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Atualizado 24 de maio de 2025 por Sergio A. Loiola

Aprovado registro da vacina do Butantan contra chikungunya pela pela Anvisa. Além da vacina, Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP apontam que a Dengue, zika e chikungunya precisam ser controladas de forma integrada. (Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em abril de 2025 o registro da vacina do Butantan recombinante atenuada Ixchiq (VLA1553) contra chikungunya.

A vacina é uma grande conquista da medicina brasileira, teve alta eficácia nos testes, sendo indicada para pessoas a partir de 18 anos e com risco de exposição ao vírus que causa a doença.

Apesar da vacina ser eficaz, pesquisadores da área de saúde. biologia e medicina indicam que a saúde pública precisa tratar de forma integrada as políticas de controle contra doenças transmitidas por mosquito, em especial Dengue, zika e chikungunya, a fim de   fortalecer defesa global.

Em um artigo publicado na Frontiers in Immnulogy, eles afirmam que uma frente unificada não só impede surtos, mas também define políticas para lidar com futuros desafios.

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Aedes aegypti, mosquito transmissor dos vírus da chikungunya, dengue e zika, que prolifera mais nos meses quentes e chuvososMuhammad Mahdi Karim / Wikimedia Commons

Nelson de Oliveira trabalha, eu seu doutorado, na produção de uma vacina para tratar o zika utilizando a plataforma VLP (do inglês virus like particles), que imita a estrutura geral das partículas virais, mas não contém o material genético infeccioso. 

Entre as diversos métodos e estratégias a serem aplicas, além da vacina, estão o contínuo combate a proliferação de vetores, saneamento básico, controle biológico do mosquito e outros.

Veremso a seguir o que indica os pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP

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Segundo os Pesquisadores do ICB da USP, o desenvolvimento de vacinas, controle do Aedes aegypti e redirecionamento de fármacos, entre outras estratégias, são eficazes no controle dessas arboviroses quando feitas de forma simultânea.

Nesse sentido, em um estudo publicado em dezembro de 2023, os pesquisadores analisaram 121 trabalhos sobre as arboviroses mais prevalentes na América Latina.

Distribuição dos arbovírus DENV, ZIKV e CHIKV pelo mundo: O mapa mostra as áreas com distribuição do risco de DENV pelo mundo 
(A) , as áreas com risco de ZIKV  (B) e as áreas de risco de CHIKV (C) . Em (D) , a incidência de DENV é mostrada nos estados brasileiros, 
(E) ZIKV e (F) CHIKV. Mapa do artigo

Na primeira parte, foram abordados temas como a estrutura do vírus, a morfogênese (que é o desenvolvimento das formas e estruturas características de uma espécie), além da patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doenças em um hospedeiro suscetível) e da resposta imune.

As perspectivas para o desenvolvimento de estratégias de controle também foram colocadas em pauta.

Aline Lira, que divide a primeira autoria do trabalho com Nelson de Oliveira, lembra que, depois do pico da pandemia de covid-19, essas doenças voltaram a causar preocupação.

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Ainda não há terapia específica contra as infecções causadas por arbovírus, mas algumas drogas antivirais têm sido usadas para reduzir os sintomas.

Aline Lira, que faz seu doutorado em biotecnologia no ICB e investiga meios de produzir uma vacina contra chikungunya utilizando a plataforma VLP, disse ao Jornal da USP que ficou surpresa com a quantidade de estudos em andamento.

Organização Genômica e Estrutura Viral de Flavivirus e Alphavirus. Os Flavivirus compreendem uma única Estrutura de Leitura Aberta com os genes para as Proteínas Estruturais, seguidos pelas Proteínas Não Estruturais, transcritos e traduzidos, e a poliproteína resultante sofre processamento proteolítico. Os Alphavirus são compostos pelos genes para as Proteínas Não Estruturais, seguidos pelas Proteínas Estruturais, transcritos de duas ORFs distintas, e cada poliproteína resultante sofre processamento proteolítico adicional. A estrutura dos Flavivirus possui vírions maduros com capsídeo (C) e membrana (M) cobertos por 90 dímeros de proteínas (E). As proteínas E exibem três domínios: E-DI (azul escuro), E-DII (azul claro) e E-DIII (verde) ancorados à membrana viral (roxo). O vírion do Alphavirus possui glicoproteínas do envelope em um formato de trímero de 240 dR de E1 (verde escuro), E2 (verde claro) ancorado na membrana lipídica (M) e na proteína do capsídeo (C) (azul). Mostrando heterodímeros interagindo com a proteína do capsídeo. Imagem do artigo

O artigo mostrou os avanços atingidos em certos tratamentos, tais como a cloroquina, a niclosamida e derivados da isatina. Estudos em células e em modelos animais reduziram, de forma significativa, as taxas de transmissão de arboviroses.

O controle do vetor também é citado como uma estratégia bastante eficaz para diminuir a incidência dessas doenças.

Um exemplo bem-sucedido citado pelos autores é o Programa de Controle de Doenças por Arbovírus do Estado de Victória, na Austrália, administrado pelo Departamento de Saúde e implementado por meio de conselhos locais, que atuam para reduzir as doenças transmitidas por mosquitos.

Os vírus mais comuns transmitidos por mosquitos aos humanos naquele local são os vírus Ross River e Barmah Forest.

As infecções causadas por encefalite japonesa, encefalite de Murray Valley e vírus do Nilo Ocidental (Kunjin) são raras, mas têm potencial para causar doenças graves.

Em situações de risco, tomam-se medidas proativas para lidar com surtos, como a orientação da comunidade, utilização de spray de barreira (envolve a aplicação de inseticidas diretamente em possíveis áreas de repouso do mosquito para criar uma barreira protetora que impede a entrada desses insetos em uma área específica)

Alem dessas medidas, a nebulização (técnica em que os inseticidas são dispersos como uma névoa fina ou neblina sobre uma grande área onde os mosquitos adultos estão voando ou descansando).

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Uso de bactéria que bloqueia o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya no vetor. 

Uso de bactéria Wolbachia, presente em 60% dos insetos (mas não no Aedes aegypti) bloqueia o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya no vetor. Imagem Butantan

Outro método adotado por vários países envolve a Wolbachia, presente em 60% dos insetos (mas não no Aedes aegypti) e que bloqueia o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya no vetor. 

Na prática, o que acontece é que são liberados Aedes aegypti “contaminados” com Wolbachia no ambiente, que se reproduzem com os Aedes aegypti locais. 

Aos poucos, uma nova população destes mosquitos surge,  reduzindo a transmissão e combatendo diretamente as arboviroses.

No Brasil, o Método Wolbachia é conduzido pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais. Atualmente, as ações são feitas nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).

Em Niterói, dados preliminares já apontam redução de até 77% dos casos de dengue e 60% de chikungunya nas áreas que receberam os Aedes aegypti com Wolbachia, quando comparado com áreas que não receberam.

Uso de vacinas no Brasil

Produzir um imunizante capaz de induzir a uma resposta imunológica equilibrada e sem muitos efeitos colaterais é um dos desafios que a comunidade científica enfrenta.

Diagrama de cordas com vacina candidata em ensaios clínicos para DENV, ZIKV e CHIKV. O diagrama de cordas empregado neste estudo descreve um círculo central representando o vírus alvo das vacinas, incluindo DENV (verde escuro), ZIKV (vermelho) e CHIKV (amarelo). Os diversos segmentos do círculo são atribuídos a metodologias distintas de desenvolvimento de vacinas: 3 ensaios em VLP (marrom), 5 ensaios em vírus inativados (cinza), 6 ensaios em métodos recombinantes (laranja), 1 ensaio em mRNA (amarelo), 12 ensaios em vírus vivos atenuados (azul) e 1 ensaio envolvendo DNA (vermelho). As fases dos ensaios clínicos são indicadas por símbolos: traço (Fase 1), mais (Fase 2) e asterisco (Fase 3). As vacinas mencionadas no diagrama de cordas estão registradas no banco de dados  ClinicalTrials.gov – National Library of Medicine (EUA).

No Brasil, a Qdenga, uma vacina feita com vírus atenuado contra os quatro sorotipos existentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), foi aprovada pela Anvisa em 2023.

 

A Dengvaxia era o único imunizante disponível até 2023. Ela é vendida na rede privada e recomendada para pessoas de nove a 45 anos que vivem em áreas endêmicas e já tiveram dengue. 

Quando o artigo foi escrito, em agosto de 2023, não havia vacinas disponíveis para tratar a zika e a chikungunya.

Mas em dezembro do ano passado, o Instituto Butantan solicitou o registro definitivo de um imunizante que apresentou 98,9% de eficácia para tratar a chikungunya.

Panorama na Sáude Púlbica

A dengue é a doença causada por arbovírus mais prevalente no mundo: é encontrada em mais de 100 países tropicais e subtropicais.

Como reportado pela Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO), em 2002, mais de 2,8 milhões de casos de dengue foram registrados nas Américas, com 4.697 casos graves e 1.292 mortes.

Em 2023, foram registrados 1.530.940 casos prováveis de dengue no País, e incidência de 753,9 casos para cada 100 mil habitantes. Esses números representam um aumento de 16,5% no número de casos quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

Os casos prováveis de chikungunya notificados foram 143.739 no País (taxa de incidência de 67,4 casos/100 mil habitantes), redução de 41% no número de casos prováveis quando comparado com o mesmo período de 2022.

Houve ainda 8.425 casos prováveis de zika em 2023, ou seja, 4,1 casos por 100 mil habitantes (um aumento de 21% no número de casos em relação a 2022). Não foram confirmados óbitos por zika.

Diante de todo esse panorama, Aline Lira reitera que o controle do vetor ainda é o que realmente funciona, mas sua implementação esbarra na dificuldade de adesão da comunidade.

Política de Uso 

É Livre a reprodução de matérias mediante a citação do título do texto com link apontando para este texto. Crédito do site Nature & Space  

VACINA CHIKUNGUNYA E O CONTROLE INTEGRADO DA DENGUE E ZIKA

Bibliografia

Revista Frontiers in Immnulogy

Integrated control strategies for dengue, Zika and Chikungunya virus infections

Safety and immunogenicity of a live attenuated chikungunya virus vaccine in endemic areas of Brazil: interim results from a phase 3, double-blind, randomized, placebo-controlled trial in adolescents

Jornal da USP

Dengue, zika e chikungunya precisam ser controladas de forma integrada

Mais informações: com Nelson Côrtes de Oliveira, e-mail nelson.cortes@usp.br, e Aline Lira , e-mail aline.llira@usp.br

Pesquisa Fapesp

Vacina contra chikungunya chega ao Brasil

Butantan

Vacina da Chikungunya

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