Estudos a partir de artefatos de pesca e ferramentas de pedras sofisticados sugerem que antigos navegadores nas Filipinas e no ISEA (Sudeste Asiático Insular) construíram barcos sofisticados e dominaram a pesca em alto mar há 40.000 anos, desafiando a visão de que a tecnologia paleolítica estava limitada à Europa e à África.
Alem disso, as análises indicam que a navegação de ilha em ilha de longa distância seria possível com a construção de barcos de materiais macios e mais fácil de construir. Com forte possibilidade desses povos terem realizados longas viagens intencionais com as embarcações construídas, e chegando na costa de outros continentes, em especial na costa pacifico da América.
Se o estudo for confirmado, os povos antigos das Filipinas e do Sudeste Asiático Insular (ISEA) teriam inaugurado a época das grandes navegações, há dezenas de milhares de anos atrás, muito antes dos europeus, de Magalhães, Zheng He ou dos polinésios.
Um estudo publicado em pré-publicação no Journal of Archaeological Science: Reports (A ser publicado em abril de 2025) pelos pesquisadores Riczar Fuentes e Alfred Pawlik da Universidade Ateneo de Manila desafia a crença predominante de que os avanços tecnológicos durante o Paleolítico foram exclusivos da Europa e da África.
Os pesquisadores destacam que grande parte do ISEA (Sudeste Asiático Insular) nunca foi conectada ao continente asiático por pontes terrestres ou camadas de gelo, mas evidências arqueológicas confirmam a habitação humana primitiva.
Como esses povos antigos empreenderam tais travessias oceânicas ousadas continua sendo uma questão em aberto, já que materiais de madeira e fibra usados para barcos raramente sobrevivem no registro arqueológico.
No entanto, novas descobertas de sítios nas Filipinas, Indonésia e Timor-Leste sugerem fortemente que os primeiros navegadores possuíam um nível de sofisticação tecnológica há dezenas de milhares de anos atrás, comparável a civilizações muito posteriores.

Pesca em alto mar com instrumentos sofisticados, experiência em construção de embarcações e navegação marítima
Análises microscópicas de ferramentas de pedra escavadas nesses locais, datadas de cerca de 40.000 anos atrás, mostraram traços claros de processamento de plantas — particularmente a extração de fibras necessárias para fazer cordas, redes e amarrações essenciais para a construção de barcos e pesca em mar aberto.
Sítios arqueológicos em Mindoro e Timor-Leste também renderam restos de peixes de águas profundas, como atuns e tubarões, bem como implementos de pesca, como anzóis, gargantas e pesos de rede.
“Os restos de grandes peixes pelágicos predadores nesses locais indicam a capacidade de navegação avançada e o conhecimento da sazonalidade e das rotas de migração dessas espécies de peixes ”, disseram os pesquisadores em seu artigo. Enquanto isso, a descoberta de implementos de pesca “indica a necessidade de cordas fortes e bem trabalhadas para cordas e linhas de pesca para capturar a fauna marinha”.

Este conjunto de evidências aponta para a probabilidade de que esses antigos navegadores construíram barcos sofisticados a partir de materiais compostos orgânicos mantidos juntos com cordas à base de plantas e também usaram a mesma tecnologia de corda para pesca em mar aberto.
Se for assim, então as migrações pré-históricas através do ISEA (Sudeste Asiático Insular) não foram realizadas por meros “vagabundos passivos” em frágeis jangadas de bambu, mas por navegadores altamente qualificados, equipados com o conhecimento e a tecnologia para viajar grandes distâncias e para ilhas remotas em águas profundas.

Pesquisa em Arqueologia Experimental e o Projeto FLOW
Vários anos de trabalho de campo na Ilha Ilin, Mindoro Ocidental, inspiraram os pesquisadores a pensar sobre esse tópico e a testar essa hipótese.
Junto com arquitetos navais da Universidade de Cebu, eles recentemente começaram o First Long-Distance Open-Sea Watercrafts (FLOW) Project, apoiado por uma bolsa de pesquisa da Universidade Ateneo de Manila, com o objetivo de testar matérias-primas que provavelmente foram usadas no passado, e projetar e testar modelos de embarcações em escala reduzida.
A presença de tecnologia marítima tão avançada no ISEA (Sudeste Asiático Insular) pré-histórico destaca a engenhosidade dos primeiros povos filipinos e seus vizinhos, cujo conhecimento na construção de barcos provavelmente fez da região um centro de inovações tecnológicas dezenas de milhares de anos atrás e lançou as bases para as tradições marítimas que ainda prosperam na região hoje.
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A reprodução de matérias é livre mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space
ARTEFATOS DE 40 MIL ANOS SUGEREM NAVEGAÇÃO OCEÂNICA ABERTA
Fonte
Journal of Archaeological Science: Reports
Testing the waters: Plant working and seafaring in Pleistocene Wallace