Atualizado 20 de novembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Descoberta do maior Centro Científico e Ritual Maia, de 3 mil anos, Além de recuar muito origens, mostra que sociedades sem reis ergueram os maiores monumentos. Altera a compreensão da história.
Pesquisas arqueológicas mostram que comunidades sem reis planejaram e construíram as maiores arquiteturas monumentais Maia já encontradas, alinhado ao Sol, muito antes antes de grandes cidades maias.
As pesquisas foram publicadas nas Revistas Science Advance e Nature.

Essas construções, a imponência e especialização do lugar para fins científicos é surpreende pela grande distancia temporal do que se considerava o auge da sociedade Maia no Período Clássico.
Veremos a seguir as descobertas desta pesquisa, e os profundos significados para rescrever a historiografia Maia, e de toda a região. Em texto, imagens e vídeos.
Como sociedades sem hierarquias e reis conseguiu planejar e construir grandes monumentos? O que isso significa para a história Maia e dos povos da América? Como superar as interpretações do determinismo histórico linear? Deixe seus comentários no final!
Vídeo 1: Monumentos maia de 3 mil anos são descobertos no México
Vídeo 2: Descoberta pode solucionar o mistério do surgimento da civilização Maia
Vídeo 3: A Civilização Maia: Uma Síntese
Vídeo 4: As construções Maias e sua conexão com o universo
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A descoberto do sítio ocorreu por sensoriamento remoto em 2020. Após escavações arqueológicas foram publicados resultados surpreendentes do maior sítio arquitetônico maia já encontrado, e mostra como a antiga civilização concebia o universo.

Uma enorme plataforma de terra de três mil anos, coberta por uma série de estruturas, incluindo uma pirâmide de quase quatro metros de altura, foi identificada como a maior e mais antiga construção monumental descoberta na região maia.
A descoberta confirma a hipótese de que algumas das estruturas mais antigas construídas na região maia eram significativamente maiores do que aquelas construídas mais de um milênio depois, durante o Período Clássico dos maias (entre 250 e 900 d.C.), quando o império estava em seu auge.
A descoberta aconteceu no estado de Tabasco, no México, no sítio arqueológico de Aguada Fénix, a cerca de 1,3 mil quilômetros a leste da Cidade do México.
A cidade perdida ocupa uma superfície de quase 600 mil metros quadrados, na parte oriental do México, perto da fronteira com a Guatemala.

Está localizada em uma região conhecida como planície maia, local do início da civilização maia.
O achado mostra claramente que os maia já dominavam técnicas avançadas de construção muito antes do que se imaginava.
Ao redor do conjunto central, os arqueólogos mapearam cerca de 500 construções menores, mas semelhantes em traçado. A datação por radiocarbono revelou que o complexo foi erguido por volta de 1000 a.C.
Essa descoberta altera o entendimento dos cientistas de que o pico do desenvolvimento da civilização maia teria ocorrido em 250-900 d.C, quando eles chegaram à Yucatán, dominaram a agricultura e o artesanato primitivos e construíram as famosas pirâmides em Tikal e Teotihuacan.
“Descobrimos que, no início do primeiro milênio antes de Cristo, houve uma ‘explosão’ de construções em larga escala, algo que ninguém conhecia até agora”, antropólogo Takeshi Inomata, da Universidade do Arizona, um dos lideres da pesquisa.
Construído há mais de três mil anos, o lugar foi planejado como um cosmograma. Um mapa simbólico do Universo, alinhado ao movimento do Sol e organizado em grandes eixos que moldavam a paisagem.
As descobertas desafiam a versão clássica sobre o surgimento das primeiras cidades mesoamericanas.
Em vez de crescimento lento e centralizado, os arqueólogos apontam um “big bang” de construção coletiva, no qual milhares de pessoas cooperaram para erguer plataformas, corredores e canais em escala comparável (ou até superior) à de centros como Tikal e Teotihuacan, que só floresceriam quase mil anos depois.
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Vídeo 1: Monumentos maia de 3 mil anos são descobertos no México
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Aguada Fénix é o mais antigo e maior sítio arquitetônico maia, maior até do que as cidades posteriores de Tikal e Teotihuacán
O platô artificial feito de terra, com calçadas, canais e corredores interligados, foi construído no sudeste do México há 3.050 anos e utilizado por cerca de 300 anos.
Chamado de Aguada Fénix, constitui o mais antigo e maior sítio arquitetônico na área ocupada pela antiga civilização maia — maior que cidades mesoamericanas posteriores como Tikal e Teotihuacán, embora não possua suas características pirâmides de pedra.

De acordo com nova pesquisa, o desenho do sítio representava como a comunidade concebia o universo. O local apresenta cruzes de tamanhos crescentes com uma cavidade cruciforme no centro, contendo preciosos artefatos rituais.
“É como um modelo do cosmos ou universo. Eles acreditavam que basicamente o universo era ordenado com base nesse padrão cruciforme, e isso estava ligado à ordem do tempo”, afirmou Takeshi Inomata, professor titular de antropologia da Universidade do Arizona e autor principal do estudo.
“Antes deste sítio não havia construções substanciais. Não havia praticamente nada arqueologicamente; eles nem mesmo usavam cerâmica”, disse Inomata.
A equipe escavou diversos pontos-chave do local, estudou amostras do solo e realizou um levantamento adicional com LiDAR (Light Detection and Ranging).

Esta técnica de sensoriamento remoto, que pode produzir modelos detalhados de qualquer terreno, revolucionou a arqueologia nos últimos anos, revelando estruturas antigas cobertas por vegetação e árvores, particularmente na América Central.
O sítio não é imediatamente óbvio no solo, embora a plataforma principal tivesse cerca de 15 metros de altura, segundo Verónica Vazquez Lopez, professora de arqueologia mesoamericana da University College London e coautora do estudo.
Os construtores não utilizaram pedras, e é fácil confundir sua criação com uma colina natural, acrescentou ela.
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Vídeo 2: Descoberta pode solucionar o mistério do surgimento da civilização Maia
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O Plato principal da cidade de Aguada Fénix foi alinhado com o nascer do Sol em 17 de outubro e 24 de fevereiro
As novas escavações confirmam que Aguada Fénix era muito mais do que um grande aterro. O platô principal, com quase 1,6 quilômetro de comprimento, articula eixos alinhados ao nascer do sol em 17 de outubro e 24 de fevereiro.

Separadas por 130 dias, essas datas são equivalentes à metade do calendário ritualístico mesoamericano, de 260 dias. O alinhamento reforça a interpretação de que o lugar servia como marco de observação astronômica e de reunião comunitária.
“O intervalo é de 130 dias. Isso é metade de 260, que é o principal calendário ritual dos povos mesoamericanos”, disse ele. “Essas direções e esse tipo de ordem eram importantes para eles, e investiram uma enorme quantidade de trabalho para representá-las no solo.”

Inomata e seus colegas também acreditam que o local teria sido construído por participantes voluntários, não por trabalho forçado como o usado para construir muitas maravilhas antigas, como as pirâmides do Egito e cidades maias posteriores.
Suas escavações não revelaram sinais de hierarquia social, como estátuas de indivíduos específicos.
“Se você tem um rei ou governantes, frequentemente na Mesoamérica isso é representado em esculturas ou pinturas, e geralmente você encontra grandes edifícios ou palácios onde essas pessoas poderosas viviam”. “E nós não temos isso em Aguada Fénix”, afirmou ele.
No centro do monumento, os arqueólogos identificaram uma fossa cruciforme como ponto focal do cosmograma.

C ) Objetos de argila em forma de machado encontrados no fundo da grande cova cruciforme (Depósito NR10). ( D ) Pigmentos e conchas encontrados no fundo da pequena cova cruciforme (Depósito NR11). Imagem: artigo Science Advance: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.aea2037
Ali estavam pigmentos minerais dispostos conforme as direções cardeais – azul (norte), verde (leste) e amarelo (sul) – formando o mais antigo registro conhecido desse simbolismo direcional na Mesoamérica.
O lado oeste continha solo que provavelmente começou vermelho e desbotou ao longo dos séculos. Essa combinação reforça uma lógica cosmológica que organiza o espaço, o tempo e os rituais.

A fossa abrigava ainda esculturas de jade representando um crocodilo, um pássaro e o que os pesquisadores interpretam como uma mulher em trabalho de parto, além de conchas marinhas associadas a água e fertilidade.

Esses elementos, combinados ao simbolismo de cor, sustentam a leitura de que Aguada Fénix era um ponto de encontro cerimonial para grupos dispersos, que retornavam periodicamente para renovar vínculos sociais e cosmológicos.
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O centro cerimonial foi cuidadosamente planejado desde cedo e permaneceu ativo por gerações
As imagens mostraram não só o platô gigantesco, mas também uma rede de causeways (caminhos/passagens) elevadas, corredores escavados e canais que se estendiam por vários quilômetros, delineando os eixos norte–sul e leste–oeste do cosmograma.
Esses traçados orientavam tanto o deslocamento humano quanto o desenho ritualístico da paisagem.

A partir dos sedimentos e das cerâmicas encontradas, os pesquisadores puderam montar uma cronologia precisa: o platô principal foi erguido e renovado entre 1050 e 700 a.C., enquanto o grande ritual associado à fossa central ocorreu entre 900 e 845 a.C., segundo datações por radiocarbono.
Esse intervalo confirma que o centro cerimonial foi planejado desde cedo e permaneceu ativo por gerações.

Outro componente importante da pesquisa foi a análise do sistema hidráulico: canais de até 35 metros de largura e cinco metros de profundidade, além de uma barragem construída na borda da Laguna Naranjito.
Mesmo inacabados, esses canais exigiram grande volume de escavação e planejamento coletivo, mas não parecem ter servido a irrigação ou logística cotidiana.
Para os pesquisadores, sua função era provavelmente simbólica – parte do desenho ritual que conectava água, movimento e paisagem num mesmo projeto cosmológico.
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Vídeo 3: A Civilização Maia: Uma Síntese
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O Lugar não era ocupado por um grande número de pessoas, era utilizado como um local de reunião e adoração durante a estação seca
Inomata explicou que as habitações descobertas no local sugerem que o sítio não era permanentemente ocupado por um grande número de pessoas, sendo possivelmente utilizado como um local de reunião e adoração durante a estação seca.
Os pesquisadores estimaram que mais de mil pessoas teriam sido necessárias para construir o local, trabalhando alguns meses por ano durante vários anos.

Os canais e o lago, que somavam 193 mil metros cúbicos em volume e aparentemente não tinham propósito prático, teriam exigido 255 mil dias de trabalho de um único indivíduo.
O platô principal, com volume de 3,6 milhões de metros cúbicos, teria demandado 10,8 milhões de dias de trabalho, segundo o estudo. Os canais aparentemente não haviam sido concluídos, acrescentou Inomata.
“Temos essa percepção de que para fazer algo grandioso é necessário ter uma organização hierárquica e que foi assim que aconteceu no passado. Mas agora estamos obtendo uma imagem do passado que é diferente”, disse ele.
“As pessoas também realizavam grandes feitos organizando-se, reunindo-se e trabalhando em conjunto”, complementou.
A pesquisa foi emocionante e de grande interesse para arqueólogos de todo o mundo, segundo Stephen Houston, professor de antropologia da Universidade Brown, em Rhode Island.
“A descoberta aqui é que um tema comum nas sociedades mesoamericanas — a organização do mundo de acordo com direções rituais e cores associadas a elas — está explicitamente apresentado, e em uma data antiga, em Aguada Fénix”, afirmou Houston.
“Esta pesquisa é parte de um movimento intelectual mais amplo na arqueologia, para demonstrar que grandes construções podem ocorrer em situações de relativa igualdade.”
Andrew Scherer, professor de arqueologia e mundo antigo, também da Brown, disse que as dimensões impressionantes das obras de terra, sua antiguidade e a ausência de uma hierarquia social significativa tornaram o local particularmente interessante.
“Houve um investimento tremendo de trabalho em Aguada Fénix — não apenas na elevação de suas obras de terra, mas também na importação e escultura de um grande número de objetos de pedra verde — e em nenhum momento há um caso claro de algo construído ou fabricado para celebrar um governante ou um grupo específico de indivíduos”.
“Este é um período que permanece pouco compreendido na história da Mesoamérica e, portanto, as últimas descobertas relatadas pela equipe são de extrema importância para entender essa época obscura.”
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Vídeo 4: As construções Maias e sua conexão com o universo
Bibliografia
Science Advance
Landscape-wide cosmogram built by the early community of Aguada Fénix in southeastern Mesoamerica
Nature
Monumental architecture in Aguada Fénix and the rise of the Mayan civilization.
DOI: 10.1038/s41586-020-2343-4
National Geographic
Descoberto gigantesco complexo cerimonial maia de três mil anos
CNN Brasil
Complexo maia de 3 mil anos revela segredos da visão do cosmos
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Descoberta do Maior Centro Científico e Ritual Maia Com 3 mil anos Muda História

















