Atualizado 27 de novembro de 2025 por Sergio A. Loiola
Arqueólogos e antropólogos desvendaram a complexa teia multi causa que levou ao colapso ecológico e social na Ilha de Pascoa, em que ratos inseridos não intencionalmente e mudanças climáticas tiveram forte impacto.
As pesquisas foram publicadas no Journal of Archaeological Science e na Communications Earth & Environment.

A descoberta resultou de um estudo minucioso de anos, e desfaz a hipótese popular de que a sociedade entrou em colapso no Ilha de Páscoa por que as pessoas teriam derrubado todas as árvores para transportar cabeças de pedra gigantes pela paisagem, devastando ambiente.
A seguir veremos os detalhes dessa descoberta e o que ela muda sobre o que pensávamos sobre a história da Ilha de Páscoa. Em texto, imagens e vídeos.
Qual a influência da ação humana e dos ratos sobre o meio ecológico na Ilha de Pascoa? O que pode ser feito para restaurar os sistemas ecológico na ilha de pascoa? Deixe seu comentário no final!
Vídeo 1: Como a civilização da Ilha de Páscoa colapsou, ou se de fato ocorreu um colapso
Vídeo 2: A descoberta dos tabletes de escrita da Ilha de Páscoa
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A Pesquisa desconstrói as narrativas populares sobre as estatuas de pedra em Rapa Nui, a Ilha de Páscoa
Pesquisas sobre Rapa Nui – como a ilha é chamada em sua língua indígena – revelam um passado diferente das narrativas até aqui construídas.
As famosas estátuas moai, que representavam os ancestrais, ajudavam a unir as comunidades. Elas não eram arrastadas sobre rolos de madeira, mas sim erguidas com o auxílio de cordas.

A população humana só entrou em colapso com a chegada dos europeus no século XVIII. A perda da floresta da ilha afetou pessoas, mas também milhões de ratos famintos.
Esses ratos não faziam parte do ecossistema nativo da ilha. Eles vieram sem ser percebidos, como intrusos, nos barcos dos antigos polinésios que povoaram a ilha inicialmente.
A relação entre a sociedade agraria da ilha, o ecossistema nativo, os ratos, os invasores europeus e suas novas espécies trazidas do continente europeu formam uma trama com narrativa de historia ambiental complexa.
É importante embarcar nesta trama ecológica, politica e social para compreender todo o processo, e notar que o ambiente também constrói narrativas junto com os humanos.
Nem sempre é somente a ação humana que promove colapsos ecológicos. O ambiente não é passivo e tem suas colaborações. Apreender essa trama é um aprendizado que serve para ampliar a nossa visão sobre a historiografia em geral.
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Vídeo 1: Como a civilização da Ilha de Páscoa colapsou, ou se de fato ocorreu um colapso
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As palmeiras da Ilha de Páscoa: Rapa Nui era coberta por grandes palmeiras, uma espécie agora extinta
O arqueólogo Carl Lipo, da Universidade de Binghamton, e o antropólogo Terry L. Hunt, da Universidade do Arizona, passaram anos estudando Rapa Nui.
Seu estudo recente investiga o que realmente aconteceu com a floresta de palmeiras da ilha.

“O impacto humano nesses ambientes é muito complexo”, disse Lipo. “Às vezes, há consequências não intencionais, como os ratos. Nesse caso, a modificação do ambiente não foi um desastre causado pelo ser humano.”
Muito antes da chegada dos humanos, Rapa Nui era coberta por grandes palmeiras, uma espécie agora extinta, aparentada com a palmeira chilena, Jubaea chilensis.
Essas palmeiras podiam viver até 500 anos e levavam cerca de 70 anos apenas para atingir a maturidade e dar frutos. Quando os europeus chegaram à ilha em 1722, restavam apenas algumas palmeiras.
“Os europeus basicamente descrevem uma ilha sem árvores, mas também mencionam palmeiras e folhas de palmeira. É difícil saber se estão usando o termo para descrever algum outro tipo de árvore”, observou Lipo.
Os coqueiros, aqueles que muitas pessoas imaginam em praias tropicais, só chegaram na década de 1950.
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Não há evidências robustas de um colapso demográfico anterior à chegada dos europeus: O povo da ilha havia se adaptado
Outra pesquisa temem desafia a narrativa tradicional sobre o declínio da civilização da Ilha de Páscoa (Rapa Nui).
A pesquisa, liderada por Redmond Stein do Observatório da Terra Lamont-Doherty, revela que uma seca prolongada que durou séculos – e não um “ecocídio” causado por gestão ambiental inadequada – teria sido o fator crucial para transformar a sociedade local a partir de aproximadamente 1550.

Ahu dentro desta área de estudo está marcada com cruzes vermelhas. Fonte: Communications Earth & Environment. https://www.nature.com/articles/s43247-025-02801-4
Os pesquisadores analisaram sedimentos de duas fontes de água doce da ilha – Rano Aroi e Rano Kao – reconstruindo um registro de 800 anos de padrões de chuva através da composição isotópica de ceras foliares preservadas.
Os dados mostram uma redução significativa na precipitação anual, que se manteve baixa por mais de um século.
A pesquisa questiona a visão tradicional que atribui o declínio da civilização exclusivamente ao desmatamento e gestão ambiental inadequada.

“Muitos estudos já lançaram dúvidas sobre a hipótese do ecocídio”, afirmou Stein em entrevista ao site da Universidade de Columbia. “Não há evidências robustas de um colapso demográfico anterior à chegada dos europeus.”
“Ao medir a composição das ceras foliares preservadas em sedimentos, conseguimos estimar pela primeira vez a magnitude da seca que ocorreu em Rapa Nui no século XVI”, explicou Stein.
Diferente de métodos anteriores que podiam ser influenciados por múltiplas variáveis, a análise isotópica das ceras foliares fornece um indicador direto das condições de aridez.
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A inserção não intencional do rato polinésio é uma peça chave no colapso do ecossistema da ilha
Quando os navegadores polinésios partiram pelo Pacífico, levaram consigo um completo “kit de sobrevivência”, incluindo cultivos como taro, batata-doce, banana e inhame.
Também levaram cães, galinhas e porcos.
Um passageiro menor também veio neste pacote: o rato polinésio. Este animal é pequeno e arborícola, passando grande parte do tempo em árvores.
“Devido à sua genética e ao ‘efeito fundador’, eles possuem haplótipos únicos. Podemos rastrear a colonização humana e, até certo ponto, o número de colonizações pela variabilidade dos ratos à medida que se deslocam pelo Pacífico”, explicou Lipo.
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Vídeo 2: A descoberta dos tabletes de escrita da Ilha de Páscoa
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Os ratos prosperam em um ambiente favorável de clima, alimento e falta de predadores
Ainda se debate exatamente como esses ratos entraram nas canoas polinésias. Eles podem ter embarcado sorrateiramente ou as pessoas podem tê-los levado de propósito como fonte de alimento reserva.
Um naturalista europeu que trabalhava após o contato com os Estados Unidos viu certa vez um homem local caminhando com ratos nas mãos. O homem disse que eram para o almoço.

Ossos de ratos aparecem em antigos depósitos de lixo, ou sambaquis, em muitas ilhas do Pacífico.
Quando os polinésios chegaram a Rapa Nui por volta de 1200 d.C., os ratos encontraram um lugar sem predadores e com um suprimento infinito de nozes de palmeira.
Os ratos podem ter várias ninhadas em um único ano, então sua população aumentou para milhões em pouco tempo. “As nozes de palmeira são um prato cheio para os ratos”, disse Lipo. “Os ratos ficaram loucos.”
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Interações sinérgicas entre ratos e humanos impulsionaram o desmatamento em cinco séculos
Juntamente com plantas e animais, os colonizadores polinésios trouxeram métodos agrícolas que haviam funcionado em outras ilhas.
Uma dessas práticas era a agricultura de corte e queima. Os agricultores desmatavam e queimavam áreas da floresta, e as cinzas aumentavam temporariamente os nutrientes do solo.

Em ilhas vulcânicas mais antigas, como Rapa Nui, a chuva pode lavar os nutrientes do solo, e esse tipo de estímulo ajudava no crescimento das plantações.
“Vemos isso na Nova Guiné e em outros lugares do Pacífico. Mas em Rapa Nui, as árvores crescem muito lentamente e não voltam a crescer devido à predação de ratos que atacam os frutos das palmeiras”, disse Lipo.
Com os ratos comendo a maior parte das sementes, o ciclo normal de abandono dos campos e retorno gradual das florestas não pôde ocorrer.
O povo da ilha se adaptou, mesmo sem as palmeiras, mudaram a produção de alimentos com a técnica de “cobertura morta com pedras”
Como as palmeiras não voltaram a crescer, as pessoas mudaram de estratégia. Criaram campos cobertos com pedras, uma técnica chamada cobertura morta com pedras.
As rochas ajudavam a reter a umidade, proteger o solo do vento e adicionar partículas de material mineral à medida que se decompunham – tudo isso beneficiava culturas como a batata-doce.

Com o desaparecimento das florestas de palmeiras, a produção de alimentos passou a ser feita em terrenos desmatados e jardins cuidadosamente cultivados.
As palmeiras em si não eram árvores de madeira dura; eram mais parecidas com gramíneas gigantes e não podiam fornecer madeira resistente para canoas, casas ou lenha.
“É uma triste perda de um palmeiral, mas não foi um desastre para as pessoas”, disse Lipo. “Não era algo essencial para a sobrevivência delas.”
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A criação de ovelhas inserida pela invasor europeu causou um nova onda de impactos que extinguiu as palmeiras da Ilha de Páscoa
É provável que algumas palmeiras tenham sobrevivido até os primeiros anos da ocupação europeia. Uma nova onda de mudanças ocorreu no século XIX com a criação de ovelhas.
Os animais que pastavam teriam comido quaisquer mudas jovens de palmeiras que tentassem crescer novamente, silenciando a última chance de recuperação das árvores.

Os ratos polinésios originais, outrora tão numerosos, também acabaram em apuros.
Em muitas ilhas, foram expulsos pelo rato-norueguês, maior, que chegou com os navios europeus, ou foram devorados por predadores recém-introduzidos, como os gaviões.
Os habitantes das ilhas da região ainda falam de anos em que a população de roedores explode e depois cai repentinamente, um padrão de expansão e declínio que se repete constantemente.
Por trás das famosas estátuas e das colinas áridas, a história de Rapa Nui é sobre consequências não intencionais e adaptação constante em uma das ilhas habitadas mais remotas do mundo, onde os vizinhos mais próximos estão a 1.200 milhas de distância.
“Precisamos ter uma compreensão mais matizada das mudanças ambientais”, disse Lipo. “Fazemos parte do mundo natural; muitas vezes o remodelamos para nosso benefício, mas isso não significa necessariamente que criamos um mundo insustentável para nós mesmos.”
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Bibliografia
Journal of Archaeological Science
doi.org/10.1016/j.jas.2025.106388
Communications Earth & Environment
Prolonged drought in Rapa Nui during the decline of megalithic monument construction.
DOI: 10.1038/s43247-025-02801-4
Earth
What transformed Easter Island? The answer isn’t what we thought.
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Descobertas Explicam o Colapso Social e Ecológico na Ilha de Pascoa
















