Atualizado 3 de maio de 2025 por Sergio A. Loiola
Gobekli Tepe é um sítio arqueológico enigmático de construção megalítica, encontrado na atual Turquia, feito há 11,5 mil anos por Sociedades de caçadores-coletores nômades ou seminômades, antes de surgimento da agricultura.
O sítio arqueológico de Gobekli Tepe, com 11,5 mil anos, demonstra que as sociedades no período Neolítico estavam bastante sofisticadas e organizadas, antes que agricultura favorecesse os assentamentos humanos em cidades.
Os numeros e a imponência das construções impressionam mais quando foi descoberto que não havia agricultura na época.
Após a descoberta do sítio arqueologico de Gobekli Tepe vários outros sitios associados aos povos de Gobekli Tepe foram descobertos na mesma região da Turquia. O que indica uma rede de Vilas, comércio de longa distância, rede trocas, e organização social antes da agricultura.
1- Os Pilares são retangulares esculpidos em pedra, de 5 a 20 toneladas;
2- As construções têm com formato circular, Diâmetro de 10 a 30 metros.
3- Existem 16 formações circulares abaixo do nível do solo. Uma sobreposta a outra. Construídas e enterradas no mesmo local após algumas décadas;
4- Os pilares foram decorados com relevos esculpidos de animais e figuras abstratas.

QUAIS OS MOTIVOS PARA A INCRIVEL CONSTRUÇÃO DE GÖBEKLI TEPE, TURQUIA?
QUAL O NÍVEL DE ORGANIZAÇÃO e a mente dos CAÇADORES COLETORES PARA REALIZAR ESSA CONSTRUÇÃO?
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GOBEKLI TEPE: A ANTIGA CONSTRUÇÃO QUE TERIA ‘INVERTIDO’ A HISTÓRIA

Quando o arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a escavar no topo de umacolina turca ele se deparou com algo surpreendente, as construções que descobriu eram fora do comum, até mesmo únicas.
No topo de um planalto de calcário perto de Urfa chamado Göbekli Tepe, que em turco significa “monte com barriga”, Schmidt encontrou mais de 20 cercados circulares de pedra.
O maior tinha 20 m de diâmetro, um círculo de pedra com dois pilares de 5,5 m de altura esculpidos primorosamente no centro.
As colunas de pedra, figuras humanas estilizadas com as mãos juntas, um tanto sinistras, e cintos de pele de raposa, pesavam até 10 toneladas.
Esculpir e erguer estes pilares deve ter sido um tremendo desafio técnico para pessoas que ainda não haviam domesticado animais ou inventado a cerâmica, muito menos ferramentas de metal, e iniciado a agricultura.

As construções tinham 11,5 mil anos ou mais, fazendo delas as mais antigas estruturas monumentais de pedra conhecidas da humanidade, erguidas para servir de abrigo, ou para algum outro propósito.
Após uma década de trabalho, Schmidt chegou a uma conclusão surpreendente.
Schmidt em 2007 trabalhava para o Instituto Arqueológico Alemão, disse que Göbekli Tepe poderia ajudar a reescrever a história da civilização, explicando o motivo pelo qual os humanos começaram a desenvolver a agricultura e viver em assentamentos permanentes.
As ferramentas de pedra e outras evidências que Schmidt e sua equipe encontraram no local revelaram que os cercados circulares haviam sido construídos por caçadores-coletores.
Dezenas de milhares de ossos de animais que foram descobertos eram de espécies selvagens e não havia evidências de grãos ou outras plantas cultivadas na prospecção inical. Mas isso seria alterado com novos achados.
Schmidt achou que esses caçadores-coletores haviam se reunido 11,5 mil anos atrás para esculpir os pilares em forma de T de Göbekli Tepe com ferramentas de pedra, usando a rocha calcária da colina sob seus pés como uma pedreira.
Esculpir e transportar as colunas teria sido uma tarefa hercúlea, mas talvez não tão difícil quanto parece à primeira vista.
Os pilares são esculpidos a partir das camadas naturais de calcário da base do monte.

O calcário é macio o suficiente para ser trabalhado com uma pedra ou até mesmo com as ferramentas de madeira disponíveis na época, com treino e paciência.
E como as formações de calcário da colina eram camadas horizontais com entre 0,6 m e 1,5 m de espessura, os arqueólogos que trabalham no sítio arqueológico acreditam que os antigos construtores tiveram que cortar o excesso das laterais, mais do que da parte de baixo.
Uma vez que um pilar era esculpido, é possível que eles o deslocassem algumas centenas de metros em direção ao topo da colina, usando cordas, vigas de madeira e vasta mão de obra.
Schmidt imaginava que pequenos bandos nômades de toda a região eram motivados por suas crenças a unir forças no topo da colina para projetos de construção periódicos, realizar grandes festas e depois se dispersar novamente.
A interpretação inical acerca da construção de Gobekli Tepe por Schmidt, é que poderia ter sido um centro de rituais, talvez algum tipo de cemitério ou complexo de culto à morte, em vez de um assentamento.
Contudo, após inumeras descobertas no próprio sítio, e na região, as interpretações foram aperfeiçoadas e mudaram.
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A teoria clássica sobre a evolução de sociedades até a civilização foi desconstruída

Os arqueólogos há muito tempo pensavam que rituais complexos e religiões organizadas eram luxos que as sociedades desenvolveram apenas quando começaram a domesticar animais e cultivar plantações, uma transição conhecida como período Neolítico.
A ideia seguia a teoria clássica sobre a evolução de sociedades até a civilização: uma vez que tivessem um excedente de comida, eles poderiam dedicar seus recursos extras a rituais e monumentos.
Göbekli Tepe, segundo Schmidt, virou a linha do tempo da história de pernas para o ar. As ferramentas de pedra no local, respaldadas por datação por radiocarbono, colocaram o sítio arqueológico firmemente na era pré-neolítica.
E Schmidt achava que ninguém morava lá em tempo integral. Ele chamava o local de “catedral em uma colina”. Novas descobertas arqueologicas indicam que Gobekli Tepe seria mais do que um templo ritual.
No entanto, é possivel que rituais complexos e a organização social teriam vindo, na verdade, antes dos assentamentos e da agricultura.
Ao longo de 1 mil anos, a necessidade de reunir grupos nômades em um único lugar para esculpir e mover enormes pilares em T e construir cercados circulares, teria levado as pessoas a dar o próximo passo.
Para organizar regularmente grandes reuniões, elas precisariam ter suprimentos de comida mais previsíveis e confiáveis, domesticando plantas e animais.

Por essa interpretação, os rituais e a religião, ao que parecia, teriam lançado a Revolução Neolítica.
As estruturas circulares de Göbekli Tepe mudaram a forma como os arqueólogos olham para os primórdios da civilização. Schmidt, ao publicar seus relatórios, deixou mundo dos especialistas em arqueologia do Neolítico em alvoroço.
As teorias de Schmidt sobre os impressionantes pilares em T e as enormes estruturas especiais circulares do sítio arqueológico fascinaram seus colegas e jornalistas, quando foram publicadas pela primeira vez em meados dos anos 2000.
Reportagens de tirar o fôlego chamavam o sítio arqueológico de local de nascimento da religião; a revista alemã Der Spiegel comparou as pastagens férteis ao redor com o “Jardim do Éden”.
Logo, pessoas de todo o mundo estavam se aglomerando para ver Göbekli Tepe pessoalmente. Em uma década, o topo da colina foi totalmente transformado.
Até a guerra civil na vizinha Síria que interrompeu o turismo na região em 2011, o trabalho no sítio arqueológico muitas vezes entrava em marcha lenta, à medida que ônibus lotados de turistas curiosos se aglomeravam em torno das escavações para ver o que alguns chamavam de “o primeiro templo do mundo”, tornando impossível manobrar os carrinhos de mão pelas vielas estreitas.
Em 2017, os galpões de aço corrugado foram substituídos por galpões de tela e aço de última geração, cobrindo as construções monumentais centrais.
E uma replica de Gobekli Tepe foi construída no Museu de Arqueologia e Mosaico de Şanlıurfa de Urfa, um dos maiores museus da Turquia.
Uma réplica em tamanho real do maior cercado do sítio arqueológico e seus imponentes pilares em T, permitindo que os visitantes tenham uma ideia das colunas monumentais e examinem suas esculturas de perto.
Göbekli Tepe foi construído há mais de 11,5 mil anos, bem no limiar entre um mundo de caçadores-coletores e um mundo de agricultores
Em 2018, Göbekli Tepe foi adicionado à lista de Patrimônio Mundial da Unesco, e as autoridades de turismo turcas declararam 2019 como o “Ano de Göbekli Tepe”, fazendo do antigo sítio arqueológico o rosto de sua campanha de promoção global.
“Ainda me lembro do sítio arqueológico como um lugar remoto no topo de uma montanha”, diz Jens Notroff, arqueólogo do Instituto Arqueológico Alemão que começou a trabalhar no local como estudante em meados dos anos 2000.
Mudanças nas escavações, turismo e na interpretação dos significados de Gobekli Tepe
Schmidt, que faleceu em 2014, não viveu para ver a transformação do sítio arqueológico, que de uma escavação empoeirada no topo da montanha virou uma grande atração turística.
Mas suas descobertas despertaram o interesse global pela transição Neolítica, e nos últimos anos, novas descobertas em Göbekli Tepe e análises mais detalhadas dos resultados de escavações anteriores começaram a alterar as interpretações iniciais de Schmidt sobre o sítio arqueológico.

As obras para erguer as fundações necessárias para dar suporte à nova cobertura do sítio arqueológico exigiu que os arqueólogos cavassem mais fundo do que Schmidt já havia feito.
Sob a direção de Lee Clare, sucessor de Schmidt, uma equipe do Instituto Arqueológico Alemão cavou uma série de buracos até o alicerce rochoso do sítio arqueológico, vários metros abaixo do piso das enormes construções.

“Tivemos uma chance única”, afirmou Clare, “de examinar as camadas e depósitos mais baixos do sítio arqueológico.”
O que Clare e seus colegas encontraram pode reescrever a pré-história mais uma vez.
Gobekli Tepe na realidade pertencia a uma rede de vilas e casas
As escavações revelaram evidências de casas e assentamentos, sugerindo que Göbekli Tepe não era um templo isolado visitado em ocasiões especiais, mas uma vila próspera com grandes construções especiais em seu centro.
A equipe também identificou uma grande cisterna e canais para coletar água da chuva, fundamentais para oferecer suporte a um assentamento no topo seco da montanha, e milhares de ferramentas de moagem para processar grãos para preparar mingau e fazer cerveja.
“Göbekli Tepe ainda é um sítio arqueológico único e especial, mas os novos conhecimentos se encaixam melhor com o que sabemos de outros sítios históricos”, afirmou Clare.
Desta foarma, as novas descobertas feitas nos últimos anos podem reescrever a pré-história mais uma vez. Pois Gobekli tepe se revelou ser um assentamento de ocupação permanenete, e não apenas um templo ritual como imaginava Schmidt,.
“Era um verdadeiro assentamento com ocupação permanente. Mudou todo o nosso entendimento do sítio arqueológico.”

Enquanto isso, os arqueólogos turcos que trabalham na zona rural acidentada ao redor de Urfa identificaram pelo menos uma dúzia de outros lugares no topo da colina com pilares em T semelhantes, embora menores, que datam aproximadamente do mesmo período.
“Não é um templo único”, disse a pesquisadora Barbara Horejs, do Instituto Arqueológico Austríaco, especialista em Neolítico que não fez parte das iniciativas de pesquisa recentes.
“Isso torna a história muito mais interessante e emocionante.”
O ministro da Cultura e Turismo da Turquia, Mehmet Nuri Ersoy, foi mais longe ao dizer que esta área poderia ser chamada de “pirâmides do sudeste da Turquia”., em anaologia ao siginificado das piramides do Egito, e a maior antiguidade da imponência histórica de Gogekli Tepe.
Novas interperações sugerem que caçadores coletores em Gobekli Tepe tentavam se opor a mudanças
Em vez de um projeto de construção de séculos que inspirou a transição para a agricultura, Clare e outros especialistas agora sugerem que Göbekli Tepe foi uma tentativa de caçadores-coletores se agarrarem a um estilo de vida que desaparecia à medida que o mundo mudava ao seu redor.
Essa mudança era justamante o inicio das experencias com domesticação de animais e plantas.

Evidências da região no entorno mostram que pessoas em outros lugares estavam fazendo experimentações com animais e plantas domesticados, uma tendência à qual as pessoas do “monte com barriga” poderiam estar resistindo.
Clare argumenta que as esculturas em pedra do sítio arqueológico são uma pista importante.
Esculturas elaboradas de raposas, leopardos, serpentes e abutres cobrindo os pilares e as paredes de Gobekli Tepe “não são animais que você vê todos os dias”, diz ele.
“São mais do que apenas imagens, são narrativas, que são muito importantes para manter os grupos unidos e criar uma identidade compartilhada.”
Göbekli Tepe foi construída 6 mil anos antes de Stonehenge e 7 mil anos antes das grandes Pirâmides do Egito, e o significado exato de suas esculturas, assim como o mundo que as pessoas ali habitavam, é complexo, está sendo desvendado aos poucos.
Cada nova descoberta promete mudar o que sabemos agora sobre o sítio arqueológico e a história da civilização humana.
“O novo trabalho não está destruindo a tese de Klaus Schmidt; ele existe graças a ele”, diz Horejs.
“Houve um grande ganho de conhecimento, na minha opinião. A interpretação está mudando, mas é disso que se trata a ciência.”
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GOBEKLI TEPE: A INCRÍVEL CONSTRUÇÃO FEITA HÁ 11,5 MIL ANOS
Bibliografia
Klaus Schmidt Gobekli Tepe
BBC
O mistério da construção mais antiga da história que mudou ideias sobre origem das civilizações
Sítio Arqueológico de Gobekli Tepe