultura Taş Tepeler, na Turquia, matinha um sistema de crenças centrado na fertilidade. Os sítios antigos revelam os segredos de uma civilização perdida da Idade da Pedra, do final do Neolitico, há 11 mil anos.
Localizados em Taş Tepeler, ou Montes de Pedra, na província de Şanlıurfa, no sudeste da Turquia, os sítios possuem o dobro do tempo dos monumentos icônicos como as pirâmides do Egito e o círculo de pedras de Stonehenge.
Em conjunto, os sítios conhecidos de Taş Tepeler, e talvez outros ainda a serem descobertos, sugerem que algo revolucionário estava acontecendo na área naquela época.
“Essas escavações alteraram a perspectiva das pessoas sobre o período Neolítico”, afirma o arqueólogo Douglas Baird, da Universidade de Liverpool, que agora trabalha em Mendik, um sítio de Taş Tepeler recém-descoberto.
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Primeira grande Civilização perdida da Idade da Pedra, Sudeste da Turquia
As sociedades de Taş Tepeler pode ser considerada a mais antiga civilização do mundo.
Investigações em andamento por arqueólogos turcos, britânicos e outros no sudeste da Turquia revelaram cerca de sítios até então desconhecidos. Espera-se encontrar mais algumas dezenas na mesma região.
Datada de cerca entre 11,5 mil anos e 10 mil anos, a civilização parece ter sido a primeira no mundo desenvolver arquitetura monumental, esculturas sofisticadas e tecnologia avançada em pedra. As descobertas em andamento são de enorme importância para a evolução humana e das sociedades.
Até o presente, é a primeira cultura humana a desenvolver grandes assentamentos, cidades embrionárias com populações de até mil pessoas.
“Sabemos que muitas áreas neolíticas, da Jordânia à Capadócia, na Anatólia, possuem edifícios públicos, mas na região de Taş Tepeler, existem inúmeras estruturas designadas para fins públicos ou rituais específicos.
Acredito que o aspecto mais importante dos edifícios públicos é que eles representam novas instituições sociais nessas comunidades — para as quais faltam outras evidências — porque uniam diferentes famílias e diferentes segmentos da comunidade em prol de um propósito comum.”. afirma o arqueólogo Douglas Baird
Vídeo no Canal Nature & Space: Dezenas de Sítios antigos de 11 mil anos revelam a mais antiga civilização perdida da Idade da Pedra
Esses grandes espaços de reunião ressaltam a importância dessas atividades comunitárias. Durante esse período, os edifícios tornaram-se algo mais do que apenas espaços para morar.
Eestruturas especiais” começaram a ser construídas para fins não domésticos, um indicador de novas práticas espirituais.
“Considerando o trabalho e o tempo necessários para a construção dessas estruturas, elas devem ter tido um grande significado para as sociedades neolíticas”, diz Baird.
“O objetivo não deveria ser compreender um único assentamento, mas sim compreender toda a região e a história específica daquela região. Ao observar o planalto que circunda a Planície de Harran, você encontra muitos desses tipos de sítios, mas à medida que avança um pouco mais, eles desaparecem. Esta região tem uma coerência única.”
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Uma nova narrativa historiográfica convincente da existência de civilizações neolíticas começou a emergir
Embora dois dos sítios tenham sido escavados na década de 1990, ninguém naquela época percebeu que eles representavam uma civilização antiga, tão complexa e sofisticada, grande e até então desconhecida, cobrindo mais de 5.000 quilômetros quadrados.
Uma narrativa convincente da existência neolítica começou a emergir.
“Esses sítios revelam uma transformação que ocorreu ao longo de 1.500 anos, começando há cerca de 11.500 anos, quando os povos da região fizeram avanços na domesticação de animais e na agricultura, como resultado da capacidade de criar assentamentos permanentes. Isso significa uma evolução profunda à medida que um estilo de vida agrário se consolidou”, afirma a arqueóloga Necmi Karul, da Universidade de Istambul.
“Nos estágios iniciais do Neolítico, enquanto as pessoas continuavam com o modo de vida caçador-coletor, um novo tipo de ordem social estava sendo construído.” Essas pessoas enfrentaram os tipos de desafios que surgem quando grandes grupos vivem juntos. “Entre esses desafios”, diz Karul,
“vemos a construção de espaços que unem as pessoas, uma narrativa iconográfica que poderia ser considerada um produto da memória compartilhada e, especialmente, a produção de objetos com altas qualidades artísticas”.
A civilização que agora está sendo gradualmente revelada parece ter sido a primeira a criar uma arquitetura complexa, com salas subterrâneas abobadadas escavadas na rocha.
Construções com grandes salões rituais, de até 20 metros de largura, originalmente com enormes telhados de madeira, junco e barro, sustentados por pilares altamente decorados de até 5,5 metros de altura, alguns pesando mais de 20 toneladas e provavelmente simbolizando ancestrais gigantes ou divindades.
Esses povos da Idade da Pedra, que construíram os primeiros edifícios sofisticados conhecidos da humanidade, eram escultores monumentais esmerados. Aarqueólogos escavaram esculturas imensas, incluindo uma estátua de 2,45 metros de altura do que provavelmente foi um ancestral reverenciado.
Entre as esculturas estão imagens de leopardos, criaturas semelhantes a crocodilos, cobras, gado gigante, javalis, abutres, outras aves, cabras selvagens, sapos e escorpiões.
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Tudo indica que a civilização de Taş Tepeler não estava isolada, havia articulação com lugares distantes
A cerca de 48 quilômetros a sudeste de Göbeklitepe, o sítio arqueológico de Karahantepe, recentemente descoberto, situa-se no topo de um afloramento rochoso a 810 metros acima do nível do mar e cobre cerca de 10 hectares.
Desde 2019, uma equipe liderada por Karul escavou mais de meio acre do sítio arqueológico e desenterrou uma impressionante variedade de estruturas e esculturas características dos sítios arqueológicos de Taş Tepeler.
(© Tolga Ildun)
Levantamentos de superfície mostraram que Karahantepe está dividido em quatro setores distintos: um nos terraços leste e oeste da encosta, onde muitas das estruturas especiais estão localizadas; as pedreiras do sítio arqueológico; e a planície ao sul, onde arqueólogos encontraram pedras de amolar, sílex e outros objetos da vida cotidiana, sugerindo que esta pode ter sido uma área residencial.
Transição de caçador coletor para agricultor, construções e espaços planejados e especializados
Com o tempo, a agricultura tornou-se o modo de vida dominante na região.
Pelo menos no início, porém, os habitantes da área também continuaram caçadores. Arqueólogos descobriram que os sítios de Taş Tepeler são frequentemente cercados por campos de caça marcados com pedras dispostas em configurações específicas.
Até o momento, quase 300 dessas áreas de captura foram identificadas, um testemunho de um ambiente de caça próspero.
Em Karahantepe, por exemplo, arqueólogos encontraram campos de caça que os habitantes do sítio demarcaram empilhando pedras a uma altura de cerca de 60 centímetros, em um padrão que lembra escamas de peixe quando visto de cima, para delimitar um espaço em forma de V onde os veados eram encurralados e mortos.
“Está claro que novas técnicas de caça foram desenvolvidas nessa época”, diz Karul. “Isso permitiu um tipo de controle mais avançado e abrangente sobre rebanhos maiores de animais.”
Embora as escavações em Karahantepe estejam em um estágio muito inicial, a equipe já desenterrou quatro estruturas especiais, que Karul denominou de AA, AB, AC e AD.
“Os planos dessas estruturas são distintos entre si e foram projetados e construídos simultaneamente, indicando que cada um tinha um propósito distinto”, diz Karul. “Provavelmente foram construídos com o consentimento da comunidade e serviam a funções relevantes para a comunidade em geral.”
Por exemplo, a estrutura AD, com sua localização central, amplas dimensões, assentos adequados para um grande grupo e elementos iconográficos recorrentes encontrados em assentamentos contemporâneos de Taş Tepeler, parece ter sido um ponto de encontro para multidões.
A estrutura AB é um tipo de construção que, segundo Karul, nunca foi encontrada antes. O espaço oval cobre 42 metros quadrados. Foi esculpida na rocha e contém 10 pilares fálicos, cada um com cerca de 1,80 m de altura.
De uma das paredes, projeta-se a escultura de uma cabeça humana ameaçadora, possivelmente com corpo de serpente, que, segundo Karul, é um símbolo do poder masculino. Há, ele observa, pouquíssimas representações ou objetos relacionados a mulheres desse período.
“Essa escassez, quase inexistente, pode ser explicada pela possibilidade de que objetos relacionados a mulheres não tenham sobrevivido até os dias atuais”, diz Karul. “O uso de materiais duros como pedra para elementos simbólicos masculinos pode sugerir uma escolha deliberada.”
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O futuro das investigações e a nova interpretação historiográfica
As investigações em andamento estão aproveitando a experiência e os recursos de 33 instituições acadêmicas na Turquia e ao redor do mundo.
Além de arqueólogos turcos, há acadêmicos britânicos, alemães e japoneses envolvidos, e os chineses tambem estão se juntando nessa grande empreitada arquelógica.
O desenvolvimento da vida sedentária na área “viu o rápido desenvolvimento da arquitetura monumental representando as primeiras instituições corporativas do mundo e edifícios rituais de grande escala construídos para esse fim como parte de redes amplas de comunidades”, disse o professor Baird.
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A MAIS ANTIGA CIVILIZAÇÃO: MEGA ARQUITETURA HÁ 11 MIL ANOS
Bibliografia
Archaeology Magazine
